Aleksandar Mandic: o grande visionário da informática no Brasil

No Dia da Informática, relembre os principais feitos do empresário que amava frases de efeito

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2:15 pm - 15 de agosto de 2023
Aleksandar Mandic Aleksandar Mandic

Comemorar o Dia da Informática sem falar de Aleksandar Mandic, é perder as primeiras linhas da história da informática no Brasil. O empresário, filho de imigrantes sérvios, criou um dos primeiros BBS do país, uma espécie de antecessor dos provedores e primeiro sistema voltado para uso comercial da internet no Brasil.

Falecido em maio 2021, Mandic deixou saudade nos amigos, como Flávio Xandó, colega de profissão e colunista do IT Forum com o Papo Fácil. Em um de seus episódios, Xandó traz uma conversa de quase uma hora com o amigo, que mostra outras facetas de um dos principais impulsionadores da informática no Brasil.

Xandó conversou comigo e lembrou histórias com aquele conhecido pelas frases de efeito. Uma das que talvez resuma quem Mandic foi, era uma de suas preferidas: ‘Sem saber que era impossível, ele foi lá e fez’.

Em uma de suas histórias, Mandic confidencializa que fazia suas notas fiscais maiores do que as normais e com impressões mais profissionais até do que grandes empresas, para chamar a atenção dos clientes. E, para não parecer que aqueles eram os primeiros que faziam negócios com ele, cancelou as 200 primeiras NFs.

Pergunto ao Xandó que outras histórias demonstram como Mandic pensava além de seu tempo.

“O comércio eletrônico que foi feito no BBS. Ele chamava de televendas e eu o ajudei a programar. Empresas como a Livraria Cultura começaram a vender no Mandic BBS, o Primeira Mão e tinha até um usuário que vendia serviços de jurisprudência e outro que fazia mapa astral. O Mandic BBS chegou a ter umas 15 lojas e foi provavelmente o primeiro (ou um dos primeiros) e-commerce no Brasil”, releva.

Flávio Xandó e Aleksandar Mandic

Mandic também colecionava a primeira possível fraude eletrônica no País. Em seu BBS, Mandic implantou um sistema 0800, que ajudava pessoas de outros estados acessarem o sistema (para não gastar muito dinheiro em interurbanos cobrando uma tarifa de telefonia mais baixa). Além disso, já aceitava cartões de crédito para pagar a assinatura.

Xandó conta que um usuário começou a usar nomes e cartões de créditos falsos e começou a dar despesas à Mandic, pois ele prendia a linha e fazia downloads. Ele sempre criava um nome fictício com um nome americano e a senha era sempre um xingamento. Com o padrão, Mandic conseguiu encontrar as informações de quem fazia as fraudes.

Ele então pediu que Xandó fosse na delegacia para acompanhar os policiais na casa do suspeito e acabou se tornando responsável pela perícia no computador encontrado. “Eu descobri evidências. O computador tinha arquivos de download que só poderiam ter sido feitos por usuários pagantes. Ficou provado que ele usou o Mandic BBS e fez downloads com cartão de crédito falso. Pegamos o computador e voltamos para a delegacia.”

Mas, na ocasião, o suspeito não estava em casa. Ele foi à delegacia e disse que não sabia o que estava acontecendo. Anos depois, Xandó entendeu o porquê ele não sabia de nada. Em uma reviravolta contada em seu site, ele reencontrou aquele homem que descobriu apenas depois que o próprio filho de 12 anos tinha a ajuda de um amigo também pré-adolescente para hackear o sistema.

Amizade com Mandic

Peço para Xandó me contar como virou amigo de Mandic o suficiente para o ajudar em situações como a fraude. “Eu virei ‘jornalista’, apesar de não ter a formação, por causa dele. Ele que me indicou para o editor de tecnologia do Estadão. O Flávio precisava de alguém para cobrir férias de um mês e precisava de testes. O Mandic me indicou, eu fui lá no Estadão, conversei com ele e aquilo que era para eu ficar uma semana, eu fiquei dez anos.”

Antes disso, Xandó trabalhava na Proceda em uma área de pesquisas e conhecia uma das pessoas que se tornou sócio do Mandic. Ele montou um BBS experimental em um banco e colocou um recado dizendo que um amigo iria abrir um BBS – era o Mandic BBS.

“Eu me conectei e, na época, Mandic ligava um por um para conversar. Ele dizia que eu fui com o usuário número dois, mas se enganou, porque lembro que na ligação ele dizia que eu era o oitavo usuário. O sistema foi crescendo, eu era muito atuante nas conversas, e quando ele decidiu estruturar o sistema por assunto, me convidou para ser organizador da área de Windows (era como um moderador). Eu fomentava discussões, respondia dúvidas, entre outros. Como contrapartida, ele disse que eu não pagaria o sistema”, resume Xandó.

Essa amizade também rendeu muitas trocas de ensinamento em forma de frases de efeito. Xandó narra que no próprio BBS havia “tag lines” – frases que apareciam aleatoriamente, como uma frase de para-choque de caminhão. Isso chamava a atenção dele, que começou a colecionar as frases que ele se identificava e até colocava nas paredes do escritório algumas delas.

Mais tarde, até publicou um livro com algumas dessas frases, que também podem te inspirar: “Todos cozinham com água”, “Sem saber que era impossível, ele foi lá e fez”, “Pedir é mais caro do que comprar”, “Se mentir, seja breve”.

Por fim, peço para Xandó resumir Mandic. Ele diz que o amigo era inovação, ousadia e era destemido. E cita uma de suas outras frases de efeito: Quem faz, pode errar. Quem não faz, já errou.

*Esta é uma das reportagens da série Especial Dia da Informática 2023, celebrado em 15 de agosto. Confira aqui o especial completo.

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Laura Martins

Editora do IT Forum. Jornalista com mais de dez anos de atuação na cobertura de tecnologia. É a quarta jornalista de tecnologia mais admirada no Brasil, pelo prêmio “Os +Admirados da Imprensa de Tecnologia 2022” e tem a experiência de contribuições para o The Verge.

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