Facebook contrata ex-CEO do PayPal
O Facebook surpreendeu ao anunciar, na última segunda-feira (9), que havia contratado o até então presidente do PayPal, David Marcus, para gerenciar o Facebook Messenger — um sinal de que a empresa está seriamente propensa a se aprofundar no espaço de pagamentos móveis.
“Esta é uma grande vitória para o Facebook e, definitivamente, uma perda para o PayPal. Isso certamente irá fortalecer as probabilidades de sucesso da empresa no avanço dos pagamentos móveis. O Facebook teve muitas tentativas no espaço de pagamentos no passado, e nenhuma delas deu certo. Eu espero que eles obtenham mais sucesso com David Marcus no board”, relatou Denee Carrington, analista sênior de e-business da Forrester Research.
Fornecedores de soluções veem a tecnologia de pagamentos móveis liderando a maneira com a qual as pessoas transferem fundos, seja ela entre pessoas ou entre empresas. Eles afirmam ver a crescente tecnologia como um caminho para transferir fundos mais rápido, tornando a parte financeira de seus trabalhos mais simples.
“Nós vimos crescer tanto a criptografia quanto a confiança das pessoas, em geral, neste tipo de tecnologia. Os terminais tap-and-pay são um exemplo. Para ser possível transferir fundos de maneira segura, é algo que precisa desenvolver; isso é algo que continuará crescendo. O canal irá aceitar os pagamentos móveis como uma forma de habilitar seus funcionários que operam o site a receber pagamentos imediatamente”, explicou Douglas Grosfield, presidente e CEO da Xylotek Solutions, uma fornecedora canadense de soluções.
Grosfield acredita que os pagamentos móveis irão impactar os canais em um futuro não tão distante, e o Facebook está em uma pequena lista de empresas que seguem esse caminho.
“Eu penso que o Google, Amazon, Apple e Facebook são companhias que tiveram um bom histórico ao se aventurar por um novo mercado. Se alguém irá ser a ponta da lança desse projeto, está é a lista”, afirmou o CEO.
Transição
David Marcus foi presidente do PayPal para o eBay por dois anos, logo após se juntar à companhia em 2011, quando a Zong, empresa de pagamentos móveis da qual ele era fundador e CEO, foi adquirida. Ele é considerado a “cara” do PayPal, dirigindo uma companhia de 14 mil pessoas, com US$ 6,6 bilhões de receita.
“Nós estamos empolgados com o potencial de continuar desenvolvendo grandes novas experiências com mensagens que sirvam melhor à comunidade do Facebook e alcancem ainda mais pessoas, e o David irá liderar esses esforços. Nós estamos incrivelmente empolgados por trabalharmos junto com David e por aprender com toda a sua experiência, e David irá compartilhar mais sobre seu trabalho nos próximos meses”, divulgou o Facebook logo após o anuncio da contratação.
Mas por que deixar uma posição de alto perfil após trabalhar em startups por tanto tempo? Segundo Marcus, ele perdeu o envolvimento e aprecia construir novos produtos do zero.
“Eu descobri que minha função estava se tornando um gerenciamento real contra a minha paixão de construir produtos que espero que sejam importantes para muitas pessoas. Então, depois de muito deliberar, eu decidi que esta era a hora certa para que eu fosse em direção a algo mais próximo do que eu amo fazer todos os dias”, acrescentou Marcus, em post no seu perfil na rede social.
Analistas
De acordo com analistas, a decisão de Marcus de abandonar o PayPal faz sentido. Eles também acreditam que foi necessário certa persuasão do Facebook para que o negócio fosse concluído.
“Isso faz você se perguntar o que o Facebook ofereceu. Você sabe que eles não iriam ser econômicos quando estão indo atrás do presidente do PayPal. Quero dizer, ele é um cara de perfil relativamente alto, especialmente em serviços financeiros, então isso faz você imaginar o que teria feito ele deixar de ser presidente do PayPal para se tornar, basicamente, a cabeça de um produto no Facebook. Do ponto de vista de títulos, a movimentação parece ser lateral, no máximo”, opinou James Wester, diretor de pesquisas de pagamentos globais para o IDC Financial Insights.
Analistas concordam que o Facebook é uma chance de trabalhar para uma corporação que tem alcance em muitas plataformas.
“Existem quarto plataformas que são o futuro de nossas vidas digitais: Apple, Google, Amazon e Facebook. A rede social possui braços em plataformas que o PayPal nunca terá. O PayPal não está no mesmo patamar no que se refere à capacidade de penetração. Olhe para o número de usuários entre o Facebook e PayPal. É como dia e noite”, acrescentou Carrington.
O PayPal possui 148 milhões de contas ativas, enquanto o Facebook tem 1,23 bilhão de usuários ativos mensais, e 945 milhões de usuários móveis. Cerca de 12 bilhões de mensagens são enviadas na plataforma social diariamente, enquanto em seu aplicativo de mensagens é usado por mais de 200 milhões de pessoas mensalmente.
Analistas dizem que Marcus não está “pulando de um barco afundando”, apesar do surgimento da competição nos serviços de pagamento entre Amazon, Google e um esperado serviço de pagamentos anunciado pela Apple para os próximos meses, mesmo que o PayPal siga como líder de mercado.
“PayPal não está indo a lugar nenhum. Isso é certo. Eles estão trabalhando muito duro para crescer em termos de pagamentos remotos móveis e pagamentos in-store”, confirmou Carrington.
Marcus relatou em um post no Facebook que foi por meio de uma conversa com o criador da rede social, Mark Zuckerberg, na qual eles compartilharam uma ‘constrangedora visão sobre mensagens móveis’, o que fez com que ele mudasse de empresa.
Ainda não se sabe qual visão é essa, mas está claro que Zuckerberg investiu nela. Por hora, é um jogo de esperar para ver, mas todos os sinais indicam que o Facebook está se preparando para uma grande movimentação no espaço de pagamentos móveis.
“O PayPal é uma grande companhia e isso pode não ser atrativo para um cara como Dave Marcus, cujo coração está em startups. Aqui está um rapaz que veio para eles através de uma aquisição e isso é uma atmosfera muito diferente. Ele gosta de startups, da excitação e daquele tipo de energia, e você não vai obtê-la em um lugar como o PayPal. Eu tenho a impressão que ele teve uma oportunidade de fazer algo do zero e construir um produto que irá ter um perfil maior. Eu sinto que ele estará construindo uma startup dentro da corporação do Facebook, e este irá ser um produto stand-alone”, especulou Wester.
