Amy Webb: Líderes precisam saber diferenciar ‘tendências’ e ‘modas’ na tecnologia

Durante o IT Forum Itaqui, fururista diferenciou empresas que são “observadoras passivas” e “desbravadoras” do futuro

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1:14 pm - 04 de agosto de 2022

Líderes de tecnologia precisam identificar a diferença entre tecnologias que são ‘trends’ – ou ‘tendências’ reais de tecnologia – e tecnologias que são “trendy” – ou tecnologias da ‘moda’. Essa foi a mensagem deixada por Amy Webb, futurista americana reconhecida como uma das mais influentes pensadoras sobre tendências do mundo da tecnologia, que participou, na manhã desta quinta-feira (04), do IT Forum Itaqui, terceiro e último momento de 2022 do IT Forum, principal evento da comunidade de TI do Brasil.

Um dos exemplos de como essa dificuldade de imaginar possíveis futuros se manifesta é no histórico do desenvolvimento de carros voadores. Projetos que imaginavam carros capazes de voar surgiram pela primeira vez no começo do século XX. Desde então, inúmeras iterações de modelos parecidos com carros reais surgiram. Até hoje, nenhum deles prosperou, no entanto.

“O problema é que não estamos fazendo a pergunta correta. Nós estamos perguntando ‘qual o futuro dos carros?’. Isso é limitante, implica que o carro vai existir para sempre. Nós precisamos perguntar qual o futuro da mobilidade”, afirmou a futurista.

O problema, explicou, é que ficamos presos na ideia de que carros são ‘trendy’, ou algo da ‘moda’. Não pensando na verdadeira ‘trend’ ao redor dos carros. É preciso superar essa ideia para expandir as possibilidades de criação, apontou. “Identificar a ‘tendência’ correta é parte do seu trabalho”, disse.

“Tendências são ‘indicadores de direção’ para o futuro. É importante prestar atenção nelas. Não se trata de prever o futuro, mas sim de entender as tendências corretas para ser ágil no presente”, completou. “Tendências também te ajudam a identificar riscos e oportunidades – novas formas de sua empresa e negócio crescerem”.

Enfrentar esse desafio e identificar possíveis tendências não é uma tarefa fácil, é claro. “O que vejo em muitas companhias é que CEOs e CIOs lidam demais com táticas do dia a dia, mas não com o crescimento estratégico”, disse a futurista durante sua fala no evento. Esse não é o caminho para a inovação ou para acompanhar as tecnologias que virão pela frente, Amy destacou.

“É difícil fazer isso. Uma coisa que podemos fazer é planejar. Eu trabalho com meu time de executivos uma vez ao mês, durante meio dia, para apenas pensar em tendências”, explicou. “Mas você precisa deixar as pessoas motivadas para isso. Uma forma de fazer isso é contar boas histórias. Outra é ‘assustar pessoas’, dizendo o que acontecerá se deixar de fazer algo. Outra forma são os incentivos: você precisa ligar recompensas ao futuro. Se você não recompensar pessoas, você não está motivando pessoas a quererem mudar.”

“Observadores passivos” e “desbravadores”

A capacidade de diferenciar ‘tendências’ de ‘modas’ e de enfrentar desafios de volatilidade, complexidade, incerteza e ambiguidade (VUCA, em inglês) cria dois tipos de empresas, segundo a futurista De um lado estão as bystanders, ou ‘observadoras passivas’, em tradução livre. Do outro estão os ‘pathfinders’, ou ‘desbravadores’. “São eles [os desbravadores] que se questionam ‘e se?’”, apontou. “Eles que observam tendências que estão surgindo e focam no que ‘seria possível acontecer’”.

Um exemplo de empresa que fez esse processo foi a Apple. ‘E se’, imaginou a Apple, ‘o telefone celular pudesse ir além de mensagens e ligações’. ‘E se?’, o celular pudesse ser usado para navegar pela internet e ir além. Com o lançamento do primeiro iPhone, em 2007, a Apple passou a desafiar aquelas empresas que não se perguntaram ‘e se?’ – como, por exemplo, a Blackberry, que era dominante antes do iPhone.

“A história da Blackberry é uma parábola. Dentro daquela companhia, alguém poderia ter dito ‘eu sei que somos bem-sucedidos, mas estamos vendo coisas que indicam que o futuro pode ser diferente do que vemos hoje'”, narrou. “Esse é o seu poder: você pode começar a perguntar ‘e se?’.

De acordo com a futurista, os ‘observadores passivos’ têm algumas características específicas: só olham para competidores diretos; estabelecem horizontes estratégicos curtos; buscam apenas a otimização de produtos; e ignoram incertezas até que haja uma crise. Bancos, varejo, o setor energético, petroquímico, agricultura, automotivo são exemplos de segmentos que costumam abrigar ‘observadores passivos’.

Por outro lado, os ‘pathfinders’ buscam estratégias de longo prazo; olham os competidores em áreas adjacentes às suas; e são flexíveis. O grande exemplo disso, argumentou Amy, é a Nintendo. Fundada em 1880 como uma empresa de jogos de cartas, a empresa prestou atenção a tendências como o surgimento do cinema, da TV e dos shoppings centers para, a partir dos anos 60, entrar no mundo dos jogos eletrônicos.

“Os desbravadores pensam sobre o tempo de forma diferente. Eles olham para ass pessoas de tecnologia para ajudá-las a pensar no futuro”, explicou. “A maioria das empresas usam um planejamento linear. Uma linha assume que você sabe o que vai acontecer. Quando você está pensando no futuro, você precisa levar a incerteza em consideração”, pontuou. A solução é imaginar o futuro com um ‘cone’, em que, quanto mais no futuro olhamos, mais ‘largo’ ele fica e mais incertas as possibilidades.

Três tendências para o futuro

Além das lições sobre empresas ‘desbravadoras’ e ‘observadoras passivas’, Amy trouxe três tendências que, na sua opinião,líderes de tecnologia precisam ficar de olho nos próximos meses para analisar suas oportunidades e desafios.

A primeira é a tendência do ‘decentralized everything’ (DeX), ou do ‘tudo descentralizado’. A tendência aponta para um futuro de tecnologia cada vez mais descentralizada e não interdependente de sistemas atuais de governança. Setores como o financeiros devem ser pesadamente impactados por isso.

A segunda delas são os ‘super apps’, aplicativos que englobam múltiplos serviços em um só lugar e que permitem que o usuário permaneça em um único ecossistema. Exemplos disso, como o WeChat, já existem e, segundo Amy, devem avançar. Por fim, a tendência de ‘zero emissões’. Mais de 30% das maiores empresas do mundo já disseram que buscam metas de zerar emissões.

“Os desbravadores exploram incertezas com curiosidades e um mindset de crescimento”, finalizou a futurista. “Essa são algumas tendências, que acho que vocês devem prestar atenção de uma forma significativa.”

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