Sergio Bueno: CIO tem conhecimento para empreender

Executivo premiado, Bueno fundou startup que produz ERP para locadoras de equipamentos – e que cresceu 10 vezes em cinco anos

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2:35 pm - 24 de fevereiro de 2021
Sergio Bueno, CEO da Ótimo Gestor

Se o que se espera atualmente de um CIO é que tenha uma visão ampla dos negócios em que atua, talvez seja natural supor que esse executivo também se torne com mais frequência dono da própria empresa. Sergio Ricardo Bueno segue essa lógica. Durante 25 anos foi executivo de TI em grandes empresas, incluindo Siemens Healthcare e Grupo MCassab.

Capitaneou projetos de implantação e desenvolvimento em TI, tendo sido premiado por alguns deles – inclusive como Executivo de TI do Ano pela IT Mídia, em 2013. O reconhecimento e a carreira estável não o impediram de arriscar e empreender: fundou em 2015 com os amigos Marco Antônio Salera e Rafael Rosa a Ótimo Gestor, desenvolvedora de um software gestão específico para locadoras de equipamentos. Atualmente é o CEO da empresa.

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Encontrou clientes entre lojas de materiais de construção, locadoras de notebooks e impressoras e até a rede de choperias da Ambev. O IT Forum conversou com Bueno sobre a guinada na carreira, as dificuldades de estar “do outro lado da mesa” e o preparo dos CIOs para empreenderem.

Confira os melhores momentos da conversa:

 

IT Forum: Primeiro queria perguntar da Ótimo Gestor: quando e por que surgiu a ideia da empresa?

Sergio Bueno: Sempre tive vontade de abrir um negócio próprio. Há cinco anos aproximadamente surgiu a ideia de montar a Ótimo Gestor. Ela vem de uma sociedade com dois amigos. O objetivo era trabalhar no mercado de bens compartilhados. Ela surgiu para suprir uma lacuna do mercado para essas empresas, que precisavam de um software de gerenciamento.

 

ITF: E que lacuna era essa?

Bueno: Eu sempre fui muito sonhador com relação a nuvem. PaaS, XaaS etc. Essa sigla nem era muito utilizada. E esse mercado é latente em muitos segmentos, inclusive empresas de locação. Viemos com essa pegada. Quando você pega uma Totvs, SAP ou Senior, eles atendem clientes de grande porte. E tinha um gap enorme nos pequenos. É um mercado muito grande que tem o apelo da sustentabilidade. Os jovens estão vindo com essa pegada. Então já nascemos como um ERP barato, sem pagamento de licença ou hospedagem, é tudo em nuvem.

 

ITF: De que tipo de locações estamos falando?

Bueno: São cinco segmentos em que trabalhamos. O primeiro é o mercado de TI. Temos mais de 100 clientes que alugam notebooks, impressoras etc. Outro é o médico. Empresas de grande porte, como Siemens e Bayer, mas também um segmento de empresas menores. O terceiro é o de construção civil, onde estamos apostando mais. Na pandeia foi um dos que mais cresceu. O quarto é o de eventos, que caiu agora. Mas o nosso maior cliente é a Ambev. Quase 180 lojas usam o sistema da Ótimo para gerenciar locação de chopeiras. O Brahma Express é integrado com o nosso ERP. Por último equipamentos de mobilidade. Um dos nossos grandes clientes é a BRMobility, que trabalham com diciclos elétricos para seguranças de shoppings e estacionamentos. Atendemos também empresas de locação de geradores e empilhadeiras. É um segmento bastante grande.

 

ITF: Locadoras costumam ser pequenas empresas. Qual o potencial desse mercado, na sua opinião?

Bueno: Tem muito para crescer. Entramos no segmento de eventos, que foi atrapalhado pela pandemia, mas ele tem muito espaço para crescer. O segmento médico também. Há clínicas dentarias sendo montadas com tudo alugado. Está crescendo em todas as áreas a questão da locação, que é transformação cultural. Quando a Volkswagen passa a alugar carros direto para o consumidor sem passar por locadora… Qual o potencial disso? [A fabricante de carros alemã lançou um modelo baseado em assinaturas no Brasil em novembro de 2020.]

 

ITF: E o produto da empresa é basicamente um ERP?

Bueno: É um ERP, igual a qualquer ERP de mercado. Todo modular. Dentro dele tem o CRM, o financeiro, o faturamento, estoque. E dois módulos, contratos e serviços, que são nossos carros-chefe. Eles são as meninas dos olhos.

 

ITF: A bilhetagem é por tamanho de empresa?

Bueno: Basicamente por número de usuários. Temos pacote para 3, 5 e 10 usuários. Mas temos clientes com 50 usuários. Nosso maior cliente, sem contar a Ambev, tem mais de 500 usuários, mas aí a bilhetagem é um pouco diferente. Mas normalmente é por usuário.

 

ITF: Eu soube que vocês estão preparando novidades para o portfólio. Conta um pouco.

Bueno: Lançamos o Eloca no começo do ano. É um portal de locação, inicialmente comercializado no B2B. [Pensado para] Quem tem a plataforma da Ótimo e pretende ter um e-commerce. Ele faz cálculo de seguro, fretes e outras coisas relevantes no segmento. Nossa ideia é lançar um market place no B2B e no B2C. Para que qualquer um possa alugar ou disponibilizar um equipamento que tem em casa. O mundo da locação está crescendo demais. Na China é muito comum, o mercado é muito forte. E nós acreditamos que estará em todas as áreas. Estamos tentando nos tornar autoridades nesse segmento, ajudando quem já é cliente e também quem só quer ter uma plataforma de locação.

 

ITF: Quantas pessoas estão no time da empresa atualmente?

Bueno: Temos 50 funcionários. Começamos com quatro pessoas: os sócios e um suporte. Crescemos mais de dez vezes. Começamos com 20 clientes e hoje temos perto de 800. Uma média de 5 mil usuários usando o sistema. A sede fica em Santo André (SP). Uma coisa bem legal é que nesse período de cinco anos já tínhamos mudado de sede três vezes por causa do crescimento. Agora decidimos que precisávamos ir para um lugar em que pudéssemos ficar por muitos anos. Conseguimos um galpão em Santo André com 1.200 m². Um dos nossos objetivos é encubar empresas. Estamos chamando de “galpão da inovação”.

 

ITF: Você considera a Ótimo uma startup?

Bueno: Eu me considero uma startup. Estamos nessa pegada. No início tivemos um investimento anjo em que eu fui o anjo. Eu coloquei dinheiro no começo. Quem muda de lado na mesa não é fácil. Todas as nossas economias de vida são colocadas para conseguir [fazer o negócio] virar. Procuramos aportes de investidores. Não achamos, fomos seguindo.

 

ITF: Aproveitando que você introduziu o assunto, como foi para você essa transição de CIO para CEO? Foi difícil?

Bueno: Sair de CIO de uma empresa para fazer o próprio negócio dar certo não foi das tarefas mais fáceis. Hoje sou o CEO da empresa. Primeiro vem as skills de um CEO. Eu cuidava de uma área, hoje cuido de uma empresa. Eu cuidava do dinheiro dos outros e agora arrumo [dinheiro] para pagar todo mundo. E ser empresário no Brasil não é das coisas mais fáceis. Tem que ser bem resiliente. A maior dificuldade foi saber viajar no mundo financeiro, pessoal, marketing. Tem que criar tudo isso. Sempre brinco com meus amigos que o que mais sinto falta no momento é, primeiro, dinheiro. Tem que saber lidar com isso. Claro que as coisas estão mudando a cada ano, já temos o break even [equilíbrio financeiro] da empresa. E a segunda coisa é o glamour da TI. Era muito interessante participar de eventos. O mundo da tecnologia é bacana, a inovação, os eventos. E quando você vai para o outro lado da mesa é um pouco deixado de lado. Isso foi complicado de entender depois de 25 anos falando com fornecedores.

 

ITF: E qual seu grande objetivo como empreendedor?

Bueno: Quando fazemos nosso planejamento estratégico, nunca fazemos de forma financeira. Fazemos com famílias. Nossa grande meta é ter 100 famílias trabalhando na empresa. E em alguns programas internos que criamos para apoiar jovens. Lançamos um interessante, o “Vamo Junto Parça”, para menores aprendizes. E o meu… Eu tenho 50 anos. Lógico que quero vencer como empresário, mas mais como família, ajudando o próximo.

 

ITF: Você teve uma carreira longa como CIO. Quais foram suas maiores conquistas?

Bueno: Foram 25 anos como diretor e gerente de TI. Passei pela Siemens Healthcare e depois pelo grupo M.Cassab. Foram várias conquistas, ganhamos prêmios, inclusive alguns da IT Mídia. Mas nos últimos cinco anos, principalmente nos últimos três, conseguimos um crescimento de dez vezes da empresa [a Ótimo Gestor]. E foi um baita orgulho.

 

ITF: E como você vê os CIOs de hoje? Estão cada vez mais pressionados?

Bueno: Entre as mudanças de posicionamento das áreas, a que teve mudou com certeza foi a TI. Não tenho dúvida de que o CIO é estratégico nas empresas. Não é uma TI bimodal, é multimodal. Não é só aquela que cuida de processos e hardware, ela passou a conhecer o negócio. É aquela TI que alavanca negócios. Isso se firmou mais com a pandemia, e mostrou que já estávamos preparados. A TI se reinventou. Se oito anos atrás falavam que o CIO ia acabar, hoje o vejo como um dos papéis mais importantes. São pessoas que se preparam muito. E, posso falar por mim, fui um CIO que trouxe para o próprio negócio todas essas skills que embasavam. E muitos CIOs estão preparados para isso. É legal estar do outro lado da mesa. Deu certo. Vale a pena arriscar. Não precisa ter medo, o CIO tem muito conhecimento e tem espaço.

 

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