Computação quântica já entusiasma o setor financeiro

Painel no Febraban Tech 2022 discutiu potencialidades futuras da nova tecnologia, com aplicações inclusive para bancos

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12:14 pm - 10 de agosto de 2022
Da esquerda para a direita: Igor Simões, do BB; Waldemir Cambiucci, da Microsoft; Rodrigo Capaz, do LNNano; e Bárbara Amaral, do IF-USP. Foto: Marcelo Gimenes Vieira

Aplicações práticas de computação quântica ainda estão um longe de se tornarem realidade, mas as expectativas do setor financeiro já são atuais. Para os debatedores de um painel específico sobre a tecnologia – que aconteceu durante o segundo dia do Febraban Tech 2022, realizado em São Paulo, capital – o setor financeiro não só pode se beneficiar dos algoritmos quânticos como também já é apontado como um grande financiador de pesquisas.

“É uma área que está aberta a ser explorada”, explicou Igor Regis Simões, gerente executivo de TI do Banco do Brasil. “O desafio agora é desenvolver métodos e algoritmos. A indústria financeira e bancária já criou ao longo das décadas algoritmos para resolver problemas [quânticos] dentro do que é possível – nós simplificamos a realidade para [poder] analisá-la.”

A partir desse argumento, Simões diz que os computadores quânticos poderão dispensar a necessidade de simplificação ou “poda da realidade” exigida pelos sistemas tradicionais, ou “pelo menos [chegar] mais perto dela” para assim analisar problemas complexos e mais próximos dos reais. Segundo ele, algoritmos quânticos darão aos clientes do setor bancário serviços “melhores e mais eficientes”, além de “levar a modelagem de produtos a nível de personalização que hoje não é viável”.

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No entanto, admitiu o executivo do BB, desenvolvimento de aplicações em computadores de fato quânticos ainda vai levar tempo. O próprio Banco do Brasil tem programas de incentivo de mestrado e doutorado para funcionários, e um tema de pesquisa que tem sido incentivado é justamente a computação quântica.

“Só que o termo ‘computação’ acaba atrapalhando um pouco o interesse. O momento está muito mais para matemáticos e estatísticos [do que para cientistas de computação]”, refletiu Simões. “São profissionais que estão no setor financeiro e vale a pena desenvolver pesquisa para criação de uma nova classe de algoritmos. Seja para executar em máquinas de pouco qubits ou para as próximas gerações que forem surgindo.”

Esse investimento em pesquisa básica, no entanto, deixa “qualquer empresa um pouco desconfortável, em qualquer setor, principalmente no financeiro”, admitiu o executivo, que ressaltou a importância do investimento em pesquisa. E que de qualquer forma já é possível experimentar alguns recursos quânticos em frameworks híbridos já disponíveis. Em inteligência artificial, por exemplo.

Longa história de desenvolvimento

Rodrigo Barbosa Capaz, diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), reiterou alguns limites da computação quântica. Primeiro que “não se espera que o computador quântico seja uma panaceia, ou resolva melhor que computadores tradicionais problemas em todas as áreas”, ou seja, há aplicações específicas que tirarão proveito de sistemas quânticos.

Para o setor bancário, disse o pesquisador, a criptografia – e por tabela a segurança da informação – deve oferecer grande avanço devido a capacidade de fatorização de números inteiros. E, por outro lado, há uma preocupação na facilidade que os sistemas quânticos podem ter para “crackear” a segurança atual dos bancos. Isso tem trazido não só preocupação, mas também impulsionado investimentos em pesquisa.

Outras áreas apontadas por Capaz como promissoras são a simulação quântica, que tem a ver com o desenvolvimento de novas moléculas para fármacos e práticas agrícolas, por exemplo. Inteligência artificial também deve ganhar impulso.

Waldemir Cambiucci, diretor e chefe de tecnologia do Microsoft Technology Center de São Paulo, lembrou que a computação quântica não é necessariamente uma novidade. A previsão desses sistemas foi feita há pelo menos 40 anos, pois desde os anos 1980 existe a provocação de estudar a natureza usando dispositivos quânticos.

“Porque a natureza é quântica, não é binária”, disse ao público. “Existe um novo modelo computacional nascendo, e nos últimos 30 anos todas as indústrias estão estudando onde usar um computador quântico, ou um algoritmo quântico, que já posso simular porque já tenho um modelo, então já sei como funciona.”

Cambiucci ressaltou que há uma corrida para validar um hardware quântico comercialmente viável, e que quando esses equipamentos existirem e forem capazes de rodar algoritmos desenvolvidos ao longo dos últimos 40 anos de pesquisa, “aí vem a disrupção”.

O problema, lembrou Bárbara Lopes Amaral, professora e pesquisadora do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), é que “todas essas potencialidades [da computação quântica] ainda estão bem longe de realmente implementar em hardware”. Mas que pode surgir em breve “alguma invenção disruptiva [capaz de]levar à essa realidade”.

O que há de realmente aplicável agora, lembrou a professora, é o que está dentro de um campo maior que a computação quântica e chamado de “informação quântica”. Dentro dele estão, por exemplo, muitos protocolos de criptografia que podem ter grande impacto no setor financeiro.

“Isso está muito mais próximo de implantações reais que não depende do computador quântico”, disse, lembrando que esses protocolos já foram inclusive usados em testes de transmissão de informações via satélite e até no setor bancário suíço.

Outra forma de acelerar a chegada do mundo quântico ao mercado de tecnologia, lembrou Cambiucci, é que essas soluções vão conviver com computação tradicional, ou seja, serão híbridas. Mas que nos últimos anos milhares de artigos acadêmicos tem explorado formas de evoluir o hardware quântico e reduzir os erros decorrentes dessa forma de processamento e, finalmente, resolver problemas reais.

“Quando vou ter isso? Essa é a grande pergunta. A expectativa é que nessa década cheguemos a computadores comercialmente viáveis”, disse.

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Marcelo Gimenes Vieira

Jornalista com mais de 13 anos de experiência nos setores de TI, inovação, games, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios.

É fundador do The Gaming Era, primeiro portal brasileiro de notícias de negócios com foco no mercado de jogos eletrônicos, os games.

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