Qualidade, colaboração, sustentabilidade: expectativas para o futuro das telecomunicações

No Dia Mundial das Telecomunicações, IT Forum conversou com alguns players de rede atuantes no Brasil – e encontrou otimismo e desafios

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8:01 am - 17 de maio de 2023
Alex Takaoka (Fujitsu), Bruno Ribeiro (Huawei), Everton Souza (Viavi) e Roberto Murakami (NEC). Fotos: Divulgação

Nessa quarta-feira, 17 de maio, é o Dia Mundial das Telecomunicações e da Sociedade da Informação. A data é celebrada desde 1969 e foi pensada para marcar tanto a assinatura da primeira convenção internacional sobre telégrafos como a criação da International Telegraph Union (União Internacional de Telégrafos, hoje União Internacional das Telecomunicações, ou UIT), em 17 de maio de 1865.

Do telégrafo ao 5G, pode-se dizer que o setor mudou tanto que talvez já não faça mais sentido utilizar o prefixo “tele” antes de comunicações. E não por é um mercado raramente medido de maneira isolada ao de tecnologia da informação.

A IDC, por exemplo, em seu último levantamento de perspectivas sobre o mercado brasileiro de TI, o Predictions Brazil 2023, estimou que, juntos, TI e telecom somarão US$ 80 bilhões em receitas, ou 5% de crescimento no total, na comparação com o ano passado. Separados, a consultoria projeta um avanço maior para o mercado de TI (6,2%) do que em telecom (3%).

Leia o Especial do IT Forum: Dia Mundial das Telecomunicações

O mercado de redes móveis privativas no 5G deve apresentar um dos maiores crescimentos, com 35% de aumento médio ano a ano até 2026. O mercado de Wi-Fi 6 também deve subir 17% graças à internet das coisas (IoT) e à inteligência artificial (IA). Automação e redes definidas por software também são tendências irreversíveis.

Nesse contexto, como grandes players provedores de tecnologia e tradicionalmente associados ao mercado de telecomunicações tem evoluído? E quais são os maiores drivers para a construção das redes do futuro, que suportarão aplicações massivas de realidade aumentada e virtual, smartcities e transporte autônomo, entre tantos outros exemplos até ontem futuristas – e hoje bastante tangíveis.

O IT Forum conversou com alguns deles.

Empolgante futuro das telecomunicações

“A gente enxerga telecomunicações como um dos pilares para o futuro da tecnologia em geral. Sem ela não há evolução tecnológica”, sentencia Alex Takaoka, diretor de vendas da divisão de grandes empresas da japonesa Fujitsu no Brasil, ressaltando o papel dos dados há tanto tempo transmitidos pelas redes. “Sem capacidade de comunicação para ter o dado correto na hora certa, a evolução não vai acontecer.”

A Fujitsu é uma das empresas de tecnologia mais antigas do mundo, fundada em 1935, e nasceu produzindo equipamento de telecomunicações. Mas, ao menos aqui no Brasil, é reconhecida principalmente pelos mainframes e grandes servidores – cenário que a empresa está tentando mudar, ao menos nos últimos cinco anos, e seguindo diretrizes globais da companhia.

“Nos últimos quatro anos entramos efetivamente no core business de operadoras. Do mercado de empresas de telecomunicações”, explica Takaoka. “Temos um ecossistema muito grande e importância relevante na nossa estratégia.”

A empresa trabalha principalmente com comunicação via fibra óptica, ou “wired”. E atende tanto grandes operadoras como provedores regionais, os ISPs, que hoje dividem o atendimento no território brasileiro e devem, igualmente, responder pelo seu futuro.

“[A conectividade] vai ser a base para tudo que estamos esperando: veículos autônomos, carros voadores, realidade aumentada, virtual, telepresença. Junto com todo o segmento de TI vai haver crescimento exponencial na nossa geração. Vamos poder experimentar e ver”, celebra Takaoka.

Alex Takaoka, Fujitsu

Alex Takaoka. Foto: Divulgação

Outra empresa empolgada com o potencial de futuro oferecido pelas redes de comunicação do futuro é a chinesa Huawei, responsável por parcela considerável das implantações de redes 5G no Brasil nos últimos anos. A empresa fabrica e fornece equipamentos como antenas de estação rádio-base, linhas de transmissão e roteadores.

“Ontem estava dando uma entrevista e falando exatamente disso: eu estou muito empolgado. Parece muito clichê, mas estou empolgado”, diz, rindo, Bruno Ribeiro, diretor de soluções da Huawei Technologies, lembrando do que viu na última edição do Mobile World Congress (MWC), na Espanha. “No futuro, tudo vai ser tudo integrado na infraestrutura das cidades. Soluções de sensoriamento, trânsito, encanamentos, esgotos… tudo conectado.”

Ribeiro estima que essas aplicações serão plenamente possíveis a partir de 2025, quando novos padrões de 5G (chamados 5.5G) trarão não só maior velocidade, mas também mais capacidade de adensamento de “coisas” conectadas. Em 2030, quando houver o 6G, a resolução será ainda mais intensa.

“Estou muito otimista com o futuro, que vai trazer benefícios para a sociedade”, pondera.

Irmãos inseparáveis

Everton Souza, gerente de contas e especialista em pré-vendas wireless da Viavi na América Latina, compartilha a expectativa de futuro com Ribeiro, acenando inclusive com a possiblidade de ciclos de maturação mais curtos entre gerações de redes móveis (que geralmente levam dez anos, mas prometem ser menores no advento do 6G).

“Eu sou otimista sim. Temos algumas lacunas a serem cobertas, e o 5G é promissor. Ele chegou para mudar a forma como vivemos e nos relacionamos com as máquinas”, pondera ele. “A questão do 5G é que ele precisa não só dos usuários, mas de aplicações pensadas fora da caixa.”

Americana, a história da Viavi Solutions começa no fim dos anos 1970. Por meio de fusões e aquisições, a empresa foi parte da JDS Uniphase a separação da divisão de teste, mensuração e habilitação de redes em 2015. Tem sede em Chandler, Arizona, e presença em 48 países, inclusive Brasil.

“A VIAVI está presente em todo ciclo de vida de uma rede, desde o desenho, o planejamento, emulação, geração de carga e planejamento. Também a parte de operação e manutenção”, explica Souza. “A gente consegue ajudar eles [as operadoras] na emulação de carga para terem um planejamento de quando, onde e como crescer.”

Everton Souza, Viavi

Everton Souza, da Viavi. Foto: Divulgação

Parte do otimismo com o futuro, ao menos para Roberto Murakami, CTO da NEC para a América Latina, está justamente na união cada vez mais estreita entre os mundos das telecomunicações e da tecnologia da informação. Embora sejam “mentalidades diferentes”, essa união propiciará muitas oportunidades futuras.

“Chegamos em um momento em que a rede deixou de ser para pessoas, e agora é para pessoas e coisas. Coisas que vão fazer muito trabalho para as pessoas. Vão deixar as pessoas livres para fazer o que quiserem”, pondera o CTO. “Vamos ter mais tempo para filosofar, pensar em coisas boas.”

A japonesa NEC Corporation está no Brasil pelo menos desde 1968. Deixou aos poucos de ser uma fabricante de equipamentos de rede – teve inclusive planta fabril no Brasil – para se tornar principalmente uma integradora tecnológica especializada no setor de telecomunicações. Trabalha com hardware e serviços de empresas como Cisco, Juniper, Infinera e ADVA.

Após um breve período ausente do mercado nacional, principalmente por conta das escolhas de padrão feitas pela Anatel no 3G, a empresa retornou ao mercado móvel nacional com o 4G. E aposta muitas fichas no crescimento do 5G.

“[Integração] Envolve muito conhecimento de diversos parceiros e como entregar para o cliente o melhor produto para sua necessidade”, pondera.

Um mundo open

Um dilema já bastante antigo enfrentado pelas operadoras em gerações passadas de redes móveis era a capacidade que elas teriam (ou não) de diversificar ofertas e fugir da pecha de serem meros encanadores. Ou, resumindo, deixarem de ser provedores da comoditie rede e aproveitarem o potencial de seus próprios ativos para prover serviços de maior valor agregado.

Pois parece que, finalmente, esse momento chegou. E ele passa tanto por estimular e fomentar um ecossistema mais múltiplo, capaz de dar às “teles” mais capacidade de inovação, como por também construir redes que catalisem esse processo.

“Tenho lido entrevistas, participei de eventos, até fora do Brasil, e existe um consenso entre as lideranças de que o grande boom das big techs, que as operadoras têm como ativo informações extremamente relevantes”, pondera Alex Takaoka, da Fujitsu. “Estão todas olhando para o lado das aplicações e dos dados para os clientes.”

O executivo acredita que haverá, muito em breve, uma “disrupção” do mercado de telecom, e que quanto mais nova for uma operadora, maior a capacidade que ela terá de inovar.

Roberto Murakami, NEC

Roberto Murakami, da NEC. Foto: Divulgação

No entanto há desafios, conforme bem lembra Murakami, da NEC. “O grande dilema é quem paga a conta”, questiona. “Há muitos movimentos de trabalhar com algumas verticais para tentar criar um modelo de negócios que pague o investimento [feito no 5G] e que traga mais retorno. Elas estão indo para o mercado Enterprise.”

Segundo o executivo, tanto as operadoras como os próprios provedores de serviço – como a própria NEC – ainda estão “tateando”, ou seja, experimentando aplicações e os requisitos de rede necessários para que funcionem.

Parte do esforço para fazer essas iniciativas funcionarem passa por criar redes capazes de estimular o desenvolvimento de novas ofertas, serviços e modelos de negócio. E talvez parte do caminho esteja no Open-RAN, movimento global a favor de padrões abertos para partes das redes de telecomunicações.

Embora de implantações ainda incipiente, a iniciativa tem diversos signatários em fóruns espalhados globalmente, e começa a ser testada com mais ênfase, inclusive no Brasil.

“As empresas estão testando, e a gente apoia [os projetos] tanto no desenvolvimento como na interoperabilidade e performance”, explica Everton, da Viavi. “Eu acho um grande ganho. Para ganhar musculatura, baratear investimentos, tornar um produto mais barato, ter mais opções. Só que traz alguns desafios também. Toda a parte de implementação, operação, manutenção… Até a questão do preço.”

Sustentabilidade urgente

Outra certeza sobre as redes de telecomunicações do futuro é que elas terão que ser sustentáveis. E esse ponto encontra unanimidade entre os entrevistados pelo IT Forum para esta matéria, a ponto de o tema ter se tornado obrigatório em qualquer reunião de negócios entre empresas do setor e seus fornecedores.

“Em todas as negociações a gente fala sobre isso”, enfatiza Bruno Ribeiro, da Huawei. “Isso pesa não apenas no consumo de energia dos equipamentos, mas na infraestrutura das torres, que polui as cidades.”

A abordagem da Huawei é bastante baseada em miniaturização, com mais rádios para diferentes bandas concentrados em equipamentos únicos, reduzindo espaço ocupado, peso das torres e consumo de energia. A empresa chinesa também aposta em softwares de monitoramento para redução de consumo, inclusive de acordo com as regiões de maior demanda e consumo de acordo com a hora do dia.

bruno ribeiro, huawei

Bruno Ribeiro, da Huawei. Foto: Divulgação

A Fujitsu tem preocupação semelhante, aponta Alex Takaoka. “Não basta se melhor em processamento, tem que ser consumindo menos energia. É um bem inestimável”, pondera o executivo, ressaltando que as operadoras não prescindem mais desse aspecto. E a escolha por novas soluções e fornecedores tem a sustentabilidade como um dos fatores-chave.

A empresa também tem softwares embarcados que avaliam o consumo energético e a pegada de carbono sobre esse consumo. A redução do espaço ocupado pelos equipamentos também é uma preocupação.

“Nossa tecnologia embarcada nos rádios tem software de RAN virtualizado. O objetivo não é só descentralizar, mas também ter uma gestão mais granular de pontos de processamento, para fazer um ajuste fino de consumo energético”, explica.

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Marcelo Gimenes Vieira

Editor do IT Forum. Jornalista com 12 anos de experiência nos setores de TI, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios e inovação.

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