O risco de subestimar o S do ESG

A manutenção de boas práticas sociais mitiga riscos e cria condições para o crescimento saudável

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11:01 am - 04 de outubro de 2023

Já reparou que, quando falamos em ESG, em geral a pauta ambiental pula na frente? Não é uma surpresa, claro – temos uma emergência climática acontecendo e o assunto requer nossa atenção imediata. Mas o ESG não é apenas o meio ambiente – ele também se ocupa com o âmbito social e, em especial, com questões relacionadas a desigualdades.

A desigualdade é um risco sistêmico que ameaça os fundamentos políticos e econômicos nos quais as empresas dependem para operar, inovar e crescer. Abordar a desigualdade é estimular o crescimento econômico sustentável de longo prazo. O “S” em ESG é um pilar crítico de ação que tem sido negligenciado por muito tempo. O custo da inação aumentará drasticamente à medida que as consequências da desigualdade continuarem a se desdobrar.

A desigualdade mina a dignidade humana e o progresso social. É um risco que não ameaça apenas comunidades ou empresas individuais, mas sociedades inteiras e a economia. Ela erode a confiança em nossos sistemas políticos e econômicos, aumenta os danos causados por crises como a COVID-19 e as mudanças climáticas, limita o crescimento econômico e prejudica nossa capacidade coletiva de lidar com desafios globais complexos. Portanto, representa um risco empresarial significativo e crescente que impacta o desempenho empresarial, limita a produtividade e a inovação, desestabiliza as cadeias de suprimentos e enfraquece a confiança e os gastos dos consumidores.

Um estudo recente encomendado pela World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) coloca o assunto em pespectiva: os 10% mais ricos da população mundial detêm mais de três quartos de toda a riqueza, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 2%. Mas mais do que isso, 19% de todos os trabalhadores no mundo ganham menos do que precisam para sair da pobreza. Questões relacionadas à desigualdade estão literalmente tirando a vida de uma pessoa a cada quatro segundos.

Mas por que isso é um risco para as empresas? Ora, porquê riscos sistêmicos ameaçam a economia como um todo, colocam toda a operação em risco. Vamos a alguns dos riscos mais comuns causados pela desigualdade:

  • Ambiente operacional volátil – o que dificulta o planejamento estratégico de longo prazo.
  • Insegurança na cadeia de suprimentos – empresas são tão resilientes quanto os ecossistemas, comunidades, economias e sociedades nas quais operam. Quando os trabalhadores e agricultores nas cadeias de suprimentos não conseguem atender às suas necessidades básicas e estão vulneráveis a choques, as empresas correm o risco de escassez de suprimentos, flutuações de preços e outras interrupções.
  • Erosão da produtividade e inovação – disparidades amplas de renda e riqueza afetam a motivação dos trabalhadores, ao mesmo tempo que limitam o acesso à educação e habilidades, reduzindo a produtividade do trabalho e contribuindo para escassez significativa de habilidades. Quando pessoas com origens diversas não são representadas nos negócios no mesmo nível que na população em geral, as empresas perdem seu talento e perspectivas no desenvolvimento de novos produtos, serviços e modelos de negócios.
  • Riscos regulatórios e de conformidade – diante do crescente risco sistêmico, governos ao redor do mundo estão sendo instados a agir decisivamente em relação à desigualdade. Os governos estão, por exemplo, fortalecendo regulamentações em torno de práticas trabalhistas inaceitáveis, por meio de iniciativas de diligência obrigatória em direitos humanos e restrições de importação.
  • Risco de reputação – à medida que o risco sistêmico da desigualdade se torna mais agudo, também aumenta a atenção em torno da conduta corporativa e do papel das empresas na sociedade de forma mais ampla. Se uma empresa não for percebida como parte da solução, será vista como parte do problema. No nível individual da empresa, aquelas empresas que não forem vistas tomando medidas em apoio aos esforços para combater a desigualdade terão dificuldade em atrair e reter talentos e também podem ser responsabilizadas pelos consumidores.

Enfrentar a desigualdade pode fortalecer o ambiente operacional ao construir confiança, aprimorar a estabilidade social e política e conter crises. Há também evidências crescentes de que enfrentar a desigualdade é um impulsionador importante para o crescimento econômico sustentável de longo prazo. Os benefícios ao nível da empresa associados aos esforços para combater a desigualdade incluem atrair e reter talentos, conquistar consumidores, construir cadeias de suprimentos resilientes e se manter à frente das mudanças de políticas e regulamentações.

E nessa luta, a tecnologia pode proporcionar a confiança necessária e aprimorar a responsabilidade empresarial, ajudando as organizações de identificar, prevenir e mitigar riscos aos direitos humanos por meio de uma cadeia de valor integrada. Processos de negócios impulsionados digitalmente podem permitir transparência e acessibilidade em meio à complexidade das regulamentações e padrões globais de direitos humanos e trabalhistas, dados distribuídos e colaboração das partes interessadas.

As empresas precisam reavaliar todo o seu processo de negócios, políticas e práticas e fazer do respeito à dignidade humana o cerne da cultura empresarial de como os negócios são conduzidos. Sem essa visão, a sua estratégia ESG não está completa, e sua empresa está sujeita a riscos desnecessários. No ESG, a visão tem que ser holística: o planeta, a sociedade, e a empresa, em uma sintonia que beneficia a todos.

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