Prosperidade, perpetuidade, legado… e as startups

A Apple mostrou com resultados que boa governança e cultura de startup a tornaram capaz de continuar prosperando

Author Photo
por IBGC
1:05 pm - 29 de outubro de 2020
governança corporativa Foto: Adobe Stock

Em uma recente pesquisa nas diversas fontes de conteúdo sobre governança que uso em meu dia a dia, me surpreendi ao constatar a relação de vezes em que o termo “governança corporativa” aparece versus as palavras “prosperidade”, “perpetuidade” e “legado”.  Portanto, decidi dedicar este artigo para tratar o assunto e criar um acrônimo para tratá-las, 2PL.

Minha aproximação e aprofundamento nos temas governança corporativa e startups se deram quase que ao mesmo tempo. Tendo vivido décadas trabalhando com grandes corporações como consultor de negócios e tecnologia, eu queria experimentar algo novo e, em uma primeira impressão, ambíguo: em um extremo, o topo da pirâmide do sistema de governança; no outro, o embrião de organizações que nascem em garagens ou na mesa de um bar.

Leia também: os desafios das empreendedoras durante a pandemia

A oportunidade surgiu quando o IBGC, instituição prestigiada no Brasil e no exterior no que diz respeito à governança corporativa, resolveu criar um grupo de estudos para conectar os dois temas e para o qual fui convidado a participar. i) startups não são empresas pequenas, que captam recursos, crescem rapidamente e deixam de ser startups quando “dão certo”? ii) E governança não é coisa de empresa grande?

A resposta, que pode parecer óbvia para vários que estão lendo este artigo, não era e até hoje não é óbvia para muita gente. Para não deixar dúvidas, a resposta é NÃO às duas.

E o que, na minha percepção, estabelece a cola entre estes dois mundos é o que denominei com o acrônimo 2PL. Vejamos dois exemplos onde esta combinação se mostrou presente. Antes, vamos relembrar as definições presentes no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa e no caderno Governança Corporativa para Startups e Scale-Ups:

– Governança Corporativa1 é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas;

– Startup2 é uma organização escalável, de alto potencial econômico e inovadora.

A definição de governança corporativa ajuda a entender por que ela é tão importante desde o dia zero de uma organização e é a cola na aspiração de se atingir o 2PL.

Tomemos como primeiro exemplo a Apple, que nasceu quando o termo startup sequer existia. Ela se encaixa em ambas definições acima, correto?

A governança foi praticada de forma intensa por Steve Jobs, um de seus fundadores. Ele chegou a ser afastado da organização pelo conselho administrativo de forma legítima, foi trazido de volta na função de CEO e Chairman of the Board para recuperar a empresa de uma quase falência, conduziu sua própria sucessão e, passada quase uma década de sua morte, é o maior Market Cap3 do NYSE com valor superior a 2 trilhões de dólares.

A Apple mostrou com resultados que boa governança e cultura de startup a tornaram capaz de continuar prosperando, perpetuar-se e aumentar seu legado, que continuará a ser admirado por séculos a frente.

Vamos ao segundo exemplo. Típico da época, Jeff Bezos também começou em uma garagem, pois na época não existiam os espaços de coworking tão comuns as startups hoje em dia.

Inicialmente, era uma loja virtual para compra de livros, mas a ambição desde o dia 1 sempre foi muito maior. Como a Apple, seu modelo de negócio apresenta conceitos tão presentes em startups: escalável, alto potencial, inovador. Tão visível como o caso da Apple, a Amazon teve sua “prova de fogo” na governança com a separação do casal Bezos. Poderia ter sido algo dramático à governança da empresa. Mas não foi, e quem melhor que o mercado para reconhecer isto? Desde que Jeff e MacKenzie se separaram, as ações foram de US$ 1.800 para US$ 3.400 em pouco mais de 15 meses.

Apenas a título de curiosidade, ambos detinham 16% das ações e concordaram que ela ficaria com 4% e ele com 12%, e com o direito de voto pelos 16% mantido com ele, “feliz por ter dado a ele 75% de nossas ações bem como o controle dos votos que elas detêm, e permitir que ele continue contribuindo com os times desta companhia incrível”, segundo MacKenzie Bezos. Como na Apple, a combinação que prevaleceu foi de garantir o 2PL.

O futuro está nas organizações que, independentemente do estágio e momento em que se encontram, priorizarão sua longevidade, prosperarão em qualquer cenário, buscarão perpetuar-se reinventando-se a todo momento e deixarão um legado para as próximas gerações.

 

*Giancarlo Berry é sócio da AcNext Capital e membro da Comissão de Startups e Scale-Ups do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)

 

1 Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa

2 Governança Corporativa para Startups e Scale-ups

3 Valor de Mercado(Market Cap): Preço da Ação x nº Total de Ações Emitidas pela empresa

Newsletter de tecnologia para você

Os melhores conteúdos do IT Forum na sua caixa de entrada.