O que tira o sono dos líderes de negócios?
Líderes estão perdendo o sono por não saber o que priorizar, escreve Frank Koja, da Kyndryl
Tenho uma filha adulta, que já é mãe, uma outra que saiu há pouco tempo da adolescência e um filho que está chegando lá. Sempre conversei com amigos sobre as transições das fases da vida e de como esses estágios de transformação vem cheios de desafios. Sei da importância de ouvir e de acolher as dúvidas e medos dos meus filhos e já pensei nas mais diversas formas de aplacar suas preocupações e de incentivá-los a abraçar o futuro com coragem e segurança. Tem dado certo.
Mas há algumas situações que fogem completamente do que havia imaginado e, embora eu tenha acesso a dezenas de dicas, a leitura de vários artigos e a infinitas trocas de ideias com minha esposa, às vezes, eu simplesmente não sei o que fazer para ajudar nesse processo de transformação dos meus filhos. E isso me tira o sono.
Hoje, depois de sair de uma reunião com um líder de negócios, eu vi nele exatamente o mesmo cenário – perder o sono por não saber o que fazer e o que priorizar, em meio a uma necessidade de mudança na sua empresa. Ele é um líder totalmente preparado, que sabe a relevância das tendências de tecnologia e de que precisa tirar proveito delas para transformar a sua empresa. Mas isso não é suficiente.
Há questões que “martelam” sua cabeça: Como ele deve priorizar e organizar todas as ideias inovadoras e tirar melhor proveito para os negócios? Como tentar mudar ou construir uma cultura que abrace a transformação em sua empresa? Como combinar as tecnologias disruptivas para levar inovação na prática? Como tirar proveito de um ecossistema de parceiros, instituições e universidades para cocriar e pensar no futuro?
E este não é um caso isolado. À medida que os líderes sentem que acelerar a transformação das suas empresas com o uso da tecnologia não é uma opção e sim uma necessidade, uma avalanche de desafios se apresenta. Um dos mais difíceis é com relação ao surgimento, quase que diário, de uma série ininterrupta de inovações tecnológicas já que a tecnologia está no coração dos negócios. E quanto maior a diversidade, mais aumenta a complexidade de integrá-las e gerenciá-las.
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Para dar um exemplo, uma questão que deixa muitos líderes acordados é como extrair o máximo valor da quantidade infinita de dados. Para se ter uma ideia, segundo o IDC, estima-se que as empresas criaram e capturaram 64 zettabytes de dados apenas em 2020. Isso equivale a mais imagens ou vídeos do que uma pessoa comum faz durante toda a sua vida.
O que tenho escutado, nos últimos meses, é a dúvida de como usar a Inteligência Artificial para conseguir tirar real proveito de tudo isso. Sabemos que o bom uso de dados é a força vital das empresas do século XXI. Vamos pegar como exemplo uma empresa de varejo, uma cadeia de lojas que, depois da pandemia, viu a maior parte de suas vendas se realizar de forma digital.
Nesse cenário, conhecer o consumidor e suas preferências virou uma necessidade. E este comprador está cada vez mais demandante, exigindo uma experiência de compra encantadora e customizada. Não é difícil chegarmos à conclusão de que saber trabalhar com seus dados e analisá-los é fundamental para a estratégia de negócios dessa empresa.
Mas há algo invisível por trás do bom uso de dados que precisa ser considerado. Assim como as estradas e os navios movimentam mercadorias em todo o mundo, o que movimenta os dados é a infraestrutura tecnológica. E para se tirar o máximo proveito, ela tem que ser eficiente, confiável e segura.
Os líderes de tecnologia sabem disso, mas é algo que precisa ser percebido por toda a liderança para que as empresas sejam orientadas por dados, data driven, em inglês. Porque o “X” da questão é saber como garantir que a infraestrutura opere como o coração das empresas, levando as informações corretas aos principais tomadores de decisão.
Outro ponto que está na cabeça dos líderes hoje em dia é a escassez de habilidades de tecnologia em suas empresas. Isso impacta muito as suas jornadas de transformação. Muitos líderes têm identificado, por exemplo, a necessidade de modernizar suas estruturas de TI e uma das opções é migrar para a nuvem. Cerca de 85% das maiores organizações do mundo estão fazendo isso, segundo o Gartner.
Só que há um problema: a complexidade do gerenciamento desses ambientes exige pessoal tecnicamente capacitado e isso pode inibir a velocidade das iniciativas de transformação. Os líderes precisam ter um plano constante de capacitação de seus talentos internos, e saber olhar para fora – seja para contar com parceiros de tecnologia ou para fazer parcerias com todo um ecossistema de universidades para formação de mão de obra.
E tem algo que preocupa a liderança e que deve ser olhado com cuidado: como fazer com que os colaboradores embarquem em uma jornada de mudanças e inovação? E é este aspecto que considero a base de qualquer transformação: a cultura da empresa. Ela é o amálgama que forma uma identidade entre os colaboradores, engajando todos com um propósito em comum. As empresas são formadas por pessoas, é claro, e elas precisam saber o que está se passando e vivenciar uma experiência digital positiva.
Criar uma cultura de inovação e colaboração é essencial. Para isso, a liderança deve ter um diálogo aberto com toda a organização. É preciso se preocupar em mostrar os rumos da empresa, falar dos desafios, do propósito, escutar e pensar junto com os colaboradores sobre o futuro dos negócios. Cultura é mesmo o principal pilar de qualquer transformação e se não existir um plano sólido, partindo dessa premissa e com etapas bem definidas, haverá muita incerteza e frustração.
O meu conselho para os líderes com os quais tenho a oportunidade de conversar é para que eles trabalhem com parceiros que realmente entendam da sua indústria, do mercado, do seu cliente e das tecnologias que podem auxiliar em sua transformação. Este me parece ser um caminho possível para noites de sono mais tranquilas.
E com relação aos filhos deixando de ser crianças ou passando de adolescentes para adultos, preciso dizer que embora seja bem desafiante, exercer o papel de pai tem sido a experiência mais enriquecedora da minha vida. Recomendo!
*Frank Koja é diretor geral da Kyndryl Brasil
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