O que o Brasil deve fazer para não desperdiçar a nova revolução digital

Educação dará ao Brasil a possibilidade de aproveitar benefícios exponenciais das novas tecnologias, opina executivo em artigo

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8:59 am - 28 de julho de 2023
brasil, digital

Nos anos 80, o mundo testemunhou o início da revolução da tecnologia. Fábricas, empresas, escritórios – e pessoas – tiveram um boom de produtividade a partir da adoção dos computadores. Muita riqueza foi gerada e diversos países tiveram grande aumento da renda per capita. O Brasil ficou de fora de grande parte dessa pujança. O motivo? Ao invés de importar as melhores máquinas, o governo preferiu fechar o mercado interno e incentivar a criação de fabricantes nacionais na expectativa de gerar tecnologia própria e empregos na indústria. Não deu certo. Por muito tempo pagamos o preço desse inequívoco erro de estratégia e de visão.

Hoje o mundo vive uma nova revolução digital, provocada por tecnologias emergentes como a inteligência artificial (IA) generativa, a internet das coisas, blockchain, 5G, computação quântica e o Metaverso. Muita riqueza foi gerada – e muito mais está por ser. O Brasil tem uma nova oportunidade de aproveitar essa onda – desde que entenda o espírito dos tempos atuais.

Ter indústrias era quase que sinônimo de desenvolvimento no século passado. Países industrializados eram desenvolvidos – ou o vice-versa (a relação de causalidade é tema complexo e que não importa aqui). O efeito multiplicador de riqueza da indústria levou os países latino-americanos a adotar uma política chamada “substituição de importações”. Essa política se baseava em incentivos para a instalação de fábricas, que iriam gerar empregos e renda em território nacional.

Fazia algum sentido quando a economia global era baseada em bens industriais como carros, eletrodomésticos – e computadores. Hoje não faz. No século 21, o grande ativo de uma economia são os chamados bens intangíveis, e, entre eles, o conhecimento é um dos principais – conhecimento diretamente associado a real capacidade de aproveitamento da tecnologia.

O impacto da revolução provocada pelas novas tecnologias não se dará pela abertura de fábricas, por políticas oficiais de reindustrialização, nem mesmo pela criação de novos unicórnios da tecnologia. Muitos sonham com o dia em que uma startup brasileira criará negócios tão inovadores quanto o Uber, o Spotify, Amazon ou Facebook. De fato, seria uma grande conquista empresarial e é algo a ser perseguido. Porém, o real impacto virá sob uma outra perspectiva.

Segundo estudo da Brasscom, a associação que reúne empresas de tecnologia da informação e telecomunicações (TIC), o setor responde por 6,6% do PIB nacional. Isso corresponde a pouco mais de R$ 650 bilhões. Aproveitar as novas tecnologias não significa necessariamente aumentar a participação desse setor na economia nacional.

O verdadeiro impacto das novas tecnologias na economia não se limita ao setor de informática e telecom, ele se dará em todos os segmentos de negócios. Como? Ao tornar a vida das pessoas melhor e o mundo dos negócios muito mais eficiente. Essas novas tecnologias têm potencial de criar novos mercados, modelos de negócio diversos, hábitos de consumo inovadores, processos mais eficientes. No fim das contas, se bem aplicadas, produzirão um enorme aumento de produtividade permeando todos os demais setores. Portanto, as novas tecnologias têm grande efeito multiplicador de utilidades em toda a economia.

Há décadas economistas alertam que é a baixa produtividade que impede o Brasil de superar a chamada “armadilha de renda média”. Foi o aumento de produtividade que fez com que a Coreia do Sul, que nos anos 60 tinha renda per capita parecida com a do Brasil, se tornasse um país desenvolvido, enquanto nós continuamos estagnados. O boom de produtividade no país asiático se deveu principalmente ao foco dos investimentos em educação.

E é a educação que dará ao Brasil a possibilidade de realmente aproveitar os benefícios exponenciais das novas tecnologias. Somente profissionais com adequado nível educacional estarão aptos a participar efetivamente da economia digital. Trabalhar em uma fábrica do século 21 exige conhecimentos de internet das coisas e robótica, uma exigência que só aumentará. Mas não apenas numa fábrica. Como será o trabalho no escritório do futuro? Qual o impacto das novas tecnologias no setor de serviços? As inovações que virão – por exemplo, como a IA generativa será usado pelos profissionais no dia a dia – serão criadas por mulheres e homens que tenham conhecimentos e se sintam confortáveis nesse novo mundo.

Tecnologias na nova revolução digital

Um bom exemplo do impacto das tecnologias na economia é a indústria de telecomunicações. O 4G possibilitou a popularização de novos canais (como a transmissão de vídeos por streaming) e conectou o mundo. O 5G, em fase inicial de implantação no país, aumentará ainda mais a velocidade e estabilidade das conexões no nosso vasto território. Dessa forma, permitirá procedimentos como cirurgias à distância, uso de sensores em fábricas e no campo, além do amplo uso de internet das coisas em vários elementos das cidades (iluminação, sinais de trânsito etc.).

Infelizmente, apesar dos avanços, o Brasil ainda está muito aquém do ideal no desenvolvimento educacional digital de sua população. A resolução desse problema não depende apenas de iniciativas governamentais. Depende também da sociedade civil. E as empresas têm papel fundamental a cumprir nesse sentido.

Precisamos formar e retreinar (“upskilling”) profissionais para que estejam aptos para esse novo mundo. Precisamos de mais inclusão digital em todas as camadas da sociedade. E, no Brasil, faltam muitos profissionais aptos e realmente qualificados para atuar no setor de tecnologia. Projeções indicam que, nos próximos cinco anos, o país precisará cerca de 500 mil novos profissionais de tecnologia para dar conta da demanda das empresas.

Não é por acaso que empresas como IBM, Microsoft e NTT Data Brasil, assim como prefeituras e estados por todo país, desenvolvem iniciativas de formação e qualificação profissional. Porém, apesar de várias outras iniciativas no mercado no mesmo sentido, temos um enorme desafio à frente.

O tempo urge e só juntos – governo, empresas e sociedade – não desperdiçaremos mais essa oportunidade à nossa frente para viabilizar o sonho de um país mais justo e desenvolvido. Mãos à obra!

*Ricardo Neves é economista, CEO da NTT DATA Brasil e membro do Conselho da Brasscom

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