Daniela Rittmeier: mulheres inseridas no mercado de IA poderão diminuir vieses de bancos de dados
Embaixadora de IA e líder de Dados & IA da Capgemini Global fala da importância da diversidade na construção de modelos de linguagem
Daniela Rittmeier, Embaixadora de Inteligência Artificial e líder de Dados & IA da Capgemini Global, é ativista em causas de Mulheres na Europa, com forte atuação em iniciativas de inclusão e capacitação de mulheres em tecnologia e educação digital para jovens. A executiva tem um propósito muito claro: educar as mulheres no mundo de Inteligência Artificial para que os modelos de linguagem sejam mais justos não só para elas, mas para todos os grupos minoritários.
“Se você olha para o momento e para os desenvolvimentos disruptivos da IA, especialmente no setor de IA generativa, a questão é que, se não nos levantarmos e não trouxermos as nossas competências, fizermos as perguntas certas, não seremos representadas nesses modelos”, diz ela em entrevista ao IT Forum.
Confira os melhores momentos do bate-papo:
IT Forum: Você fala muito da necessidade do protagonismo feminino na construção da Inteligência Artificial. Qual a importância da diversidade nesse processo?
Daniela Rittmeier: Eu sempre prefiro sempre formar equipes interdisciplinares com visões diferentes e o mais diversificadas possível, porque penso que são as melhores equipes a longo prazo para desenvolver produtos sustentáveis e de longo prazo.
IT Forum: A diversidade é a saída para deixarmos de ter tantos vieses dentro da IA?
Daniela Rittmeier: Para mim é importante que não se trate apenas de diversidade de gênero, mas também de ética, religião e cor da pele. E penso que é importante impulsionar a diversidade a partir dessa visão, não apenas a partir da diversidade de gênero, e há muito potencial a desenvolver nesse sentido.
Eu vejo a educação como uma chave, para desmistificar a definição e a IA e para que as pessoas possam aprender como ela realmente funciona. Além disso, para ver como pode colocar os diversos dados nos modelos e treinar esses modelos.
Como a tecnologia é feita, em sua maioria, por homens, não temos o banco de dados certo para treinar os modelos de aprendizado de máquina. É por isso que vemos sistematicamente desvantagens. Mas, se você aprender como os modelos ruins estão funcionando, você poderá se tornar ativo e mudar o desenvolvimento dessas plataformas de autoaprendizagem e desses modelos de aprendizado de máquina.
IT Forum: Quando se fala em educação, sabemos que as mulheres estão menos envolvidas em carreiras de tecnologia do que os homens. Como podemos aumentar essa presença?
Daniela Rittmeier: De acordo com dados do Fórum Econômico Mundial, apenas 20% dos engenheiros são mulheres. Além disso, apenas 32% das pessoas que trabalham com dados e IA são mulheres. Para mudar, eu acho que depende um pouco do nível de maturidade da mulher, ou seja, quais os tipos de conhecimento de tecnologia e competências que elas já têm para ir para a área que gostariam.
Para quem está começando, é bom aproveitar as oportunidades de educação fáceis e, muitas vezes, gratuita e em diversos idiomas. Muitas big techs fazem parcerias para oferecer capacitações, como a Microsoft, o Google, a AWS, entre outras.
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E, claro, aquelas que desejam se aprofundar, fazer cursos de programação, também podem investir em um portfólio e tentar uma bolsa de estudos.
IT Forum: Além disso, é preciso ter mais espaço dentro das empresas para crescer, certo?
Daniela Rittmeier: Eu vejo que muitas empresas já começaram, o que é bom. Algumas fizeram isso apenas no sentido da diversidade de gênero. Outras tornam isso mais amplo. Eu prefiro o mais amplo, ter equipes tão diversas. O que eu sempre recomendo fazer nas empresas é fazer equipes dedicadas ou sessões dedicadas, para educar as mulheres em seus círculos, principalmente as que estão em um nível de educação inicial, quando não se sentem realmente familiarizadas e confortáveis para estar com homens nesse tipo de sessões.
IT Forum: Como essas sessões podem ser benéficas, inclusive, para uma IA mais justa?
Daniela Rittmeier: Se você olha para o momento e para os desenvolvimentos disruptivos da IA, especialmente no setor de IA generativa, a questão é que, se não nos levantarmos e não trouxermos as nossas competências, fizermos as perguntas certas, não seremos representadas nesses modelos.
Os sistemas serão apenas replicações dos dados existentes. E se não tivermos acesso, não os apresentaremos realmente e todas as decisões irão na direção errada. Por exemplo, se você pegar um sistema de recrutamento de RH, se você apenas configurar isso, ele provavelmente recomendará os homens, brancos, que estudaram em universidades de elite.
Então, temos que mudar isso e conseguir integrar a atividade e o desenvolvimento, por exemplo, e depois dados sintéticos para integrar a mulher e os outros grupos minoritários para garantir que tenhamos decisões inclusivas e que não discriminamos ninguém
Outro ponto que aprendi é que quando você chega ao nível de decisão ou ao cargo mais sênior, devemos convidar também os homens para resolver esse desafio. Eu gosto de trabalhar com o que chamo “He for She” (Ele por Ela, em tradução para o português livre).
IT Forum: Quando você fala sobre os problemas dos bancos de dados. É possível mudar a realidade dos já existentes?
Daniela Rittmeier: Esta é a beleza da IA generativa: você pode gerar dados e conteúdo com bastante facilidade. E se você pensar no desenvolvimento e em como você constrói modelos de aprendizado de máquina, eles são sempre desenvolvidos pelo banco de dados. E, se agora temos falta de banco de dados e geramos IA, então podemos gerar esses dados para garantir que o modelo esteja na direção certa.
Mas, para isso, você tem que responder às perguntas certas para descobrir que tem um preconceito. É preciso pensar que gostaria de ter mais mulheres, ou pessoas de outras religiões, ou até atingir pessoas de outras nacionalidades. Você pode criar esse tipo de conjunto de dados sintéticos e alimentar o modelo com os dados. Por fim, no teste e na validação, é possível entender se o modelo funciona da maneira que você gostaria.
IT Forum: Se você pudesse dar uma dica para as mulheres que querem começar uma carreira de IA, o que você diria?
Daniela Rittmeier: A primeira coisa que gostaria de citar é uma fala de Sam Altman, CEO da OpenAI. Ele diz, com base nos desenvolvimentos disruptivos em IA generativa, esse é o momento e a oportunidade certa para fazer uma grande carreira em IA.
Outra coisa muito importante é não ter timidez. Elas devem ser ousadas e não permitir que alguém as impeça de crescer. Apenas siga seu caminho e siga seu sentimento como mãe, como mulher, como esposa, que você seguirá na direção certa.
Eu sou um bom exemplo. Nunca estudei engenharia de software. Eu venho de uma área totalmente diferente. Me conectando com outras mulheres, descobri que as mulheres têm uma carreira muito diversificada. Eu conheci muitas CIOs ou CDOs e quase nenhuma delas iniciou sua carreira em desenvolvimento ou engenharia de software.
Esse é um ponto para eu dizer que não importa o que você esteja estudando. Em todos os lugares haverá dados e análises de dados ao longo de toda a cadeia de valor.
IT Forum: Outra grande dificuldade da mulher, no Brasil, é a escolha de ter filhos e continuar na carreira. O mesmo acontece na Alemanha?
Daniela Rittmeier: A Alemanha, claro, não é tão grande quanto o Brasil, mas também tem diferentes áreas. Eu sou da antiga Alemanha Oriental e cresci perto da fronteira os primeiros dez anos da minha vida. Eu não poderia viajar e viver livre e é por isso que sou grata por ser livre e independente hoje.
No lado comunista, todos sabiam que as mulheres trabalhavam em tempo integral e não havia dúvidas sobre idas a escola ou sobre a educação das crianças. Meu marido também vem da mesma região, então estamos acostumados com isso. Minha mãe e minha sogra sempre trabalharam em tempo integral.
Quando eu mudei para a Bavária, percebi que eles são estavam acostumados a mulheres continuar trabalhando após a maternidade. Isso foi surpreendente para mim e não foi um desafio enquanto eu não tinha filhos. Quando me tornei mãe, descobri que era muito difícil conseguir equilibrar o trabalho e a maternidade, porque não tinha infraestrutura para conseguir vaga na creche, por exemplo.
Você tem que pensar sempre, duas vezes, como você organiza isso. Então, na Alemanha, isso depende de onde você mora e como você gostaria de fazer isso. Mas eu sempre digo para olhar para a sua família e refletir qual o seu objetivo, como gostaria de alcançá-lo e traçar um plano. Também comunique de forma bastante transparente como você gostaria de gerenciar isso.
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