Avanço na digitalização da indústria de base depende do desafio de incorporar novas soluções
Players globais relatam cenário de transição entre produção focada em automação para processo produtivo alocado em soluções digitais
A indústria de base está voltada para a exploração de recursos naturais e, recentemente, utilização da tecnologia para alcançar patamares de eficiência nunca antes atingidos. Embora o investimento em inovação seja essencial e parte da estratégia das grandes empresas do setor industrial, os mesmos estão vivendo um revés importante: a usabilidade das soluções digitais se tornou o problema.
No mês de maio, a OTC (Offshore Technology Conference), realizada em Houston, no Texas, debateu como o setor petrolífero enxerga a tecnologia offshore globalmente. Durante as discussões, fica evidente que o mercado está disposto a investir em inovação tecnológica, como as mais recentes soluções de inteligência artificial, por exemplo.
Porém, usar as ferramentas tornou-se um desafio tão grande quanto criá-las e o mercado parece ter esquecido desse ponto.
Segundo pesquisa do Gartner, os gastos mundiais com tecnologia devem totalizar US$ 4,6 trilhões em 2023, um montante de R$ 24 trilhões. O valor significativo se justifica pelo fato de que o mundo inteiro está focado em inovação e enxerga nas ferramentas tecnológicas o elo condutor para a evolução.
No mercado de óleo & gás não é diferente, todos os players globais presentes na conferência relataram que estão vivendo o cenário de transição de uma produção focada em automação para um processo produtivo alocado em soluções digitais. Estas são buscadas com intuito de tornar o trabalho mais eficiente, seguro, evitar custos desnecessários, entre outros inúmeros benefícios.
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Mas enquanto as soluções avançaram com agilidade, a incorporação das ferramentas no dia a dia da operação foi deixada de lado. A KPMG divulgou uma pesquisa, em 2021, em que apenas 26% das companhias de óleo & gás do Brasil aplicavam, na época, as tecnologias mais recentes disponíveis no mercado. O principal motivo, segundo o levantamento, é que 48% dos gestores entrevistados alegaram que não possuem equipes preparadas para implantação de novas ferramentas.
Durante as conversas na OTC, ficou claro que a análise indicada na pesquisa segue refletindo a prática em todo o mundo. Existe uma lacuna muito grande entre as ferramentas tecnológicas mais recentes implantadas em diversos ambientes e a incorporação delas na rotina da produção.
As áreas de tecnologia para mineração, energia, óleo e gás, papel e celulose e toda indústria de base precisam focar menos em ter melhores algoritmos, embora a melhoria contínua faça parte do avanço tecnológico, e começar a pensar em como incorporar, olhando para a gestão e os processos da planta industrial, e entender o que efetivamente traz valor.
O próximo avanço da área de tecnologia aplicada ao setor industrial é oferecer atenção a esse processo de incorporação, ensinar como as novas soluções digitais geram valor para quem está diretamente envolvido na produção. Tornar a ferramenta menos complexa para quem usa é parte da disrupção, então é essencial oferecer o produto com uma linha de serviço, com treinamento e auxílio na incorporação, garantindo que o processo de gestão da mudança seja, de fato, tratado como parte integral das soluções digitais.
Estamos vivendo uma Revolução Industrial em que as máquinas são invisíveis. Toda grande transformação como essa passa por um processo de instabilidade e estamos exatamente neste momento, no mundo inteiro.
A tecnologia só é inovadora se os usuários souberem utilizá-las de fato e gerar valor na ponta. Caso contrário, pode-se criar um ceticismo e uma certa resistência da operação quanto às soluções digitais e de nada adiantará pensar na nova disrupção tecnológica. Inovador é quem torna o processo mais eficiente, não quem tem a solução mais complexa.
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