Distrito Itaqui: inovação e ESG marcam discussão da segunda turma da Escola de Liderança

Escola de Liderança do Distrito Itaqui reuniu lideranças do setor de tecnologia para debater a "Liderança de Propósito"

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10:41 am - 25 de novembro de 2023
Distrito Itaqui

Os desafios que o rápido avanço tecnológico, a inovação e o ESG impõem aos gestores de empresas na atualidade estiveram no centro do debate durante a segunda turma da Escola de Liderança do Distrito Itaqui, que tem como tema central a “Liderança de Propósito”. Realizada em parceria com a Singularity University Bradil, a imersão reuniu cerca de 30 CIOs, CEOs e outras lideranças de grandes empresas no distrito de inovação e sustentabilidade – que é também sede do IT Forum.

Poliana Abreu, head da Singularity University Brasil, abriu os debates desta sexta-feira (24), segundo dia da Escola de Liderança. Em sua fala, provocou os líderes presentes a necessidade de se adotar um novo modelo de gestão, não baseada no “ou”, mas sim no “e”. “Nós nos acostumamos a aprender como gestores tradicionais, falamos o tempo todo de trade-offs”, disse. “Precisamos pensar em coisas com dualidade. Precisamos ter a coexistência de temáticas que, até agora, eram tidas como antagonistas”.

Exemplo disso é a ideia de “Inovabilidade”, um conceito fundamental para a operação de companhias na atualidade, segundo a líder da Singularity University no Brasil. O conceito combina os termos “inovação” e “sustentabilidade”, e aponta para uma realidade em que os dois elementos devem caminhar lado a lado dentro das organizações – não em oposição um ao outro. “O que adianta a gente dar um salto tecnológico se não tem o propósito?”, questionou.

Distrito Itaqui Escola de LiderançaPoliana Abreu, head da Singularity University Brasil (Imagem: Estúdio Yuca)

Como exemplo dessa dinâmica, Poliana destacou fundos como o BlackRock, um dos maiores investidores do mundo na atualidade que determinou aspectos de sustentabilidade como um pré-requisito para aportes. “A agenda estratégica da liderança deveriam entender essas duas corridas como interdependentes. Nas decisões de negócio, não dá para falar de tecnologias exponenciais e transformação sem pensar na agenda de ESG“, disse.

Ainda no tema da inovação, Glaucia Guarcello, Chief Innovation Officer e Ventures Leader da Deloitte, debateu a questão sob duas ópticas diferentes: a da inovação incremental versus a inovação transformacional. Para ela, a inovação deve ser implementada sob os dois prismas dentro de organizações.

“A inovação core é aquela que te sustenta hoje, a transformacional é aquela que garante que você vai existir no futuro”, explicou. Para diferenciá-las, Glaucia utilizou o mercado de ações como analogia. Assim como manter uma carteira de investimentos diversa é importante para a saúde financeira do investidor, inovar com perspectivas de curto e longo prazo beneficia a saúde do negócio de organizações.

BRU004381Glaucia Guarcello, Chief Innovation Officer e Ventures Leader da Deloitte (Imagem: Estúdio Yuca)

Os diferentes tipos de inovação, no entanto, exigem diferentes abordagens. Para inovação incremental, o modelo ideal é no estilo “cascata”, com um alto investimento inicial que habilite aos times melhorarem o negócio que já é core da empresa. Para a inovação transformacional, o financiamento deve ser gradual, apoiando a iniciativa conforme a tentativa e erro for maturando a ideia original e gerando resultados. “Como a inovação envolve risco, é preciso disciplina”, anotou.

Ricardo Cavallini, expert em Fabricação Digital da Singularity University Brasil, discutiu o impacto de tecnologias exponenciais no mundo e nas empresas. Durante sua fala, Cavallini destacou o rápido avanço tecnológico pelo qual passamos, e avaliou que os gestores já precisam encarar que a realidade está se aproximando do que a ficção científica. “Absolutamente tudo será digitalizado”, pontuou.

Distrito Itaqui: Primeira turma da Escola de Liderança tem “Liderança de Propósito” como tema

Exemplo disso é o avanço da inteligência artificial. Desde o começo deste ano, as ferramentas de IA generativa dominaram o debate sobre tecnologia no mercado e vêm se tornando ubíquas. Capazes de criar textos, imagens e até objetos 3D a partir de prompts de comando, essa tecnologia já está impactando positivamente organizações e seus negócios, na avaliação do especialista.. “Quando falo do ChatGPT, falo de uma nova interface que me permite entregar coisas que não conseguia e me faz entender coisas que não entendia. A gente provavelmente terá uma nova onda de inovação semelhante à dos computadores pessoais e dos smartphones”, disse.

BRU00503Ricardo Cavallini, expert em Fabricação Digital da Singularity University Brasil (Imagem: Estudio Yuca)

Ainda assim, Cavallini alertou para alguns cuidados que as companhias devem ter com estas tecnologias exponenciais – em especial com a IA generativa. Um deles é a possibilidade do “achatamento” da qualidade que ativos gerados por IA generativa podem criar. Como exemplo, utilizou a ideação de logotipos. Para pequenas e médias empresas, criar um logo utilizando uma ferramenta de IA generativa pode ser uma opção ágil e barata. Na ponta oposta, grandes empresas podem deixar de investir na criação profissional de um logo e optar por algo gerado por IA – o que pode prejudicar o mercado como um todo. “Esse achatamento é ruim não só porque pode baixar a qualidade, mas também mata o diferencial. Se todo mundo está na média, nós matamos o diferencial”, explicou.

Eduardo Ibrahim, especialista no tema da Economia Exponencial, retomou a questão do ESG em sua fala e nos esforços da indústria para sua promoção. Ele destacou, por exemplo, o Manifesto do Business Roundtable (BRM), que reúne 181 CEOs das maiores empresas dos Estados Unidos.Os signatários se comprometeram que as empresas envolvidas empreenderam objetivos além do lucro, atendendo aos clientes, funcionários, fornecedores e comunidades.

O movimento foi considerado a inauguração do conceito do “capitalismo de stakeholder”. “É importante enxergar a economia como a plataforma social de tudo que a gente faz. Ela vai impactar educação, cultura, saúde, distribuição de renda e até quem nós somos como humanos”, afirmou.

BRU00699Eduardo Ibrahim, especialista no tema da Economia Exponencial (Imagem: Estúdio Yuca)

Ibrahim também refletiu sobre o papel das tecnologias exponenciais e o potencial que têm de gerar desigualdade, quando aplicadas de forma inadequada, ou progresso, se bem implementadas. O maior exemplo disso é a Artificial General Intelligence (AGI), próximo passo na evolução da IA que tem como objetivo criar uma inteligência capaz de executar múltiplas tarefas hoje executadas por humanos. “A discussão é sobre o impacto que esse tipo de ferramenta terá sobre a economia — e uma economia modelada para um período industrial no qual essa tecnologia não existia.”

Para Dante Freitas, professor da Singularity University, o momento tecnológico é, de fato, desafiador. Nesse contexto, criar “coerência” organizacional é o caminho para transformar a cultura da empresa e empregar novas ferramentas tecnológicas de forma efetiva. Empresas têm algumas opções para lidar com o cenário: rever e ressignificar sua atuação ou até mesmo recomeçar do zero. No centro disso, está o foco no “humanware” defendido por Freitas e Renan Hannouche, também professor da SingularityU, uma abordagem aposta nas conexões interpessoais para criar “coerência” entre os times de empresas. “Um dos principais objetivos de criar um caminho de coerência dentro da organização é uma mudança da própria energia e vivacidade organizacional criativa”, afirmou.

BRU00796Alexandre Fialho, consultor e sócio da Mind Your Business (Imagem: Estúdio Yuca)

Ao final do dia, o consultor Alexandre Fialho também trouxe provocações relacionadas à cultura. Seu foco, no entanto, foi no valor da “brasilidade” para os negócios. Em sua leitura, o mercado tem se movido para novos modelos de gestão que colocaram a brasilidade em um “lugar ao Sol”. “Laços sociais contemporâneos estão cada vez mais horizontais”, exemplificou. “Isso é uma mudança para o mundo organizacional, já que líderes têm, hoje, dificuldade de liderar horizontalmente. Comando e controle vertical é muito mais fácil para o líder, mas as relações sociais, inclusive as organizacionais, serão cada vez mais horizontais.”

Outra característica que tem entrado na cultura organizacional de todo o mundo e beneficia a brasilidade é a flexibilidade.Fialho retomou o conceito da “ninguendade”, de Darcy Ribeiro, que diz sobre a carência identitária decorrente do processo de miscigenação do Brasil que, para ele, nos tornou maleáveis, adaptáveis. “Resistência não é rigidez”, lembrou. “A gente teve um lugar ao Sol porque o mundo mudou e algumas dessas mudanças dialogam com a Brasilidade.”

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Rafael Romer

Rafael Romer é repórter do IT Forum. É bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero. Tem mais de 12 anos de experiência na cobertura dos segmentos de TI, tecnologia e games, com passagens pelo Olhar Digital, Canaltech, Omelete Company, Trip Editora e IG.

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