A impressão 3D já está pronta para a manufatura. Estamos preparados?

Para que inovação faça parte da vida das pessoas, será preciso superar alguns desafios. É o que escreve especialista do tema

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8:58 pm - 04 de março de 2020

Quando o Fórum Econômico Mundial informou que o valor da transformação digital em todas as indústrias poderia exceder US$ 100 bilhões (sim, bilhões!) até 2025, sabíamos que isso não aconteceria sem pessoas inovadoras e muito ousadas que estivessem dispostas a atravessar fronteiras e correr riscos.

Naquele momento, assim como agora, ninguém estava tão bem posicionado para aproveitar esse potencial quanto a indústria de manufatura.

Hoje, muitas indústrias estão em um ponto de virada. Até a chegada de sistemas recentes oferecendo dez vezes mais desempenho pela metade do custo, a tecnologia de impressão 3D, também conhecida como manufatura aditiva, era muitas vezes relegada a protótipos e projetos amadores. Atualmente, a capacidade única da impressão 3D de oferecer um impacto escalável em diversas demandas de empresas, governos e indivíduos – além da necessidade de soluções sustentáveis, produtos personalizados e cadeias de suprimentos mais estratégicas – citando apenas alguns casos – é inegável.

Há um grande impulso nesse espaço, à medida que mais fabricantes adotam a impressão 3D para entregar produtos que antes eram improváveis ou simplesmente impossíveis. Tecido humano, próteses e implantes específicos para a anatomia de um indivíduo em particular; peças de carro difíceis de encontrar; sapatos personalizados para formas de pés; casas artificiais, drones e robôs – estes e muitos outros casos são o futuro.

Mas, para que essas inovações façam parte de nossas vidas diárias, precisamos desbloquear esse mercado de diversas maneiras.

Da criação de protótipos à produção

Estamos à beira da 4ª Revolução Industrial, quando as tecnologias físicas e digitais alterarão radicalmente a maneira como as empresas concebem, projetam, produzem, distribuem e reparam quase tudo. Espera-se que essa mudança de paradigma mova completamente a indústria manufatureira global, que representa US$ 12 bilhões, digitalizando cadeias de suprimentos e processos de produção completos e criando 133 milhões de novas funções ao longo do caminho.

Para ir além da criação de protótipos e tornar esses exemplos incríveis de uso cada vez mais comuns, a indústria de impressão 3D deve identificar oportunidades de avançar, criar novas e poderosas ferramentas de design, investir em materiais especializados e diminuir o desnível de habilidades humanas necessárias.

Essa última necessidade é talvez a mais urgente e o que poderia estimular um progresso significativo no mercado de impressão 3D em 2020. Simplesmente não há trabalhadores qualificados suficientes para preencher os postos de trabalho que nossa indústria está criando. Resolver esse problema exige colaboração, o que leva tempo e um firme compromisso de toda a indústria, academia e governo. Além disso, exigirá vontade de pensar fora da caixa.

Educação

Escolas e universidades são atores críticos no futuro da impressão 3D. Muitas estão fazendo fortes investimentos em impressoras 3D e até mesmo os professores que estão nesse campo há décadas ainda têm um profundo entusiasmo pela inovação, eles estão ansiosos para explorar novas formas de abordar os desafios de projeto e fabricação, tanto os antigos como novos. Atualmente, muitas universidades tradicionais oferecem cursos de design baseados em impressoras 3D.

No entanto, há espaço para ampliar essas ofertas a fim de equipar melhor os inovadores da próxima geração. Não há programas suficientes que forneçam currículos completos que familiarizem os alunos com as várias disciplinas sugeridas por essa tecnologia, incluindo cadeia de suprimentos, engenharia industrial, design, ciência de materiais e fabricação. De acordo com uma pesquisa recente da Deloitte Insights, os entrevistados do setor dizem que desejam uma força de trabalho capaz de cruzar essas fronteiras disciplinares facilmente.

Para preparar os alunos para as carreiras de amanhã, muitas das quais usarão a tecnologia 3D, as universidades devem começar a adaptar os programas para além dos investimentos em máquinas e promover a próxima onda de inovação.

Novos materiais e processos de design

Para que a impressão 3D realmente passe da criação de protótipos para a produção, também será necessário que o setor expanda sua paleta de materiais e reduza os custos aos fabricantes. Os fornecedores não podem fazer isso sozinhos. Eles precisam de um ecossistema aberto de líderes da indústria, empresários, estudantes e acadêmicos que trabalhem juntos para imaginar e entregar a próxima geração de pós de polímeros de baixo custo e alto desempenho em uma cadeia de suprimentos altamente confiável e eficiente.

Materiais como metal e cerâmica em pó possuem fontes de suprimentos existentes, construídas para fabricação analógica que podem ser adaptadas para impressão 3D e expandidas para novos materiais e ligas, incluindo aço inoxidável, ouro, prata, titânio e outros pós aditivos de fabricação. Algumas abordagens para a impressão 3D também possibilitam a criação de novos materiais digitais, alterando o material base na forma de voxel por voxel. Este é realmente o início de uma nova era na ciência dos materiais.

Há uma oportunidade significativa para as empresas empreendedoras se unirem e se beneficiarem nessa área. O mercado de materiais de impressão 3D deve aumentar para quase US$ 6 bilhões até 2026, de acordo com um estudo recente da Reports and Data. Algumas empresas estão facilitando a inovação em suprimentos. A HP, por exemplo, possui um laboratório de materiais e aplicativos de plataforma aberta em Corvallis, Oregon, onde os parceiros vêm desenvolvendo, testando, certificando e entregando novos materiais ativamente.

Há também a oportunidade de ajudar a preparar a próxima onda de processos de design de impressão 3D de vanguarda. No início de 2019, a HP abriu as portas para um novo Centro de Excelência em Impressão 3D e Fabricação Digital em Barcelona, Espanha. Espera-se que a instalação de 150 mil metros quadrados (aproximadamente o tamanho de três campos de futebol) una centenas de especialistas em impressão 3D e fabricação digital, que se concentrarão na otimização e integração dos processos de produção de manufatura aditiva.

Frente a um novo ano, está claro que o impulso e os meios para a impressão 3D alcançar o próximo nível estão aí e finalmente fazer que a transição de um protótipo de nicho seja uma ferramenta de produção séria, mas fazer isso acontecer exigirá mais do que apenas palavras. Os líderes empresariais, a academia e o mundo científico terão que honrar a promessa, começar a pensar de maneira diferente, estar dispostos a correrem alguns riscos e aproveitar as oportunidades à medida que forem surgindo. Se isso acontecer, veremos a impressão 3D finalmente cumprindo sua promessa.

*Marcos Razón é diretor-geral da HP Inc. para América Latina

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