CEO da Wirecard renuncia em meio à crise e sumiço de 1,9 bilhão de euros

Executivo alega que o dinheiro estava em dois bancos asiáticos; um deles diz que a empresa não é sua cliente

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2:00 pm - 22 de junho de 2020

Markus Braun, executivo-chefe da fintech de pagamentos Wirecard, renunciou imediatamente após o preço das ações do grupo se manter em queda um dia depois de revelar que faltavam 1,9 bilhão de euros em dinheiro nas contas da empresa, conforme publicação do Financial Times

A empresa afirmou que a saída de Braun, também maior acionista da empresa, ocorreu em “consentimento mútuo com o conselho de supervisão”, e em comunicado informou que seu recém-nomeado Diretor de Conformidade, James Freis, seria o CEO interino. 

A renúncia de Braun segue a suspensão de Jan Marsalek, Diretor de Operações da Wirecard. 

As ações da empresa de pagamentos alemã caíram 80% em dois dias de negociações caóticas depois que disseram que os auditores da EY receberam documentos “ilegítimos” detalhando os saldos de caixa. As ações da fintech alemã estavam sendo negociadas 43% mais baixas, a 22 euros no início da tarde, depois de cair 51% antes. 

A Union Investment, que até recentemente era uma das dez principais acionistas da empresa, juntou-se à DWS, uma organização de gestão de ativos, ameaçando processar a empresa que por quase duas décadas foi considerada uma rara história de sucesso da tecnologia alemã, segundo o Financial Times.  

A divulgação dos fatos deixou o Wirecard incapaz de publicar os resultados de 2019 como prometido e oferece a seus credores a opção de rescindir 2 bilhões de euros em empréstimos se os resultados não fossem divulgados na sexta-feira, 19. 

Caixa comprometido 

 A Wirecard entrou em crise na última quinta-feira (18), quando veio à tona a notícia de que faltava 1,9 bilhão de euros mantidos em contas de depósito em dois bancos asiáticos. O fato foi informado pela EY, empresa que é auditora de longa data da fintech, que havia indicações de que um administrador das contas bancárias da Wirecard havia tentado “enganar o auditor” e pode ter fornecido “saldos de caixa ilegítimos”, diz o jornal. 

O Bank of the Philippine Islands é um dos dois bancos asiáticos onde o Wirecard afirmou ter depositado dinheiro, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto. Na sexta-feira, o banco informou ao Financial Times que um documento que mostrava que o Wirecard era cliente do banco era “falso”, acrescentando que a empresa alemã “não era um cliente”. O banco disse que continua investigando o assunto. 

Braun disse em vídeo que “não está claro” o porquê de os bancos asiáticos “declararam ao auditor que as confirmações são falsas”. Ele, que foi responsável por liderar o crescimento meteórico da empresa, disse que “não se pode descartar que a Wirecard se tornou parte prejudicada em uma fraude de proporções consideráveis”. 

Suspeita de manobras internas 

Ainda, segundo a publicação, a revelação das ações e títulos da Wirecard limita um período de 18 meses. Nesse período, a empresa tentou amenizar os temores sobre sua contabilidade, diz a reportagem, inclusive com a contratação de uma auditoria especial da KPMG, o que não reduziram as preocupações. 

O Financial Times lembra que já havia informado, em outubro, que a equipe da Wirecard parecia ter conspirado para inflar fraudulentamente vendas e lucros nas subsidiárias em Dubai e Dublin e enganar a auditoria EY. 

No mês passado, um dos mais proeminentes advogados de valores mobiliários da Alemanha entrou com uma ação contra a Wirecard. O advogado de Tübingen, Andreas Tilp, que lidera uma ação coletiva de 10 bilhões de euros contra a Volkswagen e a Porsche, está acusando o grupo de pagamentos de divulgações “falsas, omitidas e incompletas”. 

A Wirecard vem negando qualquer irregularidade. 

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