Microlearning ajuda times a solucionarem desafios imediatos

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11:30 am - 17 de fevereiro de 2020
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Julia ajeita os tênis, pisa na esteira e está pronta. Assim que o equipamento começa a funcionar, ela divide o foco entre duas telas. Na primeira, há informações a respeito do ritmo de corrida, tempo de duração do treino e batimentos cardíacos. Enquanto mantém as passadas controladas, em sincronia com o equipamento da academia, ela se concentra em seu segundo exercício: aprender conceitos sobre gestão de processos e colaboradores com ajuda de vídeos curtos no celular.

 

Guardada a devida licença poética, a descrição acima é de uma das sessões de treino da administradora Júlia Costa Martins, 24 anos, que aproveita o período na academia — e outros instantes livres em casa — para se especializar em temas ligados à área de recursos humanos (RH). Há cerca de quatro meses, ela acessa a plataforma online de educação corporativa Witseed, serviço oferecido aos funcionários pela Louis Dreyfus Company, onde trabalha.

 

Ao contrário do modelo tradicional de cursos online, os conteúdos em vídeo são curtos e rápidos, como se fossem pequenas pílulas de aprendizado. E é justamente isso que chamou a atenção dela. “Por conta da praticidade, aprendo o que preciso e tiro dúvidas sobre RH”, conta a analista de desenvolvimento e seleção.

 

Conhecido como microlearning, esse método de aprendizado – em formato de vídeos, podcasts, infográficos e games – tem ganhado força nas empresas. A explicação é simples: com a alta competitividade do mercado e o dia a dia cada vez mais corrido, os profissionais buscam treinamentos que os ajudem a solucionar desafios imediatos no ambiente de trabalho. Não é o fim da especialização, claro. As pílulas de aprendizado servem como porta de entrada para uma capacitação mais longa.

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Com 120 opções de treinamentos, a Witseed reúne 20 mil pessoas cadastradas das cerca de 30 empresas assinantes do serviço, entre elas, Fiat, Natura, Siemens e Gerdau. Os vídeos têm entre 5 e 7 minutos e são gravados por executivos de mercado e especialistas. Há conteúdos sobre soft skills, como negociação, comunicação de alto impacto e liderança exponencial, além de temas ligados a RH, como employer branding e people analytics. Em fevereiro, a ideia é que a plataforma passe a ter também conteúdos em áudio, acompanhando a maior demanda por conteúdo em formato de podcast.

 

“Toda semana, temos novos conteúdos. As empresas assinantes participam de um conselho e vão dizendo o que querem incluir na plataforma. Assim, acaba ajudando a engajar talentos e trazer mais produtividade”, explica Bruno Leonardo, cofundador e CEO da Witseed. Todos os vídeos são produzidos pela empresa, com uma equipe de editores de vídeo e áudio, roteiristas e técnicos.

 

Solução de desafios imediatos

 

Na rotina corporativa, o microlearning tem a ver com o conceito “learning in the flow of work”, expressão criada pelo pesquisador americano Josh Bersin. Basicamente, é a aprendizagem que ocorre durante o fluxo de trabalho. “Você tem um desafio no trabalho. Vai lá, aprende e entrega o desafio”, diz Bruno. Em outras palavras, a técnica consiste em procurar um treinamento rápido para solucionar um problema pontual. Esse modelo de “aprender fazendo” é cada vez mais adotada pelos profissionais em diversos setores, segundo especialistas. Entre as principais vantagens estão foco, prioridade e reconhecimento do que é preciso naquele instante.

“Em vez de ficar buscando conteúdos aleatórios, distribuídos em diversas plataformas, a pessoa tem porções adequadas de conhecimento na medida em que precisa para o contexto em que está”, afirma Gabriella Miranda, consultora educacional do DOT digital group

 

“Em vez de ficar buscando conteúdos aleatórios, distribuídos em diversas plataformas, a pessoa tem porções adequadas de conhecimento na medida em que precisa para o contexto em que está”, afirma Gabriella Miranda, consultora educacional do DOT digital group, empresa de tecnologia em educação de Florianópolis (SC), que atende mais de 60 clientes, entre eles, Tivit, Natura, Santander, Algar Tech, Tokio Marine e outros.

 

Existe, ainda, um fator emocional, segundo Djenane Rocha, gerente de produto da Afferolab. “Ao acessar um conteúdo e já aprender algo, isso traz uma sensação prazerosa, dá uma recompensa rápida, que estimula a querer continuar aprendendo.”

 

Apesar de ser uma tendência, o microlearning não é uma resposta para todo e qualquer desafio. É uma estratégia de aprendizagem específica para determinados contextos. Por exemplo, se o objetivo for realmente dominar um assunto ou virar referência numa área, não dá para descartar pós-graduação e MBA. “As pílulas são conteúdos com começo, meio e fim que dão conta de uma habilidade ou competência”, explica Gabriela.

 

Hábito de estudar

 

Ao escolher uma vídeo-aula, é importante saber qual o objetivo de aprendizagem, ou seja, qual habilidade pretende desenvolver. Essa reflexão também precisa existir assim que o treinamento termina. “A partir de agora, serei capaz de fazer o quê?”, “Qual atitude vou desenvolver?” e “Para que isso serve na minha vida?” são perguntas cruciais ao concluir a aula, diz a consultora educacional do DOT digital group.

 

Ao escolher uma vídeo-aula, é importante saber qual o objetivo de aprendizagem, ou seja, qual habilidade pretende desenvolver

 

Para quem pretende ir atrás dos conteúdos por conta própria, um cuidado fundamental é separar o joio do trigo. Hoje, gastamos muito tempo pesquisando determinados assuntos na internet até encontrar o que realmente tem qualidade e foi produzido por profissionais sérios. Antes de embarcar numa plataforma ou começar um curso em si, a dica é pesquisar as avaliações de outros usuários. “A rede ajuda nesse processo de curadoria”, aponta Djenane, da Afferolab.

 

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Segundo os especialistas, um erro comum é querer consumir tudo o que aparecer pela frente. Mais importante do que a quantidade é priorizar alguns temas e fazer do estudo um hábito. “Não dá para pegar um dia e querer assistir vários vídeos e podcasts”, diz Bruno Leonardo, da Witseed. Ao incluir os treinamentos no dia a dia, isso facilita o processo de aprendizado constante, uma habilidade que será cada vez mais importante em meio a tantas transformações.

 

Para as empresas, o método do microlearning também é vantajoso. Além de serem mais rápidos e baratos de produzir, os conteúdos em pílulas costumam ter um efeito motivador e de engajamento dos colaboradores, observa Djenane, da Afferolab. Segundo ela, os líderes também servem como pontos de orientação nesse processo de aprendizagem. “Hoje, o líder constrói junto, colabora e dá autonomia. Não vai ter todas as respostas, mas continua sendo uma referência para os liderados.”

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