Migração para a nuvem não é apenas questão tecnológica

Além da localização física de servidores, aplicações ou dados, mudança bem-sucedida depende de nova mentalidade

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8:15 am - 03 de março de 2022

A nuvem ganhou protagonismo nos últimos anos. Estratégia fundamental para a jornada de transformação digital das organizações, conquistou ainda mais destaque durante a pandemia, quando muitas empresas buscaram a solução para manter os negócios. De acordo com estudos do Gartner, em 2020, pela primeira vez o mercado de software de aplicações corporativas em nuvem foi maior do que o mercado sem nuvem.

Para este ano, a computação em nuvem será responsável por quase todo o crescimento de gastos no segmento de software corporativo, representando cerca de 11%. Até 2025, a estimativa é que esse negócio represente o dobro do tamanho daquele fora do universo cloud.

Embora esse seja sim o caminho para o presente e para o futuro, a migração para a nuvem requer atenção das companhias. Isso porque vai além da localização física de seus servidores, aplicações ou dados. Para a maioria das empresas bem-sucedidas, também tem a ver com uma mudança de mentalidade. Para se beneficiar da resiliência, da escala, eficiência e do engajamento que a computação em nuvem proporciona, as organizações precisam, inicialmente, saber aonde querem chegar.

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Olhar para nuvem só como um espaço de redução de custos não é o bastante para quem espera inovar, automatizar e remodelar processos. Além disso, conseguir fazer com que os colaboradores se envolvam nessa transição é parte essencial para a adoção da nuvem. Estudo da IDC mostra que 49% das companhias não têm abordagem clara de modernização de aplicações e pelo menos 22% pensam em levar suas aplicações como estão para a nuvem, o que não é aconselhável.

Transformação integrada

A transição para a nuvem pode ser aproveitada para fortalecer a mentalidade DevOps da empresa. Utilizando os princípios da metodologia de desenvolvimento de software Agile – como o ciclo infinito de planejamento, construção, implantação, operação e monitoramento –, o DevOps é um conjunto de práticas que combina o desenvolvimento de software (dev) e operações de TI (ops) para reduzir o ciclo de vida de desenvolvimento de sistemas ao mesmo tempo em que se produz software de alta qualidade.

Assim como o desenvolvimento de software com DevOps, a jornada na nuvem não tem um início e um fim determinados. Em vez disso, alimenta e nutre uma cultura corporativa que valoriza a melhoria e a mudança contínuas por meio de altos níveis de colaboração e integração, usando uma ou mais nuvens como o veículo do sucesso. É um desafio humano que demanda ferramentas e técnicas apropriadas para tornar tais projetos mais interativos, e fazer com que os participantes entendam rapidamente os requerimentos para definir e criar produtos digitais, transformação digital e aplicações e planos de modernização.

Migrações malsucedidas para a nuvem normalmente começam de forma isolada, incentivadas por membros importantes da empresa, mas sem um plano de negócios robusto ou experiência na nuvem. Também são marcadas pela falta de conhecimento dos impactos da modernização e da migração, e de possíveis técnicas para efetivá-la da maneira correta.

Da tecnologia à cultura

Há aspectos importantes da migração, como a documentação disponível, envelhecimento dos códigos, classificação dos dados, arquitetura, dependências de cargas de trabalho, redes, monitoramento e segurança que precisam ser divididos em buckets de condutas de migração diferentes, incluindo lift and shift, replataforma, refatoração, manter “as-is” ou substituição, que podem ser destacadas em um Plano de Migração para a Nuvem.

Estas decisões de migração precisam ser precedidas de uma avaliação adequada do portfólio para entender as aplicações atuais, identificar a viabilidade da migração de nuvem e casos de uso. Com essa análise, o CIO da organização e demais tomadores de decisão estarão mais confiantes para autorizar a execução do Plano de Migração de Nuvem.

As migrações bem-sucedidas seguem esse passo a passo, fornecendo a justificativa e as explicações adequadas para a necessidade da mudança. As diferentes etapas também ajudam a esclarecer quais os benefícios para a organização e impactam diretamente os clientes, que podem tomar as melhores decisões de investimentos para o fornecimento de serviços de nuvem.

Para a migração ser efetiva, também é necessário ter o suporte de um plano de adoção de nuvem em fases, que vai retratar todos os passos necessários para o sucesso digital. A ideia é começar com uma migração piloto. Os pilotos garantem resultados rápidos para estabelecer a moral; capturam lições aprendidas e ajudam a fazer escolhas inteligentes, enquanto fornecem transparência total e aspectos culturais importantes, que são fatores críticos para criar uma jornada de transformação sustentável.

Migrar para a nuvem é muito mais do que apenas implementar uma tecnologia, mas um processo programático que deve considerar sua infraestrutura, as características de suas aplicações e da organização, para aproveitar ao máximo as tecnologias híbridas e multicloud. Começa com a estratégia, a definição e a entrega de um MVP (Produto Minimamente Viável), em um piloto realizado por uma equipe principal de base, que pode liderar a mudança e informar o progresso para toda a sua organização. Ao longo do caminho demanda o fornecimento de metas e condições para que as equipes desenvolvam mais habilidades e se tornem mais produtivas, com topologias de equipe altamente colaborativas e inclusivas e times de adoção e migração que vão ajudar a gerar valor para o negócio. Ou seja, muito além da tecnologia, a migração bem-sucedida para a nuvem é uma questão de cultura.

* Robin Tate é gerente de Customer Adoption & Acceleration Programs para a América Latina na Red Hat

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