Embedded Finance: a finança das coisas

Tal e qual a onipresença da internet, futuro dos serviços financeiros também passa pela disponibilidade em qualquer meio conectado

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9:15 am - 21 de setembro de 2022
Imagem: Shutterstock

Você já ouviu falar em embedded finance? Se ainda não conhece o termo, certamente já cruzou com esse conceito de serviço financeiro ao passar por uma calçada e ouvir de um funcionário de loja de roupas a oferta para fazer um cartão de crédito que possa comprar qualquer coisa, além de peças de vestuário. Ou já viu alguma loja de eletroeletrônicos oferecendo a possibilidade de emprestar dinheiro para seus clientes – com juros abaixo dos praticados por bancos.

Quando marcas ou instituições não-financeiras oferecem esses tipos de serviços financeiros, elas estão praticando embedded finance. As “finanças integradas”, em tradução livre do inglês, acontecem quando qualquer tipo de negócio ou comércio integra serviços financeiros inovadores em propostas diferenciadas e experiências para o consumidor, de forma rápida e acessível.

À medida que passamos da era da informação para a da experiência, a próxima revolução digital será a de embedded finance. Um relatório da Mambu estima que a oportunidade global para essa modalidade de serviço deva chegar a US$ 7,2 trilhões nos próximos dez anos – duas vezes o valor somado dos 30 maiores bancos do mundo.

Essas projeções trilionárias foram feitas com base em dados bem reais: a vantagem das finanças integradas a serviços não-financeiros já faz parte da rotina de muita gente, pois permite às empresas não-bancárias oferecer aos clientes serviços financeiros adicionais no momento de decisão de uma compra. Desta forma, eles podem pagar, resgatar, financiar ou assegurar produtos em uma jornada única, contínua e, como tudo na era da hiperconexão, imediata.

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Além disso, é bem mais fácil comprar, financiar e fazer o seguro de uma TV a partir do aplicativo de compras de uma loja com apenas alguns toques na tela. Assim como fechar uma hipoteca por meio do site da corretora, como parte da compra da casa. Ou, ainda, contratar um seguro de saúde enquanto navega em um aplicativo de exercícios.

A Finança das Coisas, assim como a Internet das Coisas, aponta para um futuro no qual qualquer aparelho conectado também poderá ofertar serviços financeiros na velocidade de um toque – afinal, no mundo todo, há mais pessoas com celular do que uma conta no banco: de acordo com pesquisa da FintechOS, dos 2 bilhões de adultos não bancarizados no mundo, mais de um bilhão e meio possuem um telefone celular.

À medida que mais pessoas usam seus celulares para entretenimento, compras e pagar por quase tudo, ganha cada vez mais força a estimativa do Global Payments Report de 2021, da Worldpay, de que as carteiras digitais responderão por 51% do volume de pagamentos no e-commerce até 2024. Com este nível de gastos dos consumidores vinculado ao celular, faz todo o sentido que eles queiram acessar outros serviços financeiros dentro dos aplicativos.

As possibilidades do embedded finance são tão diversas quanto as geradas pela compra e venda de produtos e serviços em ambientes digitais – infinitas. Mas isso não significa que todo varejista ou e-commerce irá se tornar um banco, ou que todo aplicativo poderá aceitar pagamentos. Só mostra que muitos deles terão o potencial de oferecer mais recursos financeiros, permitindo a competição, diferenciação e engajamento efetivo por parte das empresas.

Com esse aumento da demanda por financiamento integrado, bancos e instituições financeiras também ganham uma oportunidade de oferecer produtos para diversos outros setores. O estudo da Mambu estima que o varejo deva responder por quase metade do mercado de embedded finance nos próximos 10 anos, movimentando US$ 3,5 trilhões, enquanto o setor de educação deve alcançar 7% desse mercado no mesmo período com o crescimento dos empréstimos estudantis.

As empresas que puderem facilitar os pagamentos digitais em tempo real ou via crédito instantâneo – bem no ponto de tomada de decisão – com o mínimo de atrito e ótima conveniência, sairão na frente. Para que isso seja possível é preciso investir em novas tecnologias, recursos na nuvem e APIs flexíveis.

Os bancos também precisarão ser muito mais colaborativos, trabalhando lado a lado com fintechs, que podem apenas intermediar ou ser responsáveis por todo o relacionamento com o cliente. Além disso, precisarão de uma infraestrutura capaz de suportar novos modelos de negócios, como o “pague por uso” e capacidades de distribuição B2B2C e B2B2B.

É preciso mais do que uma solução técnica funcional para vencer. Os bancos e demais instituições financeiras que desejam entrar no mercado de finanças integradas precisam de fornecedores com soluções nativas na nuvem dispostos a colocar a mão na massa.

Isso significa ser verdadeiramente colaborativo, possuir plataformas e sistemas abertos e dar acesso às ferramentas e conhecimentos necessários para que os bancos possam gerenciar propostas futuras e melhorias de produtos por conta própria – com baixa ou nenhuma codificação. Também significa questionar os limites: até onde as finanças podem ir e o que podem alcançar?

* Laércio Fogaça é head de solution engineering da Mambu na América Latina 

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