IA, sensores e dados: as tecnologias em campo na Copa do Mundo do Catar

FIFA e organizadores estão usando dados para garantir eficiência operacional e entretenimento durante partidas da Copa do Catar

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3:00 pm - 24 de novembro de 2022
Copa do Mundo Catar Imagem: Divulgação/Adidas

Um dos maiores torneios esportivos do planeta, a Copa do Mundo FIFA de 2022, no Catar, deu seu pontapé inicial no último domingo (20). A edição promete ser a mais conectada da história do campeonato, e trará uma série de tecnologias com o objetivo de buscar mais eficiência e organização dentro e fora dos campos.

Os investimentos em tecnologia da Copa do Catar são parte de um dos pilares estratégicos da FIFA para o ciclo entre 2020 e 2023. Há dois anos, a organização internacional estabeleceu um grupo de trabalho especializado em inovação e estabeleceu o objetivo de explorar novas tecnologias que podem impactar positivamente o futebol.

Segundo a FIFA, durante a Copa do Mundo do Catar, o público online, as equipes, os jogadores e as emissoras de TV parceiras terão acessos aos mais modernos sistemas de compartilhamento de informações, métricas e dados de desempenho. A iniciativa será liderada pelo chefe de desenvolvimento global de futebol da FIFA, Arsène Wenger, e promete enriquecer a cobertura e a análise de todos os jogos da Copa.

“Gostaríamos de compartilhar nossa visão de usar a análise de dados de futebol combinada com a interpretação de especialistas técnicos para criar uma nova inteligência de futebol, permitindo que todos entendam melhor o jogo”, diz Wenger. “A inteligência aprimorada do futebol será nosso modelo de como analisaremos o futebol no futuro. Quando descobrimos novos insights, queremos compartilhá-los com o mundo do futebol. Com o nosso FIFA Training Center online, temos um veículo fantástico para o fazer. Minha equipe continuará a fornecer conteúdo de análise de futebol novo e perspicaz para ajudar a compartilhar uma nova compreensão do jogo combinada com dados de desempenho, exemplos de vídeo e explicações técnicas.”

‘Al Rihla’ e VAR

Quem tem acompanhado as partidas da Copa já deve ter visto duas das principais inovações do torneio: a ‘Al Rihla‘, bola oficial do campeonato, e o já conhecido VAR, ou “árbitro assistente de vídeo”. Produzida pela Adidas, a bola ‘Al Rihla’ é parte dos esforços de dados propostos pela FIFA e traz um novo sensor integrado ao seu interior, desenvolvido em parceria com a Kinexon – empresa alemã de sensoriamento e computação de borda.

O sensor é capaz de fornecer, em tempo real, informações sobre o deslocamento da bola dentro de campo sempre que ela é tocada por um jogador – incluindo dados sobre o posicionamento e velocidade. O equipamento trabalha em uma frequência de 500 Hz e transfere dados até 500 vezes por segundo.

Segundo a Adidas, o sensor integrado a ‘Al Rihla’ é imperceptível para jogadores e não afeta a aerodinâmica e performance da bola. “Nosso objetivo junto à Adidas é usar tecnologia de ponta para melhorar a experiência de todos os envolvidos sem mudar o futebol”, disse Dr. Maximilian Schmidt, líder esportivo global da Kinexon. “Estamos confiantes de que, com dados precisos em tempo real, a tecnologia de bola conectada permitirá uma nova era de análise de futebol e experiência de torcedor”.

Os dados extraídos da ‘Al Rihla’ serão de posse da FIFA e usados, principalmente, para informar situações de impedimento, auxiliando na qualidade e na velocidade do processo de tomada de decisão do VAR. Esses dados são combinados com um sistema que usa doze câmeras dedicadas ao rastreio da bola, montadas sob as coberturas dos estádios.

Além da bola, as câmeras são capazes de monitorar a movimentação dos jogadores, através de até 29 pontos de dados, 50 vezes por segundo. Esses pontos de dados relevantes incluem todas as extremidades dos jogadores, facilitando na identificação do impedimento. Os dados posicionais da ‘Al Rihla’ e do sistema de câmeras também estão sendo utilizados para gerar animações em 3D das jogadas, que são exibidas nos telões dos estádios e disponibilizada aos parceiros de transmissão da FIFA para ilustrar as decisões da arbitragem.

Apesar de completamente digital, o sistema ainda é chamado “Tecnologia Semi-Autônoma de Impedimento“, ou SAOT em inglês. Isso porque o objetivo da FIFA é que a inteligência artificial e dados sejam usados para auxiliar os árbitros da partida sobre uma posição de impedimento, por exemplo. Isso já aconteceu no jogo de estreia da Copa, entre Equador e Catar, quando os árbitros verificaram manualmente os dados e o árbitro em campo confirmou a decisão de anular um gol impedido da equipe sul-americana.

Dados nas mãos dos jogadores

Não é só a arbitragem que terá acesso às informações coletadas pelas tecnologias de sensoriamento e IA durante as partidas. Pela primeira vez durante a Copa do Mundo do Catar, jogadores também poderão conferir informações sobre sua performance em campo.

Isso acontecerá através do chamado FIFA Player App, uma aplicação a qual jogadores das 32 seleções participantes terão acesso. A aplicação trará dados sobre a performance individual do jogador, atualizado logo após o fim das partidas.

Os dados entregues incluem métricas de performance física, métricas de futebol e de análise de jogo. Os dados são sincronizados com as imagens da partida para permitir que os jogadores assistam a todos os momentos-chave de seu próprio desempenho em detalhes, usando diferentes ângulos de câmera.

O app é elaborado em parceria com a FIFPRO, a associação global de sindicatos de jogadores profissionais, e está em acordo com a Carta de Direitos de Dados de Jogadores.

Centro de controle, segurança e gêmeo digital

Em operação desde novembro do ano passado, o Aspire Command and Control Center é o centro técnico de operações que será responsável por monitorar oito estádios da Copa do Mundo, unidos através de uma única plataforma de estádios conectados.

Na prática, o centro será responsável pelo controle de sistemas eletromecânicos e de controle predial, por gerenciar as operações de segurança dos estádios e acompanhar todos os sistemas de informação e pela comunicação e infraestrutura das instalações. O espaço também irá acompanhar todas as operações de manutenção periódica dos estádios, assim como acompanhar seus indicadores de desempenho.

Uma das responsabilidades mais inusitadas do centro é manter a climatização dos estádios. Por conta das altas temperaturas do Catar, mesmo no período de inverno no qual o país se encontra, estádios da Copa contam com sistemas de refrigeramento por ar-condicionado. O sistema utiliza sensores espalhados nos estádios para garantir que a temperatura do ambiente esteja sempre dentro dos 21 graus Celsius.

É também lá que acontece o controle de segurança. Segundo a AFP, ao redor dos estádios e em outras regiões do país, 15 mil câmeras de segurança com reconhecimento facial, além de drones de vigilância desenvolvidos pela Universidade do Catar, estão monitorando visitantes.

Segundo o portal Sport Techie, por baixo da rede dos estádios há uma solução de gêmeo digital integrada aos dados criados por mais de 40 mil dispositivos de internet das coisas.

“Os sistemas não se comunicam – eles são reunidos por meio do relacionamento espacial de um gêmeo digital. Então é assim que eu sei: ‘Esta porta está aqui, esta câmera está aqui.’ Só sei disso por meio do gêmeo digital. Isso é o que chamamos de gêmeo operacional”, explicou Laura Hahn, vice-presidente de engenharia da Johnson Controls para dados e análises da plataforma OpenBlue, ao Sport Techie.

Com informações de Qatar News Agency, AFP, FIFA, Al Jezeera e Sport Techie*

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