Cidades inteligentes: pequenos municípios mineiros avançam em projetos piloto

Santa Rita do Sapucaí e Caxambu colhem frutos de projeto piloto feito em parceria com o Inatel e financiados pelo BNDES

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5:03 pm - 18 de outubro de 2022
Da esquerda para a direita: Leonardo Maia, do Inatel; Públio de Paiva Teles e Wander Wilson Chaves, de Santa Rita do Sapucaí; e Diogo Curi Hauegen, de Caxambu. Foto: Marcelo Gimenes Vieira, IT Forum

Antes de falar em cidades inteligentes no Brasil, é preciso considerar que uma minoria absoluta dos municípios do País – ou apenas cerca de 320 em um universo de 5,5 mil – possuem mais do que 100 mil habitantes. Isso muitas vezes significa que projetos disruptivos executados em cidades europeias e apresentados em congressos mundo afora pouco terão a acrescentar para pequenos municípios do interior, que enfrentam desafios de natureza bastante distinta das metrópoles globais.

“Cidade inteligente é um tema muito falado, mas cadê elas nas nossas vidas?”, questionou Leonardo Maia, gerente de projetos do Instituto Nacional de Telecomunicações, o Inatel, tradicional instituição de ensino de Santa Rita do Sapucaí (MG). O especialista mediou um painel durante o Futurecom 2022, iniciado nessa terça (18) em São Paulo.

Segundo ele, os municípios brasileiros enfrentam principalmente dois grandes desafios. “Falta de capacitação técnica, de conhecimento dentro das próprias prefeituras do que é a internet das coisas, e como pode ser empregada em serviços públicos”, explicou Maia. “Segundo ponto a questão dos recursos financeiros.”

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Desde abril de 2021 o Inatel é parceiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, no chamado Pilotos IoT. O projeto do banco tem como objetivo fomentar projetos piloto de internet das coisas em diversas áreas, incluindo cidades inteligentes. No caso do Finatel (fundação ligada ao Inatel) foi aprovada a possibilidade de obter financiamento para que algumas cidades de Minas Gerais testassem principalmente recursos de gestão remota de iluminação inteligente e frotas de veículos, além de videomonitoramento para segurança pública e controle de tráfego.

Os municípios são Santa Rita do Sapucaí, Caxambu e Piraí (esse no RJ). Os dois primeiros estiveram no Futurecom para apresentar seus casos [ver abaixo].

“São três cidades com aspectos e características diferentes”, explicou Maia. “Uma prefeitura que faz um estudo para transformar sua rede de iluminação pública em inteligente pode se tornar mais sustentável e, ao mesmo tempo, reduzir a conta de energia elétrica. Sobrando dinheiro pode investir mais em saúde, educação etc. Aí é a decisão do gestor [público].”

No escopo do projeto com o BNDES, o Inatel é responsável pela etapa consultiva, desenhando as soluções usadas conforme as demandas específicas dos municípios, e pela implantação. A ideia, explica Maia, é que os projetos sejam agnósticos, customizados e atendam as condições financeiras das cidades. A instituição também ajuda a prefeitura com os processos licitatórios.

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A consultoria Deloitte também é parceira no projeto, sendo responsável por medir o retorno das iniciativas e emitir relatórios mostrando os benefícios obtidos, depois apresentados ao BNDES.

“É uma coisa nova. Estamos sendo procurados por prefeituras de cidades menores pedindo ajuda sobre como começar”, disse.

Santa Rita do Sapucaí

Para Wander Wilson Chaves, prefeito de Santa Rita do Sapucaí – cidade de 43 mil habitantes que fica a 410 km de Belo Horizonte –, a proximidade com o Inatel (cuja sede fica na cidade) é um facilitador para participação no projeto com o BNDES. “Isso facilita a inteligência e parceria entre setor público e iniciativa privada”, disse o gestor municipal no Futurecom.

A prefeitura está testando recursos de rastreamento de frota, iluminação por LED com telegestão e videomonitoramento para segurança pública. Segundo Chaves, seu uso já traz economia de recursos públicos e fortalecimento de caixa, o que no caso de uma prefeitura pequena “é muito importante”.

Até agora os investimentos feitos chegam a cerca de R$ 500 mil.

Também é importante, diz ele, pelo “conjunto de dados que vão gerar uma inteligência capaz de chegar a algum lugar em que a nossa mente hoje não enxerga”. E parte desses objetivos futuros passa por educação e inclusão, além de fomento ao empreendedorismo.

Na cidade mineira, o projeto com o Inatel vem pouco depois da cidade aprovar uma lei própria de incentivo à tecnologia e à inovação, aprovada em 2018. Ela permitiu, segundo o prefeito, que a contratação da instituição de ensino fosse feita com mais facilidade, dispensando exigências burocráticas comuns em outras municipalidades.

Caxambu

“A busca de Caxambu começou quando assumi o governo [em 2021] e a gente quis ter uma equipe de pessoas só para pensar em inovação pra cidade”, contou Diogo Curi Hauegen, prefeito de Caxambu – município de vocação turística e 21 mil habitantes a 350 km de Belo Horizonte. “Fomos a São José dos Campos [SP], no polo tecnológico, e fiquei maravilhado. Eu ficava maluco, não sabia por onde começar.”

O projeto do Inatel com o BNDES veio em seguida e começou pelo piloto de iluminação e câmeras inteligentes para identificação de placas de veículo, tanto para segurança (em parceria com a Polícia Militar) como trânsito (com o Detran-MG). “A leitura das placas serve para saber de onde vem os turistas e aplicar melhor os recursos de divulgação”, explicou.

Para Curi, o conceito de cidade inteligente pode ser resumido como “aquela que busca facilitar a comunicação da população com o poder público”. Por isso a cidade tem investido em aplicativos de serviços públicos para os cidadãos, incluindo reportes de buracos em vias públicas, por exemplo, ou reclamações. Há também um “botão do pânico” para casos de violência doméstica.

Segundo o prefeito, ao contrário de Santa Rita do Sapucaí, que fica próximo ao Inatel, falta na cidade um centro educacional especializado em tecnologia. O grupo técnico especializado em cidade inteligente criado pela gestão de Curi busca preencher essa lacuna, pensando “fora das atividades diárias” e tentando identificar pontos de melhoria. Mas o projeto com o Inatel trouxe novas possibilidades.

“A burocracia é muito grande, as contas públicas são muito difíceis. Se não houver um corpo técnico com bom termo de referência para ir ao mercado e buscar o que há de melhor, fica difícil fugir de empresas com produtos ruins”, ponderou.

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Marcelo Gimenes Vieira

Editor do IT Forum. Jornalista com 12 anos de experiência nos setores de TI, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios e inovação.

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