Desenvolvimento tecnológico e progresso social precisam de equilíbrio
No último painel do segundo dia do IT Forum Trancoso, executivos de grandes empresas relacionaram pessoas e inovação tecnológica
O segundo dia do IT Forum Trancoso 2024 encerrou com a forte presença de executivos discutindo o tema “Onde a tecnologia encontra a humanidade”. Durante o painel, Carolina da Costa, Chief Impact Officer da Stone, destacou a complexa relação entre desenvolvimento tecnológico e progresso social. “Embora possamos prever o avanço tecnológico de forma exponencial, o impacto social desses avanços é menos previsível e repleto de nuances que exigem nossa atenção”, explicou.
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Ela citou a teoria dos sistemas dinâmicos para explicar como intervenções que parecem benéficas no curto prazo podem, inadvertidamente, criar problemas no longo prazo. Este entendimento é crucial para moldar estratégias que sejam verdadeiramente sustentáveis e benéficas para a sociedade como um todo.
Um dos grandes temas abordados por Carolina foi o desafio atual de garantir que a tecnologia não apenas crie riqueza, mas também promova a inclusão social e econômica. Ela discutiu o conceito de “arquétipos de sistema”, que explica como certas dinâmicas sistêmicas podem limitar o crescimento econômico e social se não forem adequadamente gerenciadas.
A solução, segundo Carolina, reside nas “inovações criadoras de mercado”, uma ideia popularizada pelo teórico Clayton Christensen. Essas inovações não apenas introduzem produtos e serviços, mas também abrem mercados inteiramente novos, trazendo consumidores anteriormente marginalizados para a economia formal.
A executiva encerrou sua apresentação com um chamado à ação para todos os líderes e inovadores tecnológicos presentes. “Não se trata apenas de desenvolver novas tecnologias, mas de como as aplicamos para resolver problemas reais de maneira que beneficie toda a humanidade”, finalizou.
A discussão continuou com um painel marcado pela presença de líderes influentes do setor tecnológico. Rodolfo Eschenbach, presidente da Accenture para Brasil e América Latina, e Cesar Gon, fundador e CEO da CI&T, debateram sobre as capacidades transformadoras e os desafios éticos das novas tecnologias sob a moderação de Miguel Petrilli, presidente do conselho de administração do IT Forum.
A revolução tecnológica é real?
O debate foi aberto com uma questão provocativa sobre se estamos realmente vivendo uma revolução tecnológica ou apenas experienciando um hype momentâneo. Cesar Gon compartilhou sua visão, mencionando que, embora existam avanços significativos, muitas das transformações radicais previstas por otimistas da tecnologia ainda estão distantes. “Estamos superestimando o que a tecnologia pode fazer no curto prazo e subestimando seu impacto a longo prazo”, explicou.
Rodolfo Eschenbach, por outro lado, destacou a adoção massiva da tecnologia no cotidiano das pessoas e nas operações empresariais como prova de que a revolução já está acontecendo. No entanto, ele enfatizou a necessidade de governança e ética robustas para evitar abusos e consequências negativas, especialmente no uso corporativo de tecnologias emergentes.
A discussão também se aprofundou na necessidade de uma abordagem equilibrada para inovação que considerasse capacidade, velocidade e ética. “Não estamos apenas falando de criar tecnologias mais avançadas, mas de fazer isso de maneira responsável e ética”, destacou Gon. Ele ressaltou a importância da transparência e da governança de dados em um mundo onde a tecnologia desempenha um papel central nas decisões empresariais e sociais.
O futuro do trabalho e a requalificação profissional
Ambos os líderes concordaram que uma das maiores preocupações com a adoção tecnológica rápida é o deslocamento de empregos, também conhecido como “job displacement”. Eschenbach argumentou que a tecnologia está substituindo funções baseadas em tarefas repetitivas mais rápido do que novos empregos são criados, um fenômeno que requer atenção para requalificação profissional e educação adaptativa.
O ponto central do painel foi a discussão sobre o futuro do trabalho e as mudanças necessárias na força de trabalho atual. Eschenbach e Gon debateram estratégias para preparar os trabalhadores para um mercado cada vez mais automatizado e tecnológico, sublinhando a necessidade de políticas educacionais e corporativas que priorizem a requalificação e a adaptação contínua das habilidades dos trabalhadores.
Para finalizar a noite, o último conteúdo foi com Auana Mattar, CIO da TIM, João Alvarenga, diretor-executivo de TI e Digital do Grupo Fleury e Carlos Augusto Barreto, CIO da Petrobras. O tema central foi como essas lideranças estão integrando considerações humanas nos seus processos de negócio altamente tecnológicos.
Carlos Augusto Barreto, da Petrobras, destacou a transição da empresa de uma companhia de óleo e gás para uma companhia de energia, refletindo um compromisso maior com a sustentabilidade e a responsabilidade social. “Transformamos nosso estatuto para apoiar a transição energética, mostrando que, além de uma fonte de energia, somos financiadores da inovação para sustentabilidade no Brasil” explicou Barreto. Há um contrassenso quando se fala de uma empresa de uma empresa de exploração, mas o executivo afirma que “a exploração responsável vai ser a grande financiadora da transição energética”.
Equilibrando tecnologia e humanidade na TIM
Já Auana Mattar abordou o desafio de manter a humanidade no setor de telecomunicações, uma indústria notoriamente automatizada e digital. “Apesar da digitalização, temos um compromisso constante em humanizar nossas interações. Usamos tecnologia para entender melhor nossos clientes e personalizar serviços, o que nos permite manter um equilíbrio entre eficiência e satisfação do cliente,” disse Mattar.
Digitalização no cuidado à saúde pelo Grupo Fleury
João Alvarenga discutiu como o Grupo Fleury está digitalizando seus serviços sem comprometer o cuidado humano essencial no setor de saúde. “Nossa abordagem é usar a tecnologia para melhorar a eficiência e precisão dos cuidados, garantindo ao mesmo tempo que permanecemos sensíveis e atentos às necessidades individuais dos pacientes,” comentou Alvarenga.
Os executivos compartilharam também os desafios e aprendizados em suas jornadas para integrar tecnologia e humanidade. Enfrentam a constante necessidade de balançar inovação tecnológica com implicações éticas e humanas, buscando sempre aprimorar a experiência do usuário final sem perder de vista o impacto social de suas ações.
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