IT ForOn Breakouts abordou oportunidades e desafios da cultura de dados

Especialistas debatem sobre o futuro do big data no Brasil e as consequências da pandemia para a ciência de dados

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7:57 pm - 14 de abril de 2020

O episódio de estreia do IT ForOn Breakouts recebeu um bate-papo de especialistas da indústria sobre o tema “Big Data: uma nova cultura de dados nascerá?”. Participaram da discussão Paulo Henrique Farroco, Diretor de TI do Carrefour; Marcelo Pineiro, CIO da Furnas; Roberto Cardoso, CEO da Scipopulis/Green4T; Gustavo Fosse, Diretor de TI do Banco do Brasil, e José Antonio Leal, Presidente da Procergs. A mediação ficou por conta de Vitor Cavalcanti, jornalista e sócio-diretor da IT Mídia.

Cultura voltada aos dados

No início do bate-papo, os executivos discutiram se, de fato, dados são o novo petróleo e como transforma-lo em valor no final da trajetória, quando o produto ou serviço chega para o consumidor. “As empresas que estão aproveitando corretamente o uso de dados estão entregando cada vez mais valor” diz Paulo Henrique Farroco. Ele enfatiza que é fundamental orientar a cultura de dados colocando o cliente como centro das decisões estratégicas.

Mas não são apenas corporações que estão desenvolvendo uma cultura centrada em dados. José Antonio Leal, do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul, afirma que uma estratégia do governo do estado é a digitalização. “Dados são um diamante não lapidado, e o importante é sabermos lapidar essa joia para tomarmos decisões públicas em prol do cidadão em geral”, afirma.

Um dos segmentos que mais pode se beneficiar das ferramentas do big data para oferecer uma melhor experiência ao cliente é o financeiro. Gustavo Fosse, do BB, falou sobre a experiência da instituição com estas tecnologias. “Estamos focando fortemente em big data há uns três anos no banco. No último ano, criamos uma unidade para trabalhar só com dados. Não é possível ter o cliente como centro do negócio sem trabalhar dados. Toda vez que eu estamos construindo algo, pensamos em como capturar dados para melhorar a experiencia do cliente.”

O executivo ainda afirma que, com o avanço de Internet das Coisas, a quantidade de informações disponíveis tende a crescer de forma exponencial, e as empresas devem estar preparadas para tratá-las. “É importante que a área de TI e toda a organização, de maneira intensa, trabalhe com estes dados. O objetivo não é fazer relatório e ver comportamento do cliente, mas prever. Assim, é possível levar melhor qualidade e melhores preços para a ponta”, explica Gustavo.

Análise de dados

Para Marcelo Pineiro, a cultura de dados no Brasil já chegou à adolescência. Agora, em decorrência da pandemia, terá que acelerar, mesmo que forçadamente, e chegar à maturidade o mais rápido possível. “A fase de extrair relatórios a partir de dados ficou para trás. Também já passamos a fase de BI. Agora, nós temos volume, velocidade e variedade, o que faz com que tenhamos novas estratégias e ferramentas para tratar o dado.”

Para ele, um exemplo da velocidade que estes dados está tomando é a própria pandemia de coronavírus. “O volume (de informações sobre a doença) é alto, e temos que gerar informações quase que em tempo real. O big data faz a gente pensar esse mundo de informações”, diz. Em Furnas, dados são analisados atualmente para, entre outras coisas, realizar manutenção preventiva no maquinário, evitando pausas no fornecimento de energia elétrica.

Ao falar sobre como as cidades estão trabalhando com essa geração em massa de dados, Roberto Cardoso explica que muitos lugares passaram por uma digitalização forçada, gerando sistemas de dados. “Mas isso não gerou uma cultura de dados, mesmo gerando traços digitais. Não traduziu em tomadas de decisão em cima dos dados. Algumas cidades estão com estratégia de cultura de dados nessa área, mas com a pandemia, a gente viu que na área de saúde a realidade é muito diferente, por exemplo.”

Ainda analisando a situação da saúde no país em tempos de pandemia, ele continua: “não dá para fazer big data na crise. Quando (a crise) chegar, você tem que já ter pronta sua estratégia de dados. Em tempos de crise, não dá para criar processos e ferramentas para analisar. É preciso pensar no seu negócio e mercado e em como estruturar essa estratégia, para que quando a crise chegar você tenha referências e saiba pilotar a sua empresa”, diz.

O TI aliado à cultura de dados

A importância de lidar com dados precisos é cada vez mais clara entre as corporações. Para isso, um grande aliado na construção de uma cultura data-driven é o TI. Para Paulo Henrique Farroco, todas as áreas de uma empresa descobrirão, inevitavelmente, a eficiência das tomadas de decisão baseadas em dados, ainda que nem todas na mesma velocidade. “Eu diria que de um lado a TI como um alicerce de toda essa questão tem a função de prover um data lake com uma governança necessária, permitindo que as áreas ganhem maturidade cada qual no seu ritmo. O importante é ter uma área impulsionando isso dentro da corporação.”

Gustavo Fosse, do Banco do Brasil, chamou atenção para um problema enfrentado por muitas empresas durante este processo: o gap de profissionais especializados em dados. “Em um banco com mais de 100 mil funcionários, é impossível ter uma unidade de dados e tocar todo esse volume sozinho. Essa área cria insights, mas eu preciso de todas as áreas tratando dados, ter um analista em cada uma delas. Os gestores precisam entender de dados, mesmo que não saiba extrair informações preditivas deles.”

Para o executivo, “não vai existir empresa em curto espaço de tempo que exista sem trabalhar dados. Durante a pandemia de COVID-19, até a forma de gerir pessoas mudou. Como fazer gestão e projeção, trabalhar em equipe de home office? No final do dia, tudo isso são dados”, afirma.

LGPD

Por fim, a discussão abordou como trabalhar em conformidade e ser assertivo no uso de dados a partir da Lei Geral de Proteção de Dados. A lei, que deveria entrar em vigor no próximo mês de agosto, foi adiada e passará a valer a partir de 2021, por conta da pandemia de coronavírus.

Marcelo Pineiro afirma que este é um assunto que está latente em todas as organizações. “Todas as iniciativas se perguntam se vão estar aderentes à LGPD, a gente vai continuar a falar disso daqui pra frente. E não vejo como algo prejudicial. Isso porque a gente tem que entender que essa preocupação com a privacidade tem que existir, mas ao mesmo tempo as informações não vão ficar indisponíveis. Pode ser um ônus zelar mais pela privacidade desta forma, mas será pelo bem da coletividade.”

Paulo, do Carrefour, lembra que esta discussão não é novidade. “A gente se preocupava no passado com o rastro digital que deixamos. Depois, veio a GDPR (regulamento europeu) na frente da gente, então isso é uma consequência natural. A lei vem para regulamentar uma questão de privacidade que eu acho natural. Quem via vazamento de informações de empresas ficava chocado com a quantidade de dados. Então, isso trouxe uma priorização desse assunto que só aconteceu por causa da lei”, afirma.

Para finalizar, José Antonio lembra algo importante que também deve pautar esta discussão. “Muitas vezes, dizer que não está preparado para a entrada em vigor da lei nem sempre quer dizer que você não está de acordo com a lei, mas muitas vezes não temos ainda as ferramentas necessárias para cumprir da forma adequada”, completa.

IT ForOn Breakouts

O segundo episódio acontecerá amanhã, dia 15 de abril. A discussão vai girar em torno do tema “Inteligência artificial: o quão bem estamos utilizando e nos beneficiando dela para momentos complexos?”, abordando cases e como líderes de tecnologia implementaram estratégias em seus negócios.

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