E-mails vazados da Cambridge Analytica mostram atuação da marca no Brasil

Empresa procurou estabelecer contatos com políticos e publicitários no país, mas negociações não avançaram

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9:00 am - 07 de janeiro de 2020

Divulgada em abril de 2018, a denúncia de vazamento de dados do Facebook feita pela Cambridge Analytica, que utilizou a base de dados da empresa para extrair dados comportamentais de usuários e depois utilizá-los para influenciar decisões política, ganhou uma atualização na semana passada. 

Um perfil no Twitter chamado Hindsightfiles divulgou na semana passada uma série de documentos mostrando o trabalho de prospecção da marca em outros países — até mesmo no Brasil. No total, foram divulgados mais de 100 mil documentos relacionados a 68 nações.  

Todos os documentos (emails, apresentações e planilhas) foram coletados pelos dados de Brittany Kaiser, ex-empregada da firma que se tornou informante para o governo. 

Expectativas frustradas 

As mensagens apresentadas se focam em dois principais eventos: a visita a São Paulo feita por Mark Turnbull, que trabalhava como diretor de campanhas eleitorais para a CA, e o encontro com o consultor político André Torreta, para tornar a Ponte Estratégia, empresa de Torreta, em uma representante da companhia britânica. A empresa também tentou contratar a publicitária Gal Barradas para atuar como líder no braço da empresa no Brasil. 

A viagem de Turnbull ao Brasil ocorreu no final de outubro de 2016, mas não da forma esperada: além da reunião que já estava marcada, o contato brasileiro de CA (Pedro Vizeu-Pinheiro) não conseguiu marcar reuniões com pessoas capazes de apresentar ao diretor um panorama político-econômico do Brasil; negativa que frustrou bastante o profissional, como consta em uma troca de e-mails feita com Kaiser: 

“Brittany, eu me lembro que você [mencionou que] tinha contatos em São Paulo que eu poderia contatar? Não se preocupe se não for o caso. É que Pedro está sendo um grande desapontamento para mim na organização” 

Apoio local 

Já a parceria com Torreta realmente aconteceu, muito por insistência de Vizeu-Toledo ao afirmar que a empresa precisaria de um parceiro local para ter credibilidade no meio político brasileiro. E foi após firmar um acordo com o consultor que a empresa, de fato, começou a ter mais acessos a contatos do meio político, de acordo com um e-mail divulgado pelo vazamento: “Só depois de avançarmos nas conversas com André é que eu consegui encontrar e conversar com políticos. E todo o mundo começou a abrir as portas, sempre com ele.” 

O trabalho em conjunto entre Ponte e Cambridge Analytica foi encerrado em março de 2018, poucos dias antes da matéria que apresentou a história de vazamentos ao mundo. Dentro das mensagens expostas, não há evidências de que Gal Barradas tenha se envolvido de fato nos negócios da empresa. 

De acordo com as informações divulgadas, a companhia não avançou para a assinatura de contratos no Brasil, muito por conta das diferenças de idiomas e perfil populacional, que impediam a firma de utilizar seus serviços mais exclusivos, como o “microredirecionamento comportamental”, justamente o que exigia o uso de dados do Facebook. 

*Com informações do The Guardian 

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