As grandes cidades brasileiras aos poucos caminham para um processo de integração de sistemas de informações de serviços públicos que influenciará num futuro próximo ações de cidades inteligentes. Nesta terça-feira (12/08), foi a vez do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Segurança Pública (SSP), iniciar oficialmente a operação do Sistema Detecta, um projeto ambicioso de integração de diversos bancos de dados e câmeras de diferentes instituições para monitorar crimes e incidentes variados em todo o Estado.
Nesta fase inicial, em operação há 15 dias, estão integrados os sistemas 190 (Polícia Militar), 193 (Bombeiros), Fotocrim (fotos de criminosos), Raia (que gera relatórios de infrações administrativas ligadas à municipalidade, como rua sem asfalto, terrenos baldios, entre outros), o sistema de incidentes domésticos (locais e endereços onde houve abusos) e o de pessoas e veículos de interesse, além de 112 câmeras da PM. “Tínhamos diferentes bancos de dados que não se comunicavam e hoje temos um sistema único que faz com que diferentes sistemas e BDs conversem”, declarou o coronel Glauco Carvalho, responsável pelo Centro de Policiamento da Capital (CPC).
A plataforma da Microsoft que serve de base para o Sistema Detecta é a mesma implantada na cidade de Nova York há sete anos. E assim como na maior e mais conhecida cidade norte-americana, a ideia é que o sistema avance por aqui e ganhe novas integrações nas próximas etapas de implantação. Conforme adiantou o coronel Carvalho, devem estar integrados mais à frente os sistemas de boletim de ocorrência da Polícia Civil, do Detran, o de mandados de prisão registrados e leitores de placas. Também aumentará a quantidade de câmeras disponíveis, até o final deste mês, apenas na capital serão mais de mil por conta da aquisição de novas câmeras, além dos 593 equipamentos que a PM tem acesso em todo o Estado que serão integrados.
Mais que um simples monitoramento por grandes telas e dashboards, o sistema possui a capacidade de produzir análises por meio de cruzamentos de dados diversos ou mesmo disparar alertas automáticos a partir de alguns parâmetros que a polícia pode programar para monitorar regiões mais sensíveis. Eles podem, por exemplo, parametrizar no sistema volume de circulação e velocidade de deslocamento de pessoas na Ladeira Porto Geral (no centro da cidade de São Paulo) e em caso de identificação de algo anormal aos parâmetros, o sistema gera um alerta automático, facilitando o deslocando de uma viatura até o local.
Além desse tipo de alerta, a expectativa é que o sistema possa aumentar a capacidade de solução de crimes, já que com apenas uma pesquisa, o delegado terá à disposição uma quantidade de informações muito maior e em menor espaço de tempo em relação ao processo anterior. “Esperamos muito desse sistema pela capacidade de facilitar a gestão de forma integrada.”
Investimento amplo
No total, o projeto está recebendo investimentos de R$ 9,7 milhões no sistema de monitoramento inteligente e outros R$ 7,3 milhões na aquisição de equipamentos. O projeto foi dividido em três grandes fases, segundo informou Alfredo Deak, diretor da divisão de justiça e segurança pública da Microsoft Brasil, sendo que a próxima consistirá em treinamento de usuários e finalização da integração dos bancos de dados não incluídos no início do projeto e a terceira que culminará apenas com o trabalho de suporte da fabricante, uma vez que a polícia já terá independência para operar o sistema.
Presente no anúncio do início da operação, o vice-presidente de serviços para o setor público da Microsoft, Mike McDuffie, lembrou que se trata de um sistema desenvolvido por policiais para policiais. Ele, general da reserva do exército norte-americano e que passou 32 anos nas forças armadas daquele país, afirmou que o projeto no Estado de São Paulo é bastante similar ao desenvolvido na cidade de Nova York e que foi trazido para cá a solução completa.
McDuffie frisou ainda que a implantação brasileira é um pouco mais fácil pela maturidade adquirida ao longo dos últimos anos. Isso não significa, no entanto, ausência de desafios. “O maior desafio em projetos como esse não é diferente de nenhuma outra grande iniciativa, é fazer com que as pessoas entendam e tenhas as expectativas corretas em torno da tecnologia. Eu entendo o potencial disso por estar envolvido. O que isso pode fazer por mim em meu domínio? Como extrair o melhor resultado da tecnologia sempre será um dos principais desafios.”
Questionados sobre o processo de localização do software, já que as realidades brasileira e norte-americana em termos de segurança pública são distintas, Deak se mostrou tranquilo ao dizer que não houve tantos percalços. “O roubo nos EUA é igual, o homicídio é igual, a câmera é igual, o desafio é entender a criticidade e como se aplica a solução à realidade brasileira com duas polícias, lá eles têm mais. Em SP temos 200 tipos criminais definidos e mais indicadores do que existem lá, mas esse tipo de coisa não assusta o projeto, é apenas entender como o policial irá usar esses novos indicadores para criar alertas diferentes que nova York não tem.”