O impacto dos dados na jornada do paciente

Avançar no uso de dados de saúde é importante passo, mas envolve desafios, incluindo recursos para que paciente seja protagonista

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2:13 pm - 02 de junho de 2022
paciente, médica, médico, atendimento, prontuário eletrônico Imagem: Shutterstock

Há alguns anos, vemos o movimento que reestrutura o setor de saúde. E esse movimento não nasceu do dia para a noite. Veio de um consenso de que para transformar a saúde é necessário entender e mudar, cada um, o seu papel.

Essa movimentação vai de um sistema fragmentado e voltado para episódios agudos, para um modelo mais integrado, com foco em coordenação de cuidado e fortalecimento das estratégias de Atenção Primária. Para uma atuação mais assertiva do sistema em um contexto de promoção e prevenção de saúde, o dado clínico tem um papel fundamental para garantir uma intervenção correta e uma melhor interação do paciente.

Se usarmos como exemplo uma pessoa que dá entrada em diferentes serviços de emergência por 15 dias, em diferentes instituições de saúde, não existem informações básicas e fundamentais que sejam possíveis de serem acessadas pelos diferentes profissionais e instituições de saúde para agregar no atendimento e tratamento. A proposta de oferecer dados clínicos estruturados aparece como uma forma de fortalecer as políticas de gestão em saúde, facilitando a análise de dados, a tomada de ações mais assertivas e o desfecho clínico do paciente de forma melhor e mais rápida.

Estratificação de risco, cuidado coordenado e desfechos clínicos se tornaram buzzwords do sistema e parte da estratégia de muitas instituições de saúde. No entanto, hoje ainda são bastante incipientes as estratégias com um arcabouço tecnológico e de processos ágeis para entregar informação suficiente e gerar, de fato, programas de gestão de saúde que possam incluir os pacientes em um programa de linha de cuidado, por exemplo.

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Tradicionalmente, o diagnóstico é uma variável clínica para apoiar estas estratégias, mas a possibilidade da análise de dados potencializa, de forma bastante expressiva, este tipo de intervenção, em vista do histórico do paciente, da atuação do profissional e do time de saúde que envolvido no cuidado e da condição clínica – tanto do indivíduo quanto de grupos semelhantes a ele.

Avançar com o uso de dados na área de saúde é um importante passo, mas envolve alguns desafios no sistema, como engajamento e navegação e, especialmente, como o sistema pode gerar recursos para que o paciente seja um protagonista do seu cuidado. Para gerar resultado de fato na saúde dos pacientes, as interações precisam ser personalizadas e sensíveis à realidade.

Através de dados e de aprendizados anteriores é possível atingir a melhor programação, frequência e formato para adesão ao tratamento e engajamento de cada paciente. Um adulto saudável, ativo, com um aumento da pressão arterial como único indicador de alteração costuma responder e engajar ao tratamento de forma muito diferente, quando comparado a um paciente idoso, com múltiplas comorbidades e um histórico de doenças crônicas. Naturalmente, com base nas experiências, os times de saúde sabem lidar com estes grandes grupos. Por outro lado, o tanto de informação e insight perdido, pelo simples fato de não termos dados suficientes ou dados estruturados para a criação de programas de cuidado mais personalizados, são enormes.

O cruzamento de dados clínicos e a identificação precoce de fatores de risco de cada paciente também reduzem custos associados ao tratamento. Sabemos que 40% dos exames solicitados são repetidos e não precisariam ser realizados novamente, se houvesse um sistema data driven de saúde por trás. Hoje, já é possível uma integração de sistemas que devolve a informação para o Prontuário Eletrônico do Paciente para evitar esta duplicidade e, ao mesmo tempo, garantir que a experiência do médico na ponta vai acontecer de forma simples, fácil e sem atritos com trocas de arquivos pouco amigáveis.

O uso do dado clínico extrapola a esfera paciente e pode ser a base para tomada de decisão em diferentes níveis: vigilância sanitária, análises quantitativas entre exposição e desfechos clínicos, identificação de risco populacional e avaliação dos efeitos adversos de cada intervenção, por exemplo.

No Brasil, o apagão de dados em relação à notificação e vacinação de covid 19, por exemplo, constitui uma problemática bastante relevante para a tomada de decisões a nível federal e regional. A possibilidade de acompanhamento da evolução da pandemia se torna muito limitada e impossibilita o estudo de associações com medicamentos  utilizados, risco clínico, impacto das novas variantes, dentre outros fatores.

Na Inglaterra, foi estabelecido um consórcio nacional, em 2020, para que pesquisadores tivessem acesso a mais de 40 milhões de dados advindos de registros médicos.

Na nossa base de usuários, que registra mais de 400.000 atendimentos mensais, vimos dados relativos à pandemia, como o aumento de 42,71% no número de antidepressivos prescritos para mulheres, as possibilidades de condutas para casos e sintomas variados de Covid 19 e o caminho do paciente na jornada. É possível usar os dados das ondas e variantes anteriores, por exemplo, para aprender com o sistema e ser cada vez mais assertivo na atuação de próximas infecções ou quaisquer outros eventos de saúde pública.

A mudança dos modelos de saúde – de um sistema mais voltado para volume para um outro cenário com foco em resultados e valor agregado – precisa se basear na gestão não apenas de indicadores financeiros das instituições, mas principalmente em indicadores de contexto clínico e multidisciplinar visando a evolução e integração da área de saúde como um todo. E esta é só a ponta do iceberg.

* Nathália Nunes é Head de Expansão na Prontmed

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