Mercado Livre: IA é questão de cultura, não estratégia fixa
Sebastian Barrios, VP Tecnologia do Mercado Livre, vê IA como mais uma das ‘ferramentas’ para alcançar os objetivos da empresa
Gigante do setor de tecnologia e e-commerce da América Latina, o Mercado Livre não acredita na definição de uma ‘estratégia’ de inteligência artificial – mas sim no desenvolvimento de uma cultura de IA junto aos seus times. Quem explicou a abordagem da empresa em relação ao tema foi Sebastian Barrios, vice-presidente de Tecnologia do Mercado Livre, durante uma masterclass apresentada no primeiro dia do Fórum E-Commerce Brasil 2023, que acontece em São Paulo.
“Não temos uma estratégia de inteligência artificial. Não temos uma estratégia de metaverso, ou NFTs. Essa não é a forma que operamos. Nós operamos com base em uma cultura de inovação – e todas essas tecnologias são ferramentas novas que temos que conhecer”, explicou. “Nossa estratégia é trazer mais valor aos nossos usuários, vendedores e parceiros logísticos usando essas ferramentas que estão disponíveis.”
Na sua avaliação, ter uma estratégia fixa, ao invés de uma cultura, sobre o tema da IA é algo “complicado”. A própria velocidade de transformação do tema é prova disso. Na semana passada, exemplificou, a Meta anunciou a Llama 2 – nova geração do seu modelo amplo de linguagem open source que pode novamente transformar esse mercado. “O tema da IA muda todos os dias, toda semana”, avaliou o executivo. “Mais que ter uma estratégia de IA, nós precisamos de uma cultura que nos permita estar constantemente inovando.”
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O tema da inteligência artificial não é novidade para o Mercado Livre. Como uma empresa que soma mais de 148 milhões de usuários ativos, explicou Barrios, a IA é o caminho para garantir que os times de tecnologia do Mercado Livre consigam equilibrar a qualidade do desenvolvimento de soluções à velocidade. E mais importante, fazer tudo isso em escala.
“Todas as soluções que desenvolvemos têm que ter muita escalabilidade”, explicou. “Elas precisam ter compatibilidade com regras de muitos países e com muitos usuários diferentes. Então a IA é uma ferramenta para dar escalabilidade para nossas soluções.”
A lista de áreas em que o Mercado Livre aplica a IA é extensa. Um dos exemplos mais básicos é a busca do seu e-commerce: usando ferramentas de inteligência artificial, a plataforma consegue entender qual o propósito da busca do usuário, analisando os conceitos do produto que está sendo procurado, não apenas as palavras-chaves da busca. Mas as aplicações vão muito além.
Na logística, o Mercado Livre usa IA para prever informações sobre o tráfego e estimar o tempo da entrega dos produtos. A IA também monitora preços de produtos junto a outros provedores para otimizar o valor dos milhares de itens da plataforma e-commerce. Há também uma aplicação financeira: usando credit scoring, a empresa consegue avaliar os melhores métodos de pagamento para um cliente e também prever fraudes. Até as listagens usam IA como forma de evitar a venda de itens pirateados ou produtos com descrições e imagens com conteúdo ofensivo.
O avanço da IA generativa
Além da IA ‘tradicional’, a IA generativa também já está sendo empregada pelo Mercado Livre em diversas áreas da companhia. Um dos exemplos é no atendimento ao cliente, com a criação de resumos automatizados de sessões prévias de atendimento para ajudar operadores a agilizar o contato com clientes. Na infraestrutura interna do Mercado Livre, a IA generativa também está sendo usada para monitorar e evitar o vazamento de dados pessoais de usuários.
O avanço dessa nova modalidade de IA, no entanto, traz uma série de novas oportunidades e desafios, na avaliação de Barrios. Para se preparar para o impacto da tecnologia, o Mercado Livre organizou uma hackathon entre funcionários, pedindo que todos trouxessem ideias de como a nova tecnologia poderia agregar valor ao negócio. Foram geradas mais de 200 ideias, e várias delas entraram em produção.
Uma das ideias que saiu desta iniciativa foi uma estratégia para evitar os chamados ‘ataques de prompt’ – ataques que tentam manipular modelos amplos de linguagem (LLM), ‘enganando’ ferramentas de IA generativa com comandos específicos para burlar medidas se segurança ou ter acesso a conteúdo sigilosos.
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“Temos uma equipe dedicada a colocar barreiras e os devidos firewalls nos diferentes vetores de ataque”, explicou. E continuou: “Além de aprender sobre as possibilidades, aprendemos sobre as limitações [da IA generativa]. Há muitas limitações nesses modelos, as principais são as alucinações. Essa é uma área de investigação aberta.”
Por fim, Barrios falou brevemente sobre o impacto da IA generativa junto aos times de TI do Mercado Livre. Uma das preocupações que a empresa tinha era se desenvolvedores – em especial os de nível júnior – passariam a aceitar qualquer código sugerido pela IA generativa, inclusive aqueles com erros de segurança ou má performance. A suspeita, no entanto, se provou infundada.
“Descobrimos que desenvolvedores, seniores e juniores, não aceitam as sugestões sem pensamento crítico. O princípio cultural que geramos com a ferramenta é que eles são responsáveis pelo código. Se você aceita uma sugestão, é responsável pelo resultado”, explicou.
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