Mulheres que Inspiram com Luciana Durbano: fortalecendo o mercado com soluções de cibersegurança

À medida que empresas, governos e indivíduos se tornam mais interconectados, o setor de cibersegurança se expande

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10:00 am - 04 de dezembro de 2023
Luciana Durbano, Cibersegurança

À medida que empresas, governos e indivíduos se tornam mais interconectados e dependentes de sistemas digitais – e se você viveu no planeta Terra nos últimos anos, sabe que isso tem crescido exponencialmente -, o setor de segurança cibernética se expande. Esse desenvolvimento é resultado também do aumento de ameaças complexas e sofisticadas, que visam comprometer dados sensíveis, sistemas críticos e até mesmo a infraestrutura de nações inteiras. Em outras palavras: está cada vez mais difícil se manter seguro na internet.

Por outro lado, conforme o mercado de cibersegurança amadurece, novas oportunidades de carreira emergem, e a busca por profissionais qualificados e capacitados para enfrentar esses desafios está em ascensão. Um fato interessante é que, de acordo com um levantamento realizado pela HackerSec, o número de mulheres interessadas em buscar capacitação nos cursos de cibersegurança triplicou nos últimos três anos.

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Essa pode ser a consequência do progresso na inserção feminina no mercado de tech, já que o relatório Cybersecurity Workforce Research 2019, conduzido pelo ISC, revelou que a força de trabalho feminina na comunidade de TI atingiu 24%. Isso representa mais do que o dobro do registrado em 2017, quando essa porcentagem era de apenas 11%. Mesmo assim, ainda fica o questionamento: será que esse aumento reflete mesmo um movimento crescente em direção à igualdade de gênero e à diversificação da mão de obra? 

Para explorar essa questão complexa, conversei com Luciana Durbano, co-fundadora e COO da EcoTrust, uma empresa que oferece a primeira plataforma SaaS de Inteligência em Riscos Cibernéticos, em nível global. A startup, que já é uma referência no setor, tem uma missão disruptiva que atraiu o interesse e o investimento da DOMO. Luciana compartilhou excelentes insights sobre a atual paisagem da representação feminina no cenário de cyber, as conquistas, desafios e como a EcoTrust está empenhada em criar um ambiente mais inclusivo.

Acompanhe agora os detalhes da nossa conversa: 

Na prática, o mercado de cibersegurança está abrindo mais espaço para as mulheres?

Luciana: Eu acredito que as mulheres estão sendo as agentes de mudança e estão abrindo espaço não só no setor de tecnologia, mas no mercado como um todo. Elas estão superando barreiras, desafiando estereótipos e lutando por oportunidades de maneira obstinada e corajosa. Ao considerarmos indicadores relevantes, como a pesquisa “Estatísticas de Gênero” do IBGE, vemos que, em nosso país, o nível de escolaridade das mulheres supera o dos homens: aproximadamente 29,75% delas frequentaram a graduação, em comparação com cerca de 21,5% dos homens.

No entanto, é lamentável que o mercado de trabalho ainda não reflita plenamente essa realidade. Dados históricos reiteram que as mulheres continuam a enfrentar desigualdades significativas, e quando nos referimos a cargos de liderança, essa discrepância se torna ainda mais evidente. Claro que há uma evolução palpável, especialmente em comparação com o passado. Entretanto, na prática  há muito a ser alcançado para atingir uma transformação verdadeiramente substancial. 

Portanto, em resposta à pergunta inicial, não acredito que o mercado esteja abrindo mais espaço para as mulheres de forma proativa. Pelo contrário, são elas próprias que estão trabalhando incansavelmente e “colocando o pé na porta” para traçar seus caminhos, demonstrando sua capacidade técnica e estratégica, além de contribuir para uma mudança real e duradoura.

Diante dessa situação, fica evidente que a contratação de profissionais altamente qualificados na área de tecnologia continua sendo uma dificuldade para as empresas do setor. Quais são os desafios de contar com mulheres nos times?

Luciana: Percebo que existem dois pontos essenciais que contribuem para a complexidade desse cenário. O primeiro é que o mercado tecnológico está atualmente passando por um período de crescimento exponencial. Essa ebulição da indústria resulta em uma corrida por talentos especializados. Então, é difícil contratar em geral, independentemente do gênero. Contratar mulheres acaba sendo um desafio extra.

O outro, que está relacionado ao primeiro, é a trajetória de entrada das mulheres em tech ser muito recente. Sempre tivemos pioneiras, mas a participação feminina em larga escala, especialmente em segmentos como cibersegurança, ainda está em fase inicial. De uma década para cá, as mulheres começaram a ingressar mais nas universidades em busca de formação tecnológica.

Em contrapartida, muitos homens já possuíam formação e experiência na área de tecnologia, então, notando o movimento do mercado, optaram por se especializar em cibersegurança. Assim, temos um problema em cascata: onde a maioria das mulheres estão no processo inicial da carreira, e os homens já com mais décadas de penetração na área, especializações e é claro liderança.

O problema é complexo e nós nem começamos a falar das questões mais sutis como cultura corporativa e os preconceitos enfrentados. Por isso, a entrada feminina nesse campo, somada às demandas do mercado em constante evolução, exige esforços contínuos para superar esses obstáculos e promover uma maior diversidade de gênero nesse setor vital para a sociedade moderna.

No entanto, existe um movimento feminino incansável em reduzir o gap de gêneros da área de cyber e contamos hoje com diversas iniciativas para apoio, incentivo, desenvolvimento e educação na área como, por exemplo, Meninas de CybersecWomcy,  e Cloud Girls.

Quais são os desafios de ser uma desbravadora em um mercado tão promissor e em constante transformação?

Luciana: Vou revelar uma coisa importante: eu não sou desbravadora porque achei que tinha que ser, eu sou porque aconteceu! A minha jornada profissional se desenrolou de maneira inesperada. Nunca me imaginei como empreendedora, comecei a trabalhar aos 14 anos e, desde então, trilhei caminhos por grandes empresas multinacionais. A sensação de estabilidade, boas remunerações, promoções e benefícios que o ambiente corporativo oferece eram atrativos que eu valorizava.

No entanto, o chamado para a inovação e a busca por um propósito maior acabaram por me conduzir para o empreendedorismo.  Em 2013  motivada por impactar de forma mais abrangente o mercado,  assumi a área de operações da EcoTrust, que nasceu em 2008 e foi fundada pelo meu sócio e irmão Vinícius Durbano, inicialmente como uma consultoria de TI. Um ponto de virada, que chamamos de segunda fundação da empresa ocorreu quando um dos nossos principais clientes foi atingido pelo vírus Ransomware, e tivemos que lidar diretamente com as complexidades desse problema.

Para contextualizar, esse vírus teve seu primeiro registro em 1989 e teve um impacto significativo para época no mundo da tecnologia. Antes, a exploração de vírus cibernéticos costumava ter um impacto limitado nas empresas, principalmente devido à falta de formas eficazes de monetização desses ataques. Mas após a popularização das criptomoedas, veio uma oportunidade gigante para os atacantes explorarem os sistemas corporativos de maneira mais lucrativa e sem rastreabilidade, o que se tornou uma mina de ouro.

Na época do ataque ao nosso cliente, meados de 2015,  essa era uma ameaça “nova” e a falta de informações sobre como esse tipo de ataque se comportava gerou desafios consideráveis para nossa equipe. Mas, apesar das dificuldades, conseguimos recuperar os dados e superar a situação. No entanto, ficou evidente que não poderíamos correr o risco de enfrentar problemas semelhantes no futuro, o que nos motivou a aprofundar nosso conhecimento.

Como resposta, estabelecemos uma unidade de negócios para auxiliar gratuitamente empresas que haviam sido invadidas. Essa iniciativa nos levou a atender cerca de 500 empresas, aprofundando nosso entendimento sobre o funcionamento desses ataques e estabelecendo assim um novo serviço de Resposta a Incidente Cibernético. Com esse novo modelo de negócio estabelecido, atendemos mais de 3 mil empresas após um ataque Ransomware, foi incrivelmente assustador ver de perto tantos casos de uma vez só.  

A partir dessa base de profundo conhecimento prático se iniciou em 2017 o desenvolvimento da nossa Plataforma de Inteligência em Riscos Cibernéticos, a EcoTrust. Como resultado, tivemos uma virada 360º no negócio em 2019, que nos possibilitou experimentar novos desafios, agora como uma startup em  crescimento exponencial. O percurso pode ser desafiador, mas as conquistas e o impacto positivo gerado fazem dessa jornada e é algo recompensador.

Com a sua vasta experiência em posições de liderança e, atualmente, à frente de uma empresa inovadora, que orientações você compartilharia com as mulheres que almejam progredir em suas trajetórias profissionais?

Luciana: Acredito que a construção da confiança é fundamental em todas as relações. Ter confiança em si mesma e em suas habilidades, propósito  e, principalmente, na sua essência é o ponto de partida para você contar menos possível com apoio externo, até porque ele é escasso e incerto. Com a autoconfiança, é possível ser mais antifrágil do que o esperado para um posicionamento feminino, que é uma habilidade importante para a jornada  do  seu sucesso e conquistará a credibilidade necessária para avançar.

Romântico é pensar que todo esse “blá” que assistimos hoje nas redes sociais vai acontecer na prática. É você por você! E “se” no meio do caminho surgir um apoio, ótimo! Além disso, buscar especialização é crucial. Investir em educação contínua, cursos, treinamentos e aprimoramento de habilidades específicas permitirá que você se torne uma especialista em sua área. Em resumo, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser, esse é o conceito do método: Lifelong Learner.  

É importante que cada um encontre a sua forma de evoluir, não existe bala de prata pra isso!

Por último, quais são suas referências femininas e por que elas são exemplos a serem seguidos?

Luciana: Começando por Antonia Zilia Antunes, minha avó de 82 anos, ela é uma verdadeira fonte de inspiração para mim. Sua essência de força e sabedoria têm sido fundamentais em minha jornada. Ela cresceu em um ambiente desafiador, trabalhando desde cedo na roça, e isso me ensinou que a fortaleza interior é a maior arma para enfrentar qualquer desafio.

E é claro minha rainha, minha mãe Lígia que  é uma fonte inesgotável de inspiração, me demonstra diariamente  uma resiliência de alto nível, incansável, inteligente, criativa e com visão muito além do seu tempo. Toda a sua dedicação e capacidade de ver o lado bom das situações me ensinaram a importância da perseverança. 

Não satisfeita com os desafios já superados,  aos 50 anos de idade, ela adotou o meu irmão, que tem o Transtorno do Espectro Autista, o que trouxe muito aprendizado para toda família. É sobre se despir de tudo que esse mundo traz e reaprender sobre a vida e valores. Ela é fantástica! 

Quando penso no âmbito profissional, duas mulheres que me  influenciaram  muito foram a Djanira de Barri e a Valquiria Akemi, ambas trabalharam  comigo há muito tempo. Elas me ensinaram a importância de fazer o que precisa ser feito e me mostraram que melhor do que inventar desculpas, é superar os obstáculos com coragem e atitude.

Enquanto às figuras públicas, admiro profundamente a Cristina Junqueira, co-founder do Nubank. Ela quebrou barreiras tradicionalmente masculinas com graciosidade e inovação. Sua paixão pela Disney e pela excelência no atendimento ao cliente é inspiradora, mostrando que é possível integrar o profissionalismo com a autenticidade e a feminilidade. 

Outra que merece destaque é Camila Farani, empresária, empreendedora, investidora e maravilhosa. Sua determinação empreendedora e coragem em enfrentar desafios, inclusive as críticas sociais, demonstram sua resiliência e comprometimento com seus valores.

Além disso, participar de grupos de networking, como o Cyber Girls Brasil e o proScore, liderado por Melissa Penteado, é uma maneira incrível de se envolver e aprender com outros profissionais. É notável como essas iniciativas podem proporcionar uma rede valiosa de apoio e oportunidades.

Além disso, uma menção especial ao grupo de amigas que compartilham histórias, lutas e conquistas da forma mais genuína que eu já vi. São elas Cinthia Oliveira, Catia Souza, Renata Quintela, Suzana Cruz, Carla Vogelsanger, Adriana Karpovicz, Vania Silva, Cibele Oliveira, Luciana de Oliveira, Poliane Novaes e Alessandra Alves. Ter uma rede de apoio tão autêntica é um verdadeiro tesouro. 

Cada uma delas me mostrou que ser uma mulher forte e ter uma carreira não apenas é possível, mas também é uma jornada cheia de significado e impacto. Elas iluminam o caminho para muitas mulheres que buscam alcançar seus objetivos pessoais e profissionais.

Mulheres na vanguarda da cibersegurança e tecnologia

O crescimento exponencial das ameaças cibernéticas e a constante demanda por profissionais altamente qualificados são fatos que podemos encarar como oportunidades. Temos a prova disso na jornada da EcoTrust marcada por superações e inovações, é um verdadeiro exemplo do poder da determinação e da paixão por impulsionar mudanças significativas através do empreendedorismo.

A Luciana é uma voz do empreendedorismo e liderança feminina e sua busca por sucesso profissional inspira outras mulheres. Além disso, seu comprometimento em criar um mercado mais diverso e inclusivo é um lembrete poderoso de que as mulheres não só estão enfrentando as barreiras, mas as estão demolindo. 

E isso não é apenas uma questão de igualdade de gênero, mas também de aproveitar ao máximo o potencial humano em um mundo cada vez mais interconectado e digital.

Convido vocês a refletirem sobre as percepções e insights compartilhados até aqui. E não perca a próxima edição, onde continuaremos explorando os relatos inspiradores e desafiadores de mulheres que estão moldando o futuro do empreendedorismo. 

Até lá, lembre-se de que cada passo dado contribui para um mundo mais resiliente e inovador! 

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