Wipro dobra no Brasil desde 2020 e, com Open Banking, vê espaço para mais
Em entrevista ao IT Forum, Douglas Silva, country manager da multinacional indiana, detalha planos, desafios e aprendizados da empresa no País
A tecnologia e o acesso a ela são desafios vencidos pelo mercado, e a maior dificuldade para empresas brasileiras que buscam se digitalizar, especialmente as grandes, é redesenhar processos e acelerar a transformação digital. Ser um parceiro de serviços estratégico e capaz de ajudar nesse movimento é a pretensão da multinacional indiana Wipro, que desde o começo de 2020 dobrou o número de profissionais no Brasil.
“Nossos mercados principais são, claro, EUA e Europa. [Lá] crescemos em um volume maior”, explica o vice-presidente e country manager da empresa no Brasil, Douglas Silva, em entrevista ao IT Forum. Com passagens por grandes fabricantes como HP e SAP, além de integradores (Capgemini, Tata Consultancy) e provedores de nuvem (AWS), o executivo assumiu o cargo em janeiro desse ano a missão de liderar a principal operação da empresa na América Latina.
“No começo de 2020 tínhamos 2 mil profissionais. Agora temos 4 mil”, diz o executivo, para ilustrar o crescimento da empresa no País. “Também fizemos uma aquisição na metade do ano passado no Nordeste [a cearense Ivia, adquirida em julho de 2020]. Com isso tudo somado praticamente dobramos no Brasil.”
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Segundo Silva, se comparado aos mercados americano e europeu, o brasileiro ainda é pouco maduro, o que significa uma demanda muito forte por transformação principalmente por parte das grandes empresas. Ainda assim é o maior mercado da América Latina e tem forte participação na operação de Américas como um todo, superando México, Chile e Colômbia. O que explica investimentos recentes, como um espaço de coinovação com a Amazon Web Services inaugurado em agosto.
“Vejo uma grande carência no mercado, por conta da escassez de talentos, de bons profissionais qualificados. E a gente busca se diferenciar nesse sentido para atender bem”, diz o country manager, que também aposta em parcerias com grandes fabricantes. Além da AWS, a integradora indiana tem parcerias com fabricantes como Oracle, Salesforce. SAP e Microsoft, entre outros.
Transformação financeira
O foco atual, quando se trata de verticais de negócio, repousa principalmente sobre o setor financeiro – onde estão os maiores clientes da Wipro no Brasil atualmente –, além de bens de consumo e varejo e, por último, saúde. “Nossa participação nas principais indústrias aqui no Brasil é muito parecida, por coincidência, com a participação global. O setor financeiro, que inclui bancos, seguradoras etc, é 33,4% de tudo que fazemos. É um terço”, explica.
Entre os clientes estão principalmente grandes bancos. Mas com a implementação do Open Banking acelerando, o executivo prevê uma abertura do setor que, a longo prazo, deve diminuir a concentração no mercado financeiro brasileiro, abrindo novas frentes de negócio. Mesmo que, ao menos por enquanto, a empresa esteja concentrada no trabalho conjunto com os bancos para a desenvolvimento de soluções que aproveitem os dados abertos.
“Tem sido muito bom. Temos ganho uma experiência importante. A forma de implementar o Open Banking no Brasil tem sido bastante inovadora”, reflete Silva, que também verifica mudanças na forma de trabalhar de instituições clientes, como Bradesco e Itaú. “Os bancos e as empresas estão correndo atrás. Passaram a ser mais exigentes com parceiros estratégicos de tecnologia.”
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Segundo o country manager, se antes os bancos procuravam a Wipro principalmente para reduzir custos, agora buscam o apoio de “cabeças pensantes”, o que também muda a forma de a empresa atuar. “É muito diferente de cinco anos atrás. O cliente espera que a Wipro seja provocativa.”
Além do setor financeiro, o de bens de consumo e varejo tem grande peso no faturamento da Wipro no Brasil: 20% do total (sendo 17% no mundo), energia e utilities 13% (15% no mundo) e saúde 12% (Brasil e mundo).
Desafio dos talentos
Uma empresa que se propõe a ser provedora de serviços e inovação deve ser diariamente desafiada pelo déficit de mão de obra especializada em tecnologia no mercado brasileiro para sustentar essas ofertas. Silva concorda que, sim, esse é o caso da Wipro. O problema “muito grave” e “atrasa o Brasil em termos de modernização”. No entanto, diz, não existe uma única solução.
Uma das iniciativas da empresa, conta o country manager, tem sido buscar talentos para além das regiões Sul e Sudeste. A aquisição da Ivia no Nordeste aumentou a capilaridade da empresa, além de dar acesso a pools de talentos em outras regiões do país, incluindo Fortaleza (CE) e Recife (PE). A empresa também apostou na contratação de pessoas 100% remotas em “qualquer cidade ou local do país”.
Por último vem a formação. Entre abril e julho a Wipro contratou no Brasil cerca de 250 profissionais ainda na universidade ou recém-formados, que depois passam por programas internos de formação específicos. “Queremos treinar esses profissionais e fazer com que eles estejam em projetos o mais rápido possível”, diz.