Giuseppe Marrara: ‘A internet virou um serviço crítico e um direito básico do cidadão’

Índice de Banda Larga revela os principais pilares e as dificuldades de conectividade no Brasil e no mundo

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3:27 pm - 02 de março de 2022
Giuseppe Marrara, Diretor de Políticas Públicas da Cisco Brasil Giuseppe Marrara, Diretor de Políticas Públicas da Cisco Brasil

Às vésperas do IT Forum Ibirapuera, que no próximo 16 de março debaterá o tema conectividade, um índice da Cisco revela que as pessoas nunca valorizaram tanto o acesso à internet. Segundo o Índice de Banda Larga da empresa, feito com aproximadamente 60 mil trabalhadores em 30 países (incluindo o Brasil), o crescimento econômico e social não acontecerá sem acesso universal à internet rápida e confiável.

Para Giuseppe Marrara, diretor de políticas públicas da Cisco Brasil, em entrevista para o IT Forum, há dois anos se tratava apenas de ter acesso à internet ou não. Atualmente, quatro requisitos são vistos como essenciais para a população:

  • Velocidade: o público enxerga a necessidade de velocidade e de capacidade. Se um call, por exemplo, usa 3 megabytes e 60% das casas tinha, na pandemia, ao menos três pessoas conectadas ao mesmo tempo, fora os diversos dispositivos conectados, uma grande demanda precisava sair de uma única conexão.
  • Estabilidade: quando grande parte da vida está online, é necessário o mesmo nível de garantia que temos no aspecto físico. Não basta estar conectado, tem que estar conectado com estabilidade e ter certeza que, hora que precisar, ela não vai falhar.
  • Segurança: o mundo 100% digital criou a percepção de que não adianta estar inseguro, mesmo se conectado. Para o usuário padrão isso era um critério muito abstrato a dois anos atrás.
  • Cobertura: é essencial que o usuário esteja conectado onde quer que ele esteja.

“Por outro lado, no Brasil, mais de 80% dos entrevistados precisam de uma melhoria drástica em algum ou todos os critérios para suportar o modelo híbrido ou 100% remoto. Acima de 80% afirmam que a internet contratada antes da pandemia não atenderia todas as suas necessidades. E acima de 80% afirmam que a internet é fundamental para o desenvolvimento econômico delas e do Brasil e como uma ferramenta crucial para educação e capacitação”, revela o executivo.

Mas, ainda que essa necessidade seja latente, ainda há grande preocupação com a exclusão digital: 65%dos entrevistados afirmam que o acesso à banda larga confiável e com preço acessível se tornará um grande problema, pois a conectividade se tornará ainda mais essencial para o acesso a oportunidades de emprego e educação. Mais da metade (58%), no mundo todo, diz que não conseguiu acessar serviços essenciais, como consultas médicas on-line, educação on-line, assistência social e serviços de utilidade pública durante o lockdown, devido a uma conexão de banda larga não confiável – índice parecido no Brasil, com 60% dos entrevistados.

“A internet virou de fato um serviço crítico, um direito básico do cidadão que tem que estar disponível para todos, em qualquer lugar, com qualidade e virou uma plataforma para outros serviços básicos e nenhum país vai conseguir vencer e encurtar as distâncias sociais se não preocupar com isso”, alerta Giuseppe.

Para o executivo, o Brasil teve uma melhora significativa em conectividade – mas ainda há muito o que melhorar. Do ponto de vista de provimento de serviço, houve uma demanda dez vezes maior na pandemia e foi possível atender a demanda. A quantidade de serviços que se transformaram e se digitalizaram durante a pandemia também chama atenção – a justiça, que talvez fosse o mais tradicional, poucos dias depois estava 100% digital com acesso a processos e as pessoas fazendo suas audiências digitais.

“Do ponto de vista de infraestrutura, ano passado também foi positivo. Tivemos o leilão do 5G, tivemos uma locação para o wi-fi 6 – que salvou a conectividade. O wi-fi estava no limite e a abertura do espectro foi essencial. Vimos uma expansão de fibra, mas ela ainda não tem a capilaridade que precisa ter. O setor privado se moveu relativamente bem, o regulatório funcionou bem e andou com muitas coisas, mas a conexão ‘física’ (ter a fibra) não andou tão rapidamente”, destaca.

Trabalho híbrido

O sucesso do trabalho híbrido depende da qualidade e disponibilidade da internet. Globalmente, 75% dos trabalhadores afirmam que os serviços de banda larga precisam melhorar drasticamente para suportar essa nova maneira de trabalhar. No Brasil, essa visão é a de 82% dos entrevistados. Na média global, quase oito em cada 10 trabalhadores (78%) entrevistados afirmam que a confiabilidade e a qualidade das conexões de banda larga são importantes para eles, enquanto no Brasil esse número aumenta para 82%.  A dependência do acesso à Internet de alto desempenho é enfatizada pelo fato de que oito em cada 10 entrevistados (84%), sendo 88% no Brasil, usam ativamente sua banda larga em casa por quatro horas ou mais por dia. Enquanto isso, três ou mais pessoas usam a internet ao mesmo tempo em 60% dos lares.

Muitos profissionais que atuam remotamente precisam de mais do que um nível básico de conectividade para sustentar seus trabalhos. Para atender às demandas de conexão de banda larga, quase metade dos entrevistados (44%) planeja atualizar seu serviço de internet nos próximos 12 meses, globalmente. No Brasil, cerca de 4 em cada dez respondentes afirmam que seu uso de Internet deve aumentar no próximo ano e quase metade (49%) confirma que vai atualizar seu atual serviço de internet para o mesmo período.

PMEs em destaque

Quase metade (48%) dos profissionais agora depende de sua internet doméstica para trabalhar ou administrar seu próprio negócio em casa. Isso é especialmente indispensável para as pequenas e médias empresas (PMEs), que não possuem os mesmos recursos e infraestrutura de TI das grandes corporações. Com o surgimento de um novo ambiente de negócios digital, os empreendedores e startups podem prosperar, promovendo a inovação em todos os setores. No Brasil, mais que a metade (56%) dos pesquisados afirma trabalhar ou gerir seus próprios negócios de casa.

O executivo afirma que as pequenas empresas são o grande foco dessa transformação digital e dessa análise. Primeiro porque, em todo o mundo, as pequenas empresas são os maiores empregadores. As grandes empresas têm seus modelos de conectividade, estavam bem conectadas antes da pandemia e já tinham seus processos e ferramentas na nuvem. Porém, muitas das PMEs se questionavam se a internet realmente era útil.

“Os pequenos empreendedores também olham para a cibersegurança. Há dois anos, era ficção científica, hoje eles olham porque entendem o que acontece quando colocam um produto em uma plataforma de venda e que podem roubar os dados, por exemplo”, finaliza Giuseppe.

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