Estratégia, receita e inovação: o tipo de CIO que as empresas precisam

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6:10 pm - 02 de março de 2020

Se você quer saber o que pensa um CIO, uma ótima opção é, simplesmente, perguntar a ele. É basicamente essa premissa da pesquisa State of CIO, do grupo estudos IDG. Na edição de 2020 do levantamento, o time da empresa norte-americana entrevistou 679 líderes de TI e 250 executivos da chamada “line of business” (LOB) — basicamente, seus pares em outras áreas de atuação.

Além de um panorama dado pelos diretores de tecnologia das empresas, a ideia do levantamento é demonstrar o que outros C-level observam e demandam desses profissionais. De cara, dá para dizer que a importância do executivo de TI cresceu (e muito) por conta da transformação digital.

Dá uma olhada nos slides criados com base no levantamento:

 

Ok, depois dos números, que tal algumas lições?

 

Lição #01: grandes poderes, responsa ainda maior

Sem dúvida, o papel do principal executivo de tecnologia mudou um bocado com as novas configurações da era digital. Se o “chefe dos devs” era quase um “agente Smith” de Matrix (1999), com a transformação digital, esse tipo de líder está cada dia mais parecido com um Neo, protagonista da trama. Não entendeu nada? Calma, a gente explica: o papel de um CIO é cada dia mais decisivo e capaz de mudar o patamar de companhias de todos os tamanhos.

Trazendo o papo um pouco mais para a realidade, de acordo com o estudo divulgado pelo IDG:

Os principais executivos de negócios descrevem o líder de TI como um conselheiro estratégico, essencial para identificar as necessidades do negócio e oportunidades nas quais a tecnologia pode ser um diferencial competitivo — não mais um selecionador de fornecedores apenas.

Pegando carona na analogia cinéfila, a verdade é que os CIOs têm um papel muito mais estratégico. No levantamento, 40% dos entrevistados considerou sua posição e suas funções mais táticas, a opção ficou atrás apenas dos 42% que consideravam seus cargos mais relacionados ao papel de transformador. Sim, o diretor ou principal líder de TI não é mais responsável apenas pela compra de determinada solução ou a pessoa que recebe ligações do chefão no meio da madrugada quando dá ruim em alguma ferramenta.

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O “CIO de 2020” tem poderes decisivos (a gente vai falar mais disso daqui a pouco), mas também ganhou mais responsabilidades. As principais delas são, na visão dos próprios: cibersegurança (64%), privacidade de dados e compliance (49%) e experiência do usuário (46%).

 

E não acaba aí. Além de blindar digitalmente o conhecimento das empresas, os CIOs precisam demonstrar liderança na conquista das metas relacionadas ao crescimento de receitas e identificar oportunidades baseadas nos dados acumulados pela companhia. Isso é o que dizem os executivos de outras áreas que foram entrevistados — sim, o pessoal do line of business.

 

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Parece ser um consenso nas organizações que todos os líderes — não apenas CEOs e CIOs — são cada dia mais responsáveis por iniciativas que gerem receitas. Ok, isso não deveria ser lá uma grande novidade.

 

67% dos executivos de TI entrevistados aponta que criar novas fontes de receita é uma de suas responsabilidades

 

 

Lição #02: O futuro (do CIO) está nos dados

 

Se nem o nosso amigo Keanu, digo, Neo conseguiu realizar o que queria sozinho, é de se esperar que os CIOs —nossos heróis do mundo real — também precisem de sidekicks. Bem, quase isso. Por conta do novo status, as empresas estão tomando passos na direção da construção de novos produtos e serviços. E a TI tem papel decisivo.

 

Isso impacta em algumas das atribuições e configurações de times no departamento tech. Algumas das informações que saltam aos olhos no relatório do IDG são o desenvolvimento de times de inovação, a definição de estudos de caso para análise de novas fontes de receita, a colaborações com startups e até mesmo a criação de fundos de investimento.

 

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A configuração se reflete até mesmo no “cafezinho”: 78% dos CIOs entrevistados comenta que tem mais contato com seus boards — ou conselhos — do que em qualquer outra época anterior. Isso é o que a gente chama de um verdadeiro “board gamer”.

 

Diretores de tecnologia com um papel estratégico têm uma chance maior de estarem nas reuniões para definições importantes do que os manda chuvas de TI da “velha guarda”, digamos assim.

 

Ok, precisamos falar sobre prioridades

Para 37% dos CIOs e dos líderes executivos de outras áreas, é esperado que a liderança de tecnologia aumente a eficiência operacional. Algo do tipo: fazer mais, com menos e num tempo menor, sabe? Na sequência, as prioridades número 2 e 3 dos CIO são: melhorar a experiência dos clientes e desenvolvimentos na área de cibersegurança/proteção de dados, respectivamente.

Um recorte interessante para se ter em mente: companhias nas áreas de manufatura e varejo possuem uma tendência a priorizar investimento em aumento de eficiência enquanto a experiência dos consumidores parece ser a bola da vez nos setores de governamental e educacional, por exemplo.

 

Lição #03: Show me the money

 

Ok, agora que você já teve um pouco de contexto — e uma ou outra referência de cultura pop. Hora de mostrar os números mágicos, senhor Maguire: em quais áreas o líder de TI deve investir seu orçamento em 2020?

De acordo com os entrevistados pelo IDG, a principal área a receber os recursos será business analytics (37%); já o segundo lugar é bem mais “barbada”, por assim dizer: segurança e gerenciamento de riscos (34%). Esse foco em segurança é corroborado pela fatia do orçamento que é destinada aos aspectos de proteção das companhias, cerca de 16% do budget de TI.

 

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É curioso que as tecnologias que têm relação com automação de processos, machine learning e inteligência artificial aparecem como um item só. Juntas, elas figuram no quarto lugar da lista, ou seja, 24% dos respondentes apontaram investimentos nesse quesito. Fato é que esse campo está se provando além do hype: além da posição no TOP 5, em companhias com mais de 10 mil colaboradores, o número é ainda maior, batendo os 31%.

 

Para quem não esteve por aqui no State of CIO 2019, vale lembrar que data/business analytics também era considerado prioridade no ano passado. A novidade é que o campo cresceu de 30% para 37% dos CIOs colocando esse item como máxima prioridade na entre um ano e outro. Faz todo sentido, com a necessidade de ser mais eficiente, melhorar a experiência dos clientes e encontrar formas de melhorar a segurança. Data is the new black, não é mesmo?

 

Para terminar a lição: ainda aprendemos que os times de TI seguem responsáveis por analisar e proteger esses dados. O domínio dos executivos de tecnologia de uma área tão vital faz com que eles sejam os responsáveis diretos ou indiretos de uma série de decisões estratégicas. Sim, a parte de liderança estratégica chegou para ficar.

 

Estando à frente desses esforços todos, os líderes de TI são responsáveis por determinar as necessidades e definições para o avanço de projetos. Ou seja, têm uma senhora influência na hora de apontar para que caminho as empresas devem seguir.

 

Lição #04: os novos amigões da vizinhança

 

Quem chegou aqui já deve ter sacado essa lição, mas é sempre bom lembrar. Para fechar a conta — se for preciso resumir o State of CIO 2020 — podemos dizer que os resultados demonstrados no levantamento do IDG reafirmam o papel decisivo de mediador dos líderes de tecnologia.

De acordo com o quadro pintado pelos executivos entrevistados, não é mais possível dividir as lideranças entre operacionais e tecnológicas. O que isso significa? Que a colaboração entre as duas áreas se tornou essencial para sobreviver na economia digital. Parte grande da função de CIO agora é construir essa ponte entre operacional e tecnológico.

Atingir um equilíbrio entre segurança, receita e outras responsabilidades — novas ou corriqueiras — é um dos desafios apontados 77% dos líderes de TI entrevistados.

É aquela coisa, de um lado, encontrar e sugerir inovações necessárias para o presente e futuro dos negócios e, por outro, a excelência operacional sem a qual nem a melhor ideia se mantém competitiva.

 

Vem mais por aí

 

No Brasil, a pesquisa Antes da TI, a estratégia, da IT Mídia questiona, anualmente, CIOs das mil maiores empresas do país e, também, as principais lideranças da indústria fornecedora de TI. Os participantes são submetidos a um questionário individual que deve ser preenchido pelo principal executivo de TI da empresa ou, no caso da indústria fornecedora de TI, pelo presidente.

E estamos dizendo isso porque o levantamento propõe uma reflexão profunda sobre as necessidades e demandas que guiam os investimentos e, também, a compreensão do grau de maturidade das maiores empresas do país com relação ao posicionamento da TI nos negócios.

 

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Como vocês já devem ter sacado, com uma audiência tão parecida, esse é um prato cheio para comparar os dados das marcas brasileiras com o que se vê de tendência lá fora. Enquanto a pesquisa completa será divulgada nos próximos meses, podemos fazer um teaser com dados preliminares (e que, portanto, podem ser diferentes na versão final):

 

  • Assim como no State of CIO 2020, segurança é uma prioridade em terras tupiniquins. Mais de 70% dos pesquisados aponta que já investe nessa área e deve continuar fomentando os esforços de proteção de dados em 2020 ou possuem uma previsão de investimentos iniciais para projetos nessa área.
  • Apesar de ser uma das tendências mais comentadas do momento, blockchain não deve receber tanto investimento em 2020 por aqui. Apenas 17% dos entrevistados pretende direcionar parte de seu orçamento desde ano para a tecnologia.

 

Em breve, o IT Trends vai traçar mais alguns paralelos e recortes exclusivos da 9ª edição da pesquisa Antes da TI, a estratégia. Mas, não vamos contar mais nada, afinal de contas, é sempre interessante terminar com um cliffhanger, não é mesmo?

 

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