IT Forum@Home: ‘em tempos de crise radical, precisamos imaginar o futuro’

Plenária de abertura do encontro virtual realizado pela IT Mídia trouxe reflexões de José Santos, do INSEAD, e Cristiane Gomes, CEO da CCR Airports

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1:23 pm - 21 de abril de 2021
Cristiane Gomes, José Santos e Vitor Cavalcanti na abertura do IT Forum@Home Cristiane Gomes, José Santos e Vitor Cavalcanti na abertura do IT Forum@Home

“Uma crise radical ataca os alicerces da nossa vida”, ponderou José (Joe) Santos, professor afiliado em Global Management no INSEAD, em Fontainebleau (França), durante a plenária que inaugurou a segunda edição do IT Forum@Home. Sob o tema “Redescoberta Criativa – Alicerce Presente”, o encontro virtual realizado pela IT Mídia acontece entre esta quarta-feira (21) e sexta-feira (22). A plenária de abertura contou também com a presença de Cristiane Gomes, CEO e membro do conselho da CCR Airports.

Para Santos, é preciso pensar os alicerces presentes para imaginar as possibilidades e fundamentações do futuro. “Em tempos de crise radical”, disse ao se referir àquela provocada pela covid-19, “as informações mais importantes são perguntas e temos perguntas que não conseguimos responder ainda”. Segundo ele, as respostas terão de vir, também, da nossa capacidade de imaginar cenários para lidar com a dinâmica complexa na qual empresas, governos e sociedade estão inseridos.

Após uma longa e bem-sucedida jornada executiva, Joe Santos regressou à vida acadêmica em meados dos anos 1990, quando passou a se dedicar a estudar a gestão corporativa, com foco na gestão das empresas multinacionais. Esta investigação, a forma como as multinacionais vêm atuando nos últimos anos face a globalização, também traz insights para a liderança que, em 2020, se viu diante de, possivelmente, o maior desafio de suas vidas: liderar à distância e em meio a uma crise multifacetada.

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Na visão do professor, pode soar precipitado falar em aprendizados com a crise ainda vivenciada. Santos prefere o termo “experiências”, a maioria delas experimentada no nível individual. “Fomos colocados em casa, aqueles que estavam trabalhando juntos foram colocados distantes um do outro. Isso aconteceu de forma surpresa, foi um choque profundo daquilo que vivíamos antes. Durante este ano, pudemos, pelo menos, no nível individual, experimentar as características de uma crise radical, que se difere das crises financeiras, pois quase todos experimentamos agora o que é a incerteza absoluta. Não é uma situação de ter uma altíssima probabilidade de falhar e, sim, a ignorância do futuro”. Santos reconhece que, principalmente, para aqueles que lideram empresas, o desafio vem em um peso maior. “[Líderes] se viram em situações que não sabiam, mas não podiam deixar de liderar”, refletiu.

Para Cristiane Gomes, CEO da CCR Airports, a tecnologia e a inovação provocam mudanças e também acrescenta valor às lideranças. Antes de assumir o cargo de CEO da CCR Airports, em 2019, Cristiane atuou como CIO do grupo por mais de seis anos e, tem, ao todo, mais de 18 anos de companhia. A executiva acompanhou de perto grandes mudanças nos negócios e, com elas também, assumindo novas responsabilidades. Nos anos 2000, a CCR criou, lembra Cristiane, uma empresa de tecnologia que assumiu também as inovações do tempo. “Quando iniciamos a operação, nós éramos ainda rodovias”, destacou mencionando também o trabalho com startups com o objetivo de melhorar o transporte na vida das pessoas. Se a pandemia esvaziou, mundo afora, os aeroportos, foi também uma premissa para acelerar digitalizações rumo ao “aeroporto inteligente”. “Como pensamos e levamos mais segurança física? A tecnologia nos trouxe a possibilidade do touchless”, exemplificou. “Tivemos uma aceleração para transformar o aeroporto mais seguro”, acrescentou.

Seguindo as reflexões de Joe Santos sobre a liderança, Cristiane deu como exemplo como a CCR tem direcionado os esforços para gerenciar o bem-estar dos funcionários. “Nós temos uma área muito abrangente de saúde na companhia, onde a gente trabalha de, saúde a segurança do trabalho e todas essas questões, para todos os nossos setores e modais”, contou. “O que nós tivemos na pandemia foi uma intensificação da atuação dessa área. Inclusive, a liderança dessa área é de um médico. Além de nos assessorar e nos apoiar com todas as mobilizações necessárias, nós intensificamos todos os apoios relacionados a psicólogos, psiquiatra. Fizemos algumas pesquisas de saúde mental, a ponto de sermos pró-ativos nesse sentido”. Cristiane reconhece que um dos maiores desafios, em meio ao isolamento social, é de aproximar-se das pessoas em meio à distância. “O que eu venho tentando é criar reuniões quinzenais ou mensais para reunir todo o time”, disse.

Haverá um novo normal?

Se em 2020, muito se falou sobre um “novo normal” para a tão esperada pós-pandemia, Joe Santos não se adianta em vislumbrar no horizonte algo que lembre a algum tipo de “normalidade”. Para ele, nem o pós-crise poderia ganhar esse título. “O pós-crise ainda não é um novo normal. Mas o que sabemos é que no pós-crise ocorre uma reintegração. Aquilo que havia se separado e desintegrado durante a crise, vai ser de novo integrado. Vai ser de novo combinado, ligado. Mas, com grande probabilidade, não podemos saber exatamente como vai surgir um novo normal”, disse. Entretanto, Santos reforça aqui a responsabilidade das empresas frente aos – possíveis – novos cenários: “as empresas podem influenciar esse futuro, seu setor e o próprio país”.

O professor recorre ao termo “emergente” para concretizar este período que as empresas precisam se reestruturar. Se de um lado, se cobra previsibilidade das organizações para definir planejamento, metas e execução, por outro como lidar com a equação da incerteza? “As empresas terão estratégias de negócios emergentes, que vão ser construídas ao longo do período de pós-crise”, indicou.

Uma telemigração do trabalho

A pandemia do coronavírus e a exigência pelo isolamento social provocou o trabalho remoto massivo. Apesar de o trabalho à distância e as organizações virtuais não serem novidade, pontuou Santos, elas provocam agora novos movimentos acelerados, entre eles a chamada telemigração.

“Telemigração é uma nova fase da globalização. Não são as pessoas que vão de um país para outro, é o que elas fazem em um país que é consumido em outro”, define Santos.

Com as “fronteiras” esticadas pelo virtual, como fica, então, a atuação das lideranças e da cultura corporativa? Aqui, Santos mira, em especial, os contratos de trabalho de prestação de serviços. “Não é apenas discutir o local do trabalho, se os empregados trabalham em um certo local, em casa ou no escritório. Isso é uma das dimensões do problema. A outra é de governança, ou seja, como fica a relação entre a empresa e essas pessoas que não são mais empregados, são prestadores de serviço. Muitas vezes profissionais liberais trabalhando por conta própria e que atuam inclusive por outras empresas […] Como se motiva pessoas onde sobre as quais não podemos influenciar institucionalmente? Para muitas empresas isso não tem resposta ainda, isso exige da nossa imaginação”.

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