Brasileiro cria robô para eliminar mortes por sepse em hospitais

Instalada em cinco hospitais brasileiros, plataforma utiliza machine learning e deep learning, e já salva uma pessoa por dia

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1:51 pm - 17 de setembro de 2018
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Há quatro anos, Jacson Fressatto passou por um dos momentos mais delicados de sua vida. Após 18 dias internada na UTI Neonatal, sua filha Laura não resistiu a uma sepse, reação desregulada ou exagerada do sistema imunológico a uma infecção e que provoca uma disfunção orgânica, e faleceu.

O caso fez com que Fressatto estudasse a fundo processos hospitalares para chegar à conclusão que é uma doença completamente controlável se for reconhecida a tempo – algo que infelizmente não foi possível com sua filha e tantas outras pessoas. Levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas) aponta que mais de 230 mil pacientes adultos morrem a cada ano nas UTIs em decorrência da doença. A estimativa é que 55,7% dos pacientes internados com sepse vão a óbito.

O analista de sistemas Fressatto decidiu utilizar seus conhecimentos de tecnologia para criar uma plataforma tecnológica que pudesse salvar vidas. Foi quando iniciou o projeto do robô Laura, desenvolvido para detectar e evitar possíveis falhas em operações hospitalares.

A ferramenta utiliza tecnologias de computação cognitiva para informar as pessoas responsáveis pela operação em tempo hábil, poupando tempo, recursos e vidas. O robô realiza a gestão dos processos, possibilitando que o sistema aprenda e tome decisões baseado em dados.

A plataforma suporta diversas interfaces e sistemas em uma só ferramenta, além de poder ser acessada por computadores, tablets e smartphones. Sua comunicação se dá por meio de notificações, e-mails e SMS.

“A Laura é uma plataforma de inteligência artificial. não é um software de serviço, mas sim uma plataforma, ou engine. Ela não dá o diagnóstico médico, por exemplo. Foca na parte entre os serviços”, explicou Fressatto.

Segundo o criador, a ferramenta utiliza machine learning para treinar algoritmos, e deep learning para acessar base de dados abrangente.

“Os dados de hospitais estão armazenados em diversas bases. A questão é que eles têm arquiteturas diferentes e, por isso, conectamos machine learning e deep learning para coletar as informações de diferentes sistemas.”

Em operação desde julho de 2016, o robô já foi implementando como piloto em cinco hospitais (dos Estados do Paraná e Minas Gerais) e, segundo Fressatto, Laura ajudou a reduzir de 9 a 15% das mortes por sepse nessas instituições. Outros 100 hospitais já estão na “fila” para adotar a tecnologia – todos eles privados e filantrópicos. “A Laura já salva uma pessoa por dia”, calcula.

“Os hospitais públicos têm problemas de burocracia que impedem a adoção. Oferecemos de graça para a Prefeitura de Curitiba, o prefeito e a secretaria da saúde aceitaram, mas esbarraram em diversos problemas burocráticos”, lamentou.

Negócios

Fressatto afirma que sequer pensou na criação de uma empresa (no caso, uma startup), mas apenas no desenvolvimento de um produto. No entanto, para viabilizar o modelo de negócios, acabou criando a empresa com o nome Laura.

Segundo ele, a empresa já está trazendo retorno financeiro e o momento é de estratégia para lançamento comercial em 2019.

O grande foco é na área médica, o que motivou a criação do robô, mas outras verticais estão conhecendo a solução e utilizando o conceito. Atualmente, a empresa conta com 12 clientes no total (sendo cinco hospitais e sete empresas de outras áreas), entre elas grandes como Nissan e Bosch.

“A área médica consome 70% e devolve 15% do lucro. As outras áreas conseguem pagar mais.”

SAP: parceria para novos passos

Parte da estratégia de negócios da startup é uma nova parceria com a gigante de tecnologia SAP. A Laura agora faz parte do SAP Open Ecosystem Build, comunidade aberta para parceiros desenvolvedores de aplicativos, que permite que membros tenham acesso ao portfólio completo de serviços de inovação das plataformas SAP – como machine learning, big data, internet das coisas e análise preditiva, entre outros – para acelerar o desenvolvimento de suas soluções.

A SAP, na verdade, não é grande novidade para Fressatto, que utilizou a modelagem tecnológica SAP para criação do robô. Ele explica que, por ter trabalhado anteriormente com implementação SAP, utilizou o formulário de inventário tecnológico da companhia. “Agora seguiremos usando oficialmente, além de serviços como chatbot e analytics”, completou.

O robô Laura, inclusive, foi um dos destaques da multinacional alemã durante o SAP Forum Brasil, realizado na última semana em São Paulo. O projeto é parte da estratégia da SAP de focar em negócios com impactos positivos para a sociedade.

“A SAP entende a importância estratégica da aplicação da tecnologia para melhorar e tornar os negócios inteligentes. O projeto Laura é um ótimo exemplo de como a tecnologia pode potencializar o impacto positivo na vida das pessoas”, afirmou Cristina Palmaka, CEO da SAP Brasil.

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