Especialistas falam sobre startups em internacionalização durante crise

Para muitas startups, entretanto, o momento pode ser propício para escalar e ajudar outros negócios a superarem estes desafios

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9:00 am - 02 de junho de 2020
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Não é segredo que, desde o início da pandemia, diversos setores da economia vêm lutando para mitigar os efeitos da crise. Para muitas startups, entretanto, o momento pode ser propício para escalar e ajudar outros negócios a superarem estes desafios.

Edson Mackeenzy, diretor de investimentos para América Latina da TheVentureCity, acredita que startups brasileiras podem estar encontrando um cenário para acelerar seus processos de internacionalização. “Quem já estava pensando em explorar outros países pode estar se beneficiando, porque já estava se preparando para isso. Então elas já têm essa cultura de home office, muitas vezes uma reserva de caixa, infraestrutura, entre outras coisas”, diz.

O especialista em internacionalização de startups acredita que esta preparação da empresa traz mais benefícios além da atração de novos mercados. “À medida que o fundador começa a internalizar na empresa o processo de internacionalização, o time passa a sonhar. Quando uma empresa pensa em abrir escritório em outro país, os funcionários pensam em ir junto. Isso melhora a produtividade da empresa como um todo.”

Novos mercados

Em decorrência da pandemia, startups de determinados segmentos, como saúde, educação e automação, estão vendo suas demandas crescerem. Com o isolamento social sendo uma condição global, há a oportunidade para que muitas delas possam expandir seus produtos e soluções para outros países.

Para que isso ocorra, Mackeenzy lembra que apenas um bom produto não é suficiente. Ele diz que os empreendedores precisam encontrar um local onde seja mais fácil a adaptação da empresa e achar pontos de convergência. O idioma é sempre um diferencial.

“A empresa, quando pensa em internacionalizar, não tem que achar que é simplesmente uma versão para traduzir seu portal, mas encontrar o ‘local flavor’. Isto é, o tempero local de cada cidade. Por mais que uma empresa brasileira queira internacionalizar pra Portugal, ela tem que entender da cultura do local”, explica.

Hoje, especialmente em um cenário de crise, empreendedores encontrar na internacionalização uma saída de necessidade, não apenas uma oportunidade de ampliar portfólio. Para isso, é preciso entender profundamente questões locais como câmbio, risco com custos e processos para implementar a solução em um local novo.

Como fazer

“É uma decisão que tem que ser tomada baseada em dados, é preciso entender sobre questões jurídicas, impostos locais. Mesmo que você tenha clientes em 190 países, é preciso escolher cinco onde você quer estar, baseado em estratégia”, diz Mackeenzy.

Ele cita algumas ferramentas que podem ajudar startups que estão neste processo, como a Stripe, de movimentação financeira para empresas, e a Legal Zoom, de auxílio jurídico online. “Uma dica que eu dou para os empreendedores é passar por uma aceleradora internacional para ser assistido nesse processo”, diz.

Outro caminho é buscar um programa de soft land, como o da APEX-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). O Sebrae Nacional também oferece cursos gratuitos para capacitar empreendedores para internacionalização, além da própria TheVentureCity, que tem um programa remoto que ajuda na internacionalização de startups, aberto o ano inteiro para inscrições.

“A pandemia é um momento e, neste caso específico, ela tem sido mais um impulsionador do que propriamente um problema. Ela tem forçado com que decisões tenham que ser tomadas”, diz.

Investimento

Sob o prisma de quem investe em startups early-stage no Brasil, a situação causada pela pandemia mostra um momento para focar ainda mais no mercado brasileiro, que tem um potencial continental. “Neste momento, está todo mundo mais preocupado em sobreviver do que crescer. Há startups que estão tracionando durante a crise, como healthtechs e edtechs, mas internacionalização não está, necessariamente, na lista de prioridades”, afirma Marcello Gonçalves, cofundador e managing partner da DOMO Invest.

Ainda que o foco para startups iniciais ainda não seja o mercado exterior, a DOMO acredita que seja um objetivo natural para elas. “A gente incentiva as startups a procurarem um caminho internacional. O Brasil tem um mercado grande, mas um cenário tributário complexo. Se 100% do faturamento da startup vem do Brasil, o desconto de impostos é maior. Por isso, quando a startup internacionaliza, aumenta o valuation”, explica.

Marcello também aponta que startups neste processo – ou que queiram inicia-lo – devem se atentar a pontos fundamentais. “Primeiro, precisa entender se o produto da empresa é internacionalizável. Qual difícil é adaptar o produto para outros mercados? Quão SaaS ele é, do ponto de vista plug and play? É preciso ter esse nível de facilidade, porque quanto menos customização no produto, mais fácil será esse caminho.”

As startups que ainda não estão focando neste plano têm outras formas de se reinventar durante a crise. Muitas empresas do portfólio da DOMO pivotaram seus negócios ou desenvolveram novos produtos para superar a crise. É o caso da Gooner, startup que transforma cardápios em totens em restaurantes.

“De um dia para o outro, restaurantes fecharam. Aí, nasceu o desafio de se manter relevante no mercado. Por isso, eles criaram um hackathon interno e desenvolveram um aplicativo de delivery para restaurantes que não ofereciam entrega”, conta Marcello.

Ecossistema

Enquanto fundos de investimento que aportam em Series A+ estão voltando seus esforços para seu portfólio enquanto dura a pandemia, investidores early stage continuam irrigando o mercado com tickets menores. “Estamos diligenciando, aprovando e investindo em 2020”, garante o executivo.

Para ele, o mercado de investimentos, especialmente para grandes cheques, não será o mesmo no mundo pós-coronavírus. A partir de agora, startups terão que mostrar qualidade e perenidade desde o início do negócio, fechando portas para grandes ‘hypes’.

“A tendência é que se invista cada vez mais em empresas de base tecnológica forte. Já vinha acontecendo no último ano e meio, principalmente depois da derrocada do WeWork. Acredito que empresas B2B de software, gestão e logística crescerão bastante neste período é o B2B, é o software. RH, gestão, logística. Acho que o B2B vai crescer muito. Teremos mais investimento na área de software e tecnologia”, finaliza.

 

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