Tableau: IA é o caminho para enfrentar o analfabetismo de dados

Para François Ajenstat, diretor de produtos da Tableau, IA é necessária para que dados possam "falar a linguagem das pessoas"

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3:50 pm - 04 de outubro de 2022
Francois Ajenstat Tableau

Há pouco mais de três anos, em agosto de 2019, a Salesforce completava a aquisição da plataforma de analytics Tableau pelo equivalente a U$ 15,7 bilhões. “Juntos, podemos transformar a maneira como as pessoas entendem não apenas seus clientes, mas todo o mundo, fornecendo insights poderosos orientados por IA em todos os tipos de dados e casos de uso para pessoas de todos os níveis de habilidade”, disse Marc Benioff, co-CEO e fundador da Salesforce à época.

Hoje, a Tableau está mais integrada do que nunca ao ecossistema da gigante de CRM. Durante o Dreamforce 22, principal evento anual da Salesforce, a empresa anunciou sua integração ao Genie, nova plataforma de “CRM em tempo real” que permitirá a entrega de informações de clientes integradas através de todo o ecossistema da Salesforce.

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“Acho que este é o primeiro ano em que realmente sentimos que a Tableau está profundamente integrada a Salesforce”, disse François Ajenstat, diretor de produtos da Tableau, em entrevista ao IT Forum durante o evento. Também durante a conversa, o executivo falou sobre o momento da companhia e sobre transformações no setor de analytics – incluindo os esforços da Tableau no uso de inteligência artificial para combater o analfabetismo de dados. Confira abaixo:

IT Forum: Uma das novidades principais da Salesforce neste ano é o Genie, que é uma ferramenta que se integra à Tableau. O que essa integração significa para o usuário e para a própria Tableau?

François Ajenstat: Nós vivemos em um mundo que é guiado por dados. Você precisa de dados para tomar decisões informadas, você precisa de dados para ajudá-lo a navegar por todas as mudanças que estão acontecendo no mundo ao nosso redor. Eu gosto de descrever dados como ar e água, porque são essenciais para as empresas sobreviverem e prosperarem. Coloco isso em perspectiva porque o que o Genie faz é tornar os dados da Salesforce dramaticamente mais fáceis de usar. Você cria uma única fonte de verdade, você harmoniza tudo. Genie é essencialmente nativo ao Tableau, clientes vão poder acessá-lo instantaneamente, não há nada para instalar, nada para configurar, você literalmente conecta e começa a analisar todos os dados que estão no Genie. É quase mágico, nessa perspectiva. Isso também significa que a Tableau é integrada de forma nativa ao Genie, então, agora que os clientes estão criando seus dados no Genie, eles poderão explorá-los com um único clique. Essa experiência contínua para frente e para trás é realmente muito crítica. Qualquer cliente que tenha o Salesforce se beneficiará instantaneamente. Acessar esses dados anteriormente era extremamente difícil – consumia tempo, era algo propenso a erros, e os dados não eram em tempo real. Agora, tudo isso se torna instantaneamente disponível no Tableau. Do ponto de vista comercial, o que isso significa é que a Tableau pode ajudar clientes a liberar valor e você pode ativar novos casos de uso que não eram possíveis antes, porque os dados eram muito difíceis de se usar. Isso vai fornecer muito mais valor para os clientes.

IT Forum: A integração entre o Genie e a Tableau representa um novo capítulo na integração da Tableau dentro do ecossistema da Salesforce? Já foram três anos desde a aquisição, o que esse momento significa para a companhia?

François Ajenstat: Acho que este é o primeiro ano em que realmente sentimos que a Tableau está profundamente integrada a Salesforce. Em anos anteriores, nós ainda éramos novos, estávamos aprendendo e nos integrando. Este ano é substancialmente diferente e parece dramaticamente mais nativo. Se você olhar a jornada completa: primeiro, nós estamos profundamente integrado ao Genie e o Genie é o núcleo do Salesforce; segundo, nós adicionamos integração com o Flow para automação – agora você pode ir dos dados, no Genie, ao insight, na Tableau, à ação com com o Flow – ; e nós também adicionamos integrações ao Slack, o Slack é mais novo, mas é parte de parte permitir que as pessoas colaborem em dados. Eu acho que, neste novo mundo, as pessoas não estão procurando os dados, elas precisam dados no fluxo de seus trabalhos – seja dentro do Salesforce, em aplicativos como o Slack ou incorporados. Nós também começamos a nos integrar ao Einstein. De repente, a Tableau não é mais essa capacidade separada e adquirida, mas passa a ser parte do núcleo do Customer 360. Isso, para mim, é realmente muito empolgante e estamos começando a ver o valor da aquisição.

IT Forum: Mas nada muda em termos da independência da Tableau?

François Ajenstat: Não, é a mesma coisa. Se o cliente não tem Salesforce, nós continuamos trazendo valor. Mas há novos “superpoderes” disponíveis quando você tem Salesforce.

IT Forum: Gostaria de falar um pouco sobre tendências que têm impactado o mercado de analytics, incluindo a movimentação de empresas para a nuvem e, mais recentemente, para a computação de borda. Como isso tem afetado a Tableau?

François Ajenstat: Bem, a primeira coisa que posso dizer é que a nuvem continua sendo uma grande tendência, especialmente com a nuvem de dados. O que vemos é que há uma forte gravidade de dados. As empresas estão colocando as análises mais próximas de onde estão os dados, e agora nós vemos um crescimento dramático na adoção de cloud analytics. Há três anos isso não estava lá. Nossa nuvem Tableau é nosso produto que mais cresce, mais de 70% de todos os novos clientes estão começando na nuvem. Digo isso do ponto de contextual, porque, de uma certa perspectiva, a computação de borda não está nos impactando ou impactando os casos de uso que temos. O que está que realmente está fornecendo é que ainda precisamos ser capazes de agregar e visualizar todos esses dados em todos os lugares, mas não é uma grande mudança para nós em comparação com a adoção da nuvem.

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IT Forum: Na sua avaliação, qual é a próxima grande tendência em análise de dados?

François Ajenstat: A próxima grande tendência é como as pessoas trabalham. Pós-pandemia, a forma como as pessoas estão trabalhando está diferente, as expectativas são diferentes – e o resultado disso é que elas buscam novas experiências. A alfabetização de dados continua a ser um desafio. Apesar de toda a adoção que temos de analytics, ainda estamos com menos de 30% de adoção. Para avançar, temos que reimaginar o que a analytics significa não só para os profissionais de dados, mas para todas as outras pessoas cujo trabalho não é com os dados, mas que poderia ser ‘aumentado’ com dados. Eu acho que essa é a próxima fronteira e é acelerada por todas essas mudanças de padrão.

IT Forum: Quando você fala de dados ‘aumentados’, o que isso significa na prática para a Tableau?

François Ajenstat: Isso significa que precisamos usar a inteligência artificial para aprofundar nossa plataforma. É assim que temos previsões e recomendações construídas nativamente. Também significa que precisamos pensar em diferentes experiências e diferentes maneiras para alcançar as pessoas. Nós, por exemplo, acabamos de introduzir um recurso que chamamos de ‘data stories’ [‘histórias de dados’, em tradução livre]. Quando conversávamos com clientes, especialmente clientes que não eram pessoas de dados, eles diziam ‘dados são assustadores para mim, eu não quero usá-los porque não entendo o que eles significam’. Nós sempre dissemos que era preciso treinar pessoas em dados, mas agora pensamos: ‘talvez temos que inverter isso’. Temos que fazer os dados entenderem a linguagem das pessoas. Então o que as ‘data stories’ fazem é transformar os dados brutos em uma história que descreve o que os dados significam. Agora, as pessoas estão interagindo de maneira natural. Isso é apoiado por IA, existem alguns alguns algoritmos malucos por trás que interpretam os dados. Com isso, as pessoas podem entender melhor os dados e você pode entregá-los através do Slack, ou por meio de ferramentas como a Siri no futuro. Isso mudará esse relacionamento [entre pessoas e dados].

IT Forum: A inteligência artificial já é uma tendência discutida há anos. Qual o papel dela na análise de dados atualmente?

François Ajenstat: Nós agora estamos entendendo como usá-la bem. A tendência da inteligência artificial, por mais que estejamos discutindo há tempos, vai se tornar muito mais natural e muito mais abrangente do que era. Pensei no Genie. O Genie trata-se de tempo real, trata-se de automação, mas trata-se de inteligência. Nós acreditamos que ele deve ser integrado à plataforma, ao invés de algo que acontece paralelamente. Isso significa uma inteligência artificial aplicada, ao invés de teorética. Quando se está no pico do hype, todos pensam ‘nós poderíamos fazer isso, fazer aquilo’, mas você não sabe realmente o que será entregue. Agora nós já sabemos em quais casos de uso a IA funciona ou não funciona.

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