Infraestrutura de TI também precisa evoluir para apoiar a sustentabilidade
Durante o IT Forum Trancoso, lideranças da indústria de tecnologia abordaram infraestrutura sustentável, IA e papel da comunicação
Durante o IT Forum Trancoso, as discussões sobre sustentabilidade estão diretamente ligadas à evolução de processos e ao engajamento de pessoas. A tecnologia, no entanto, não pode ficar para trás. É preciso reconhecer o impacto que a infraestrutura de TI ainda tem no meio ambiente e buscar sua evolução.
Este foi o tema central da plenária de abertura do terceiro dia do evento, que reuniu lideranças de empresas de tecnologia para debater como redefinir o sucesso na era da sustentabilidade, combinando resultados econômicos e socioambientais.
“Quando a gente pensa em data centers, eles são glutões. É quase uma indústria extrativista, nós usamos água, energia elétrica e recursos naturais”, refletiu Ricardo Fernandes, head do Google Cloud Brasil. Reconhecer essa realidade é um passo para adotar tecnologias que reduzam esse impacto, promovendo uma transformação positiva na sociedade.
IT Forum Trancoso: pessoas e tecnologia são pilares em keynote de abertura
Fernandes, que assumiu a liderança da empresa de infraestrutura do Google no Brasil há quatro meses, pontuou que a sustentabilidade foi um valor da companhia desde sua fundação e que busca “intencionalidade no enfrentamento” da questão ambiental junto aos clientes. Os planos da companhia incluem rodar sua estrutura em grids livres de carbono, incluindo energia eólica e solar, até 2030. A empresa também busca repor 120% do volume de água doce consumida por seus escritórios e data centers até o mesmo ano.
“O projeto de sucesso não é só levar o cliente para a nuvem. É quando você consegue, junto com o cliente, impactar a sociedade”, disse. “Cada empresa tem, obviamente, sua iniciativa, mas elas têm que ter um protagonismo. A junção das marcas consegue impactar muito mais.”
Diego Puerta, presidente da Dell Brasil (Imagem: IT Forum/ Playpbrasil)
André Fatala, vice-presidente de Tecnologia do Magalu, também abordou o desafio da TI. No final do ano passado, a gigante nacional de varejo entrou na disputa pelo mercado de infraestrutura de nuvem com o lançamento da Magalu Cloud. Com um foco grande na soberania de dados e na oferta regional de poder computacional, a companhia destacou seu foco na sustentabilidade a partir de estruturas que vão além do eixo do Sudeste.
“Muitas das regiões estão concentradas no Sudeste. Nós tivemos um projeto para construir uma região no Nordeste. O Nordeste é um dos principais geradores de energia renovável no país”, explicou. “Tivemos o ponto do negócio, que é oferecer uma latência baixa para empresas que rodam no Nordeste, mas também tivemos a discussão sobre a possibilidade de utilizar uma energia mais limpa”, explicou.
O executivo também destacou todos os avanços já obtidos até hoje na evolução do hardware de infraestrutura para se obter mais eficiência energética e lembrou que esse progresso só continuará no futuro.
“O que temos hoje talvez seja a tecnologia com a pior performance já produzida na história. A tendência é que, ao longo do tempo, se aperte mais o parafuso para buscar maior eficiência na utilização para os negócios”, afirmou.
Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil, destacou a otimização através de IA como uma estratégia importante para se obter mais ganhos de eficiência energética no setor de infraestrutura. O líder da Oracle no país reforçou que a companhia começou tarde no mercado de nuvem, mas isso permitiu adotar novas tecnologias que não estavam disponíveis quando o mercado surgiu.
“Olhamos muito para otimização e automação. Temos muita inteligência artificial dentro das ferramentas que trazem processamento de dados mais eficiente e, consequentemente, menor consumo de energia”, narrou. Até 2025, a empresa também espera que 100% de suas regiões de data center sejam carbono neutro.
Oana Branzei, professora de Estratégia e Sustentabilidade da Ivey (Imagem: IT Forum/ Playpbrasil)
Do lado de produtos voltados para consumidores finais e usuários empresariais, a fabricante Dell Technologies também está explorando novas possibilidades mais sustentáveis de computação. Diego Puerta, presidente da Dell no Brasil, discutiu o “Conceito Luna”, projeto que deve orientar o futuro dos computadores produzidos pela companhia que apostam na modularidade para serem mais sustentáveis e fáceis de reparar.
“Hoje, quando a gente olha os notebooks do mercado, eles são completamente integrados. Quando estraga um componente, você tem que trocar tudo. São equipamentos difíceis de abrir e de fazer manutenção”, explicou. “Nesse novo conceito de design, todos os itens são redesenhados e reutilizáveis, então o índice de sustentabilidade é muito grande.”
Além de componentes de hardware desenhados com foco na modularidade, o conceito emprega tecnologias de software, como telemetria e diagnóstico remoto, para otimizar e até prever a manutenção necessária, simplificando e gerando mais eficiência ao processo de troca de componentes. “O Concept Luna é, direcionalmente, para onde vamos no desenvolvimento de produtos”, anotou Puerta.
Parcerias, comunicação e a IA regenerativa
Durante sua fala, Lara Liboni, brasileira que é professora associada de estratégia e sustentabilidade da escola canadense de negócios Ivey, reforçou a responsabilidade das organizações no processo de transição para um futuro mais sustentável.
“Enquanto organizações, nosso papel é resolver problemas”, afirmou. “Só que os problemas de ontem são diferentes dos de hoje. Os grandes desafios que temos hoje na humanidade estão ligados ao tripé de conectar geração de riqueza com desenvolvimento social e preservação do meio ambiente.”
Lara Liboni, professora associada de estratégia e sustentabilidade da Ivey (Imagem: IT Forum/ Playpbrasil)
Lara resgatou ainda o 17º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), que versa sobre a importância de parcerias globais e meios de implementação, como uma das estratégias fundamentais para a adoção de práticas mais sustentáveis por empresas. “É impossível resolver problemas complexos sem parcerias. É preciso trabalhar juntos para criar soluções de impacto sistêmico”, anotou.
André Ferreira, head global de Plataformas Digitais da Stellantis, resgatou o ponto quando falou sobre a busca da companhia não só por práticas sustentáveis internas, mas também uma rede de parceiros mais sustentável. “A estratégia da empresa tem que permear todos, desde o investidor até o estagiário”, pontuou. “Hoje, o ESG é uma meta corporativa da empresa. Não é algo fácil, mas ajuda.”
Veja também: Desenvolvimento tecnológico e progresso social precisam de equilíbrio
Em uma conversa com Ferreira e Marco Bravo, CEO da Sigma, Rafael Tobara, CIO do Grupo Elfa, também falou sobre a importância da conscientização vertical sobre o tema. O executivo destacou o programa de intraempreendedorismo “Elfa Ideias”, que desafia todos da organização a desenvolverem iniciativas que impactam o negócio e os processos. No ano passado, o ESG foi pauta do desafio.
Andre Souza Ferreira, vice-presidente e head global de Plataformas Digitais da Stelanttis, Rafael Tobara, diretor-executivo de TI, Digital, Inovação e Customer Experience do Grupo Elfa (Imagem: IT Forum/ Playpbrasil)
“Uma das coisas que a gente precisa para ter uma empresa sustentável é fazer com que todas as pessoas conheçam o que significa as siglas do ESG”, destacou. “Este é um programa de inovação muito legal porque cria pequenas coisas, mas que geram impacto.”
Já Oana Branzei, professora de Estratégia e Sustentabilidade da Ivey, voltou a atenção para o tema da Inteligência Artificial (IA). Na sua avaliação, a IA deve ser “regenerativa”, não apenas “generativa”.
A leitura da pesquisadora vem na esteira da definição, pelo Fórum Econômico Mundial, de que será impossível termos uma economia sustentável sem que ela também seja regenerativa. “A menos que cuidemos de toda a vida na Terra e de todos os sistemas sociais e ecológicos que estão à beira do colapso, não poderemos gerar ou sustentar o valor do qual dependem as gerações futuras”, explicou.
Para Oana, o futuro depende de quão bem as propriedades da inteligência artificial regenerativa estarão alinhadas com a sustentabilidade. “Sabemos que ela é escalável para mais ou menos, economiza recursos e minimiza o desperdício. Mas a propriedade mais poderosa da IA regenerativa para mim é que ela aprende com seus próprios erros”, continuou. “Sem inteligência artificial regenerativa, não teremos o desafio saudável de aprender com nossos erros e tornar o futuro regenerativo.”
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!
Rafael Romer é repórter do IT Forum. É bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Tem mais de 12 anos de experiência na cobertura dos segmentos de TI, tecnologia e games, com passagens pelo Olhar Digital, Canaltech, Omelete Company, Trip Editora e IG.