O ano é 2022, a pauta ESG ainda é um desafio, mas as startups podem ser a solução

Deveríamos apenas discutir a força inerente à diversidade humana e como potencializá-la, mas ainda debatendo formas de incluir pessoas no mercado

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2:36 pm - 28 de dezembro de 2022
impacto social, ESG, parceria, solidariedade Imagem: Shutterstock

O ano é 2022.

Quase um quarto do Século XXI se passou, e questões que envolvem meio ambiente, sustentabilidade e governança ainda são desafios a serem enfrentados pela nossa sociedade e o nosso mundo.

Nunca se discutiu tão abertamente e de maneira tão ampla e polarizada uma agenda de costumes. As redes e mídias sociais amplificam todo e qualquer discurso. A diversidade e inclusão de pessoas ainda (e tristemente) são tabus em rodas de conversa. Quando deveríamos apenas discutir sobre a força inerente à diversidade humana e como poderíamos potencializá-la, estamos ainda debatendo formas eficientes de incluir pessoas no mercado de trabalho.

Pela primeira vez, mulheres com nacionalidade de alguns países do Oriente Médio puderam assistir a uma partida de futebol presencialmente em um estádio. Acompanhamos o primeiro trio de arbitragem formado por mulheres apitando um jogo em uma Copa do Mundo de futebol masculino, sediada no Oriente Médio.

Também pela primeira vez teremos uma pessoa com deficiência a participar de um treinamento para astronautas oferecido pela Agência Espacial Europeia, em um estudo que contará com a cooperação da NASA.

Em um ano de tantos ineditismos, continuamos a assistir estarrecidos a uma guerra no continente europeu, a conviver com uma pandemia que a cada dia parece se tornar endêmica e a olhar países e governos que deixam de enxergar problemas ambientais e sociais que afligem o planeta.

E, trazendo um pouco mais para a nossa realidade, também não podemos olhar de modo indiferente a evasão escolar no Brasil. Um estudo realizado pelo Ipec para a Unicef mostrou que dois milhões de crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos deixaram a escola no País. Estamos diante de uma real crise em nossa educação, provocada principalmente pela enorme desigualdade social-financeira que vivemos hoje no Brasil.

Obviamente, fórmulas mágicas para estes ou outros problemas não existem, mas, com certeza, ações e movimentos construídos por pessoas e empresas podem surtir efeito a curto, médio e longo prazo.

E é neste momento que podemos ver a inovação que o ecossistema de startups traz para a temática ESG (Environmental, Social and Governance).

O que vemos hoje são startups que surgem com objetivo de trazer soluções para os problemas encontrados dentro do âmbito ambiental, social e de governança. São empresas que nascem focadas em ESG.

Nota-se que startups, em especial as startups tech (que aplicam tecnologia em suas soluções), como as Cleantech (que possuem foco no meio ambiente e na sustentabilidade), Energytech (com foco em soluções voltadas principalmente para energia renovável), as Regtech (que têm foco em governança e na busca de soluções para cumprimento de normas) e as Edutech (dedicadas à educação e sistemas de aprendizagem), já nascem com o DNA em ESG.

Observando o desenvolvimento dessa segmentação dentro do ecossistema de startups, a Comissão de Startups e Scale-ups criou um grupo de trabalho dedicado a observar as startups nativas em ESG (terminologia adotada pelo grupo de trabalho) e criar ferramentas para auxiliar as não nativas em ESG e que desejam adotar esta agenda.

A diversificação apresentada pelas startups nativas em ESG e suas soluções socioambientais produzem um protagonismo excepcional na construção de sociedades mais sustentáveis, criando cadeias e ambientes também mais sustentáveis.

E os investidores estão atentos. A cada dia cresce a quantidade de fundos de investimentos em ESG e investidores que investem em startups que tenham valores ESG. Na busca de desenvolver investimentos sustentáveis, grandes investidores, em conjunto com a ONU, construíram Principles for Responsible Investment baseados em princípios ESG que devem ser adotados por seus signatários. Tais preceitos têm norteado e desenvolvido fundos e investimentos ao redor do globo. Para se ter uma ideia, de acordo com a Bloomberg Intelligence, fundos ESG superaram a marca de 35 trilhões de dólares em 2020, devendo alcançar a marca de 40 trilhões de dólares em 2022.

Mas, não se trata apenas de estar em conformidade com as exigências do investidor. Precisamos de uma vez por todas entender que as questões trazidas pela sigla ESG estão em nosso dia a dia e não somente em mesas de debates de especialistas.

Como cidadãos, precisamos nos conscientizar que ações individuais simples, como reciclar ou reutilizar itens, fazem a diferença.

Como empresas, precisamos assegurar que nossas decisões de negócio possuam responsabilidade corporativa e impactem positivamente nossa sociedade.

Ferramentas e guias como o caderno de “Governança Corporativa para Startups&Scale-ups” e o “Guia de Boas práticas para uma agenda ESG nas organizações”, produzidos respectivamente pela Comissão de Startups e Scale-ups e pela Comissão de ESG do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), têm se mostrado grandes aliados de empresas, administradores, empreendedores e startups quando se busca por adoção de negócios norteados por boas práticas de governança e compliance.

A adoção de boas práticas de governança, compliance (conformidade) e gestão, observando a pauta ESG, não deve e não pode ficar restrita às grandes corporações ou empresas de capital aberto, que já atuam debaixo de regulações e legislações pesadas sobre o tema, e às startups nativas em ESG.

Negócios e empresas somente serão sustentáveis se atuarem com responsabilidade corporativa, integridade e regras de governança (que sejam adequadas a seus respectivos tamanhos) e que observarem o ambiente onde estão inseridos.

Devemos estar atentos e conscientes do nosso papel como agentes de impacto social. E ser um agente de impacto, independentemente do nosso papel como cidadão, empreendedor, investidor, sócio, administrador de empresa, é auxiliar a sociedade a encontrar e construir jornadas para um mundo sustentável e com mais justiça social.

O ano é 2022. A pauta ESG ainda é um desafio. Mas, hoje, mais do que nunca, temos capital humano, meios e ferramentas para superá-lo, e as startups focadas em ESG estão aí para mostrar que é possível sim desenvolver sociedades mais sustentáveis.

Que venha 2023 e que seja repleto de soluções inovadoras em ESG.

* Ana Paula de Almeida Santos é Executiva da área do Direito, foi Diretora Jurídica e Compliance de grandes empresas, e atualmente lidera a área de Governança, Legal e Compliance da Akad Seguros. Formada em Ciências Jurídicas pela Universidade Mackenzie, com LLM – Masters in Law pelo Ibmec e MBA em Inovação pela FIA – Business. Recebeu os prêmios Women Worth Watching Award em 2016 pela Diversity Journal e Chambers Women in Law Award: Latin America 2016 por “Outstanding Contribution to Advancing Gender Diversity in the Legal Profession” pela Chamber and Partners, e foi nomeada para o Latin American Counsel Awards 2017 por sua atuação na área regulatória para serviços financeiros. Membro do Comitê de Startups & Scale-ups do IBGC. Presidente do Idis – Instituto pela Diversidade e Inclusão no Setor de Seguros. Conselheira Estadual – Suplente da OAB/SP – triênio 22/24.

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