Amazon Biobank, da USP, criará banco de dados genético de espécies amazônicas
Projeto do Lassu quer compartilhar dados para que pesquisadores criem remédios e cosméticos
A preservação da Amazônia tem sido tema de debate há décadas, mas a discussão se intensificou nos últimos anos com o rápido avanço do desmatamento. Para além da preservação, há também a preocupação com o compartilhamento de informações biogenéticas, com o intuito de apoiar a indústria de biotecnologia e cientistas com dados genômicos da floresta.
O projeto Amazon Biobank, capitaneado pelo Instituto Amazônia 4.0, em parceria com o LASSU, Laboratório de Sustentabilidade, da Universidade de São Paulo (USP), para a área de soluções digitais, quer preencher essa lacuna. O objetivo do projeto de pesquisa, que faz parte da iniciativa Amazônia 4.0, é transformar a biodiversidade da Floresta Amazônica em uma fonte de riqueza.
O potencial da bioeconomia para o País é imenso, como revela o estudo global macroeconômico “Changes in the Global Value of Ecosystem Services”, segundo o qual a floresta amazônica de pé pode render até R$ 7 trilhões anuais ao Brasil.
Para construir esse biobanco com informações genéticas da Floresta Amazônica e conhecimentos tradicionais de suas comunidades locais, a proposta é combinar diferentes tecnologias, como blockchain para tokenização de dados e soluções peer-to-peer para compartilhamento/processamento de dados.
“Existem diversas pesquisas de bioeconomia para gerar produtos. Contudo, poucas informações são compartilhadas. Queremos fazer sequenciamento de espécies amazônicas, permitindo a criação de remédios e produtos de beleza. No Amazon Biobank, o sequenciamento será registrado no sistema e disponibilizado para pesquisadores”, contou Tereza Carvalho, engenheira eletricista, doutora pela USP e membro do IEEE, organização dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, em apresentação na Futurecom.
Tereza aponta que o projeto já foi implementado a partir de um protótipo funcional em laboratório e todo o ciclo de dados genéticos já pôde ser mapeado, como coleta, registro, processamento e compra. Como próximo passo, deve ocorrer a implementação do protótipo na Amazônia, em colaboração com o Instituto Amazônia 4.0. Empresas de tecnologia também estão envolvidas no projeto, como a NEC, que está criando uma infraestrutura 5G. “Esperamos que o Amazon Biobank possa apoiar o desenvolvimento sustentável por meio de pesquisa relacionada à biodiversidade.” Segundo ela, os dados genéticos poderão ser publicador mediante autorização do Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SisGen), pois eles são patrimônio brasileiro.
Tereza Carvalho, da USP, revela como Amazon Biobank apoiará desenvolvimento sustentável por meio de pesquisa relacionada à biodiversidade
Amazon Biobank e Amazônia 4.0
Tereza acrescenta que o Amazon Biobank é parte do projeto Amazônia 4.0, solução tecnológica que busca tornar o extrativismo da Amazônia mais benéfico às comunidades locais, e aproveitar a biodiversidade da região para oferecer melhor qualidade de vida aos seus moradores.
No Amazônia 4.0 uma das frentes entregar soluções ambientais para o bem-estar coletivo, com a proposta de tornar a cadeia produtiva do Cacau-Cupuaçu rastreável por meio de tecnologias como blockchain e internet das coisas (IoT), permitindo uma melhor distribuição dos ganhos obtidos nesta atividade.
Para testar a ideia, o programa Amazônia 4.0 desenvolveu Laboratórios Criativos da Amazônia (LCAs), labs móveis nos quais cientistas e pessoas de povos tradicionais e indígenas trabalham em parceria para criar produtos a partir do processamento de matérias-primas da Amazônia, e, então, transformá-las em produtos de alto valor agregado pela sua qualidade e rastreabilidade. “Vamos ensinar a comunidade local a produzir produtos de alto valor agregado, sempre tendo como princípio a economia circular. Hoje, por exemplo, o Cacau é vendido a R$ 10 o Kg. Ao gerar chocolate de qualidade, é possível chegar a R$ 200 o Kg”, explica.
Um dos labs para essa prática começou a ser operado em setembro na comunidade de Surucuá, perto de Santarém, na Amazônia. O espaço conta com uma usina de painel solar e ocas para produção de chocolate. “Com o laboratório, queremos fomentar a geração de renda local, lixo zero, geração de energia a partir de fonte renovável e limpa, garantia da origem por meio da rastreabilidade, e uso das tecnologias digitais na automação da cadeia produtiva.”
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