Nuvem: migrar ou não migrar?

A mudança do ambiente interno para o externo está ligada diretamente a criticidade do negócio, continuidade, visão de futuro e estratégia

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10:11 am - 23 de abril de 2019

A decisão de migrar para nuvem é única e intransferível, ou seja, a mudança do ambiente interno para o externo está ligada diretamente a criticidade do negócio, a necessidade, continuidade, visão de futuro e principalmente a estratégia. O que é bom ou ideal para uma organização pode não ser para outra. Uma análise detalhada do ambiente tecnológico interno da empresa precisa ser feita para subsidiar a tomada de decisão. A mudança tem impacto financeiro, tecnológico e também cultural, pois na grande maioria das vezes muda a forma de acesso ou a sua forma de interação com as aplicações para os usuários finais.

No mercado, há várias empresas que prestam serviço de consultoria e assessoria para migração para nuvem. Porém, muitas não se atentam adequadamente a visão de futuro e estratégia da empresa, nem mesmo consultam todos os envolvidos (‘stakeholders’). Isso significa que, às vezes, a mudança não traz benefícios, vale mais a pena investir internamente do que migrar para um ambiente em ‘cloud’ sem efetiva avaliação prévia. A equipe interna de TI da empresa quando bem alinhada com a diretoria ou conselho administrativo, tem plenas condições de levantar as informações necessárias e auxiliar na decisão de mudança.

Este entendimento acima é fundamental.

Há inúmeras opções, das mais simples a mais complexas e avançadas, mas primeiramente é importante entendermos os cinco níveis de classificação dos data centers, os três principais tipos de nuvens e as duas mais comuns formas de alocação no ambiente. Pois são elementos que têm influência direta na alocação de recursos financeiros, no nível de segurança e no gerenciamento do ambiente.

Classificação TIER

Este padrão é global e foi criado pelo Uptime Institute, com sede em Seattle, Washington. Este instituto possui uma rede global de consultores que realizam as certificações de data centers, treinamentos e consultorias em mais de 80 países. Os data centers podem ser classificados em ‘tier’ I, II, III, IV e V. Quanto maior o nível, menor a probabilidade de paradas. O nível mais alto também possui maior redundância da infraestrutura. Esta classificação, ou categoria está ligada com a continuidade das operações e do negócio. Em resumo:

Data center tier 1: não há exigência de componentes em redundância. É apropriado para pequenos negócios que não sofram com interrupções por atividades planejadas e não planejadas. É suscetível a falhas. Possui ‘no break’, mas não um sistema de climatização ou refrigeração adequado. Alguns data centers não possuem grupo gerador de energia para suprir a falta de rede elétrica em toda estrutura, somente em áreas críticas. É comum ser desligado anualmente para realização de manutenção preventiva e corretiva. Em casos de emergência ou necessidade de manutenção imediata é comum ocorrer desligamentos e reinicio de sistemas com maior frequência. O serviço não é capaz de ser mantido de forma contínua.

Data center tier 2: atende todos os requisitos do ‘tier’ I e possui componentes parcialmente redundantes. É apropriado para pequenos negócios com horário fixo de expediente, que permita o desligamento de equipamentos ou sistemas em horários sem expediente. É suscetível a falhas. Possui sistema de proteção de energia e grupos geradores. Assim como o ‘tier’ I, também é comum ser desligado anualmente para realização de manutenção preventiva e corretiva, bem como desligamentos e reinícios ainda podem ser frequentes.

Data Center tier 3: possui componentes em redundância para realizar qualquer manutenção preventiva sem necessidade de suspender temporariamente os serviços. É apropriada para empresas que operam 24×7 e que podem planejar interrupções por curtos períodos. Os sistemas e subsistemas elétricos podem ser removidos sem causar interrupção. É suscetível a paradas planejadas. É comum o projeto de um data center ‘tier’ III se converter posteriormente em ‘tier’ nível IV.

Data center tier 4: possui componentes completamente redundantes. É tolerante a falhas e apropriado para empresas com presença nacional ou internacional, que atuam 24/7 em mercado altamente competitivo. Falha única em um componente ou elemento de distribuição não causará impacto ou interrupção dos serviços. Não há necessidade de realizar desligamentos ou reinícios para remover componentes ou equipamentos. Sistemas complementares de rede elétrica são separados fisicamente.

A infraestrutura é projetada para alta disponibilidade, com vários conjuntos, sistemas, equipamentos e links redundantes com abordagens distintas. Há garantia de confiabilidade e disponibilidade dos serviços.

Data Center tier 5: no Brasil, esqueça por enquanto. O nível 5 é um padrão relativamente novo e atende aos mesmos padrões do nível 4, além de vários outros itens adicionais, como por exemplo o funcionamento sem água para a refrigeração, ou detecção de poluentes do ar externo. A segurança física em cada ‘rack’ também é uma exigência, além de vigilância por vídeo monitoramento ativado por movimento com retenção mínima de 90 dias. Quer mais? Paredes exteriores da instalação devem ser do tipo não inflamáveis.

Escolher o data center adequado em concordância a exigência para o negócio pode trazer tranquilidade, além do benefício principal que é a segurança.

Nuvem privada: em geral, são construídas em um data center privado, exclusivamente para uma única empresa, sendo comum a implementação interna que atende a uma organização e suas diversas filiais. Normalmente a infraestrutura utilizada pertence a empresa, a qual tem total controle sobre como as aplicações são implementadas, contudo, também pode ser fornecida por um provedor externo com o diferencial de não ser dividida com outras organizações. Dentre os benefícios estão: possibilidade de utilizar os recursos internos ou equipamentos legados para manter a nuvem; estruturação em total conformidade com a cultura da organização e normas de controle interno.

Nuvem pública: normalmente é mais barata em comparação com as demais. Geralmente os custos com equipamentos (hardware), aplicativos (software) e links de internet são cobertos pelo provedor, e a empresa paga pela utilização dos recursos. É adequada para uso de software como serviço (SaaS). O ambiente é construído com recursos físicos compartilhados, contudo os serviços são oferecidos em um ambiente virtualizado com níveis de segurança definidos para acesso aos clientes, que, independente um do outro, tem possibilidade de ampliação da capacidade de armazenamento, memória e processamento.

O compartilhamento dos recursos e as camadas de acesso são bem definidas. Em uma análise superficial parece ineficiente, porém é uma nuvem com excelente desempenho. As aplicações de um cliente se mantêm invisíveis aos demais. Os principais benefícios são: disponibilidade, por se tratar de uma nuvem que está ponta, escalabilidade de recursos com possibilidade de trabalhar sob demanda; confiabilidade e custos controláveis.

Nuvem híbrida: é a mesclagem entre os modelos privada e pública e tem por objetivo utilizar o melhor de ambos os lados, em resumo, junta a escalabilidade de recursos em nuvem pública e a proteção de dados críticos em nuvem privada. É comum adotar nuvem híbrida quando a organização tem uma boa infraestrutura interna e, quer usufruir dos benefícios de software como serviço (SaaS).

Os benefícios incluem: escalabilidade de recursos, flexibilidade, controle de custos e um bom controle técnico sob a estrutura e aplicações. Quando a empresa precisa ganhar escalabilidade devido ao crescimento do negócio, uma nuvem híbrida é uma boa solução pois é possível utilizar os equipamentos e soluções que já existem na nuvem privada e contratar em nuvem publica somente aquilo que a empresa não dispõe.

Vantagens e desvantagens de estar em um data center externo

Uma grande vantagem é a possibilidade de utilizar software como serviço (SaaS), os quais não precisam estar instalados nas estações de trabalho de usuários finais. As atualizações de software podem ser feitas de forma automática ou sob demanda, sem necessidade de intervenção do usuário. O acesso a plataforma pode se dar de qualquer lugar, basta um link de internet, assim os colaboradores não ficam restritos a um ambiente local. A necessidade de manutenção na infraestrutura física diminui consideravelmente.

Nos data centers tier 4 e 5 a disponibilidade é altíssima e a escalabilidade de recursos é enorme podendo pagar apenas pelo uso, aumentando e diminuindo conforme necessidade. E por fim não podemos esquecer da recuperação em caso de desastres. Os grandes fornecedores de serviço, geralmente, estão bem mais preparados do que a empresa com seu ambiente local.Quando há alguma falha na rede, os acessos são rapidamente direcionados e o funcionamento é estabilidade com maior velocidade.

Em relação as desvantagens, uma das principais é a dependência do acesso à internet. Se o acesso falhar e não houver redundância, os sistemas estarão indisponíveis. Quando há necessidade de alta taxa de transferência ou sincronização entre ambiente em ‘cloud’ e ambiente local, o link de internet deve ter uma boa banda e estar ativo continuamente.

Principais soluções do ambiente

Colocation: é explorado por muitas organizações e apoia o aumento da capacidade da infraestrutura (servidores). Corresponde a um espaço físico alugado dentro de data center, onde a empresa pode colocar, hospedar, seus servidores e usufruir da infraestrutura do fornecedor deste serviço. Geralmente a hospedagem é compartilhada para diversos servidores de várias organizações, e além do espaço físico, é comum também o compartilhamento de banda de internet, conexão, eletricidade, etc. A empresa que opta por este modelo tem total controle sobre o equipamento e pode intervir na manutenção quando necessitar.

Empresas que optam pela hospedagem dos equipamentos em um data center tier III em diante, podem usufruir da alta disponibilidade e equipe trabalhando 24/7 todos os dias do ano. A contratação na modalidade de ‘colocation’ é mais comum quando a empresa investiu muito em hardware e não quer migrar seus dados sensíveis para uma plataforma de equipamentos compartilhados, mas necessita usufruir de um espaço de infraestrutura mais adequado com energia, refrigeração e segurança aperfeiçoada.

Cloud computing: possibilita que a organização tenha soluções personalizadas, sob medida, de acordo com as necessidades. Não é preciso investir na compra de hardware (servidores). Nesta modalidade, a infraestrutura completa com os equipamentos é disponibilizada pela provedora do data center, isso inclui os servidores e demais elementos de rede. Normalmente a equipe de TI da provedora é a responsável pela gestão, manutenção e resolução de falhas, contudo isso pode ser acordado entre a provedor e a empresa que está contratando, assim a gestão pode ser administrada por ambos desde que tenham suas responsabilidades definidas.

Em um ambiente de ‘cloud computing’, a TI interna da empresa tem mais tempo para desempenhar atividades mais estratégicas, gerindo projetos que agregam valor e promovem o crescimento organizacional mais rapidamente.

Qual cenário é melhor?

Depende. Como dito anteriormente, a mudança para um ambiente em data center externo está ligada a estratégia da empresa, a criticidade, a continuidade dos negócios alinhada com a visão de futuro. Um ambiente com maior maturidade como em data center Tier 4 possibilita maior segurança em suas operações e traz um ótimo resultado quanto a confiabilidade estando em um ambiente de alto nível. O tipo de nuvem não limita seus negócios, mas a escolha correta proporciona o crescimento adequado à organização. O ambiente colocation e cloud computing tem suas características diferenciadas, contudo, não rege um padrão para obrigar uma organização contratar um ou outro.

As alternativas estão relacionadas com a necessidade da organização. O cenário ideal não se limita apenas ao ambiente, os serviços prestados pelo provedor de serviços variam em qualidade e profissionalismo. Itens como forma de gerenciamento, disponibilidade, capacidade, escalabilidade e segurança sem dúvida são importantes e estão ligados ao investimento assertivo. Estar amarrado a hardware e espaços físicos vai ao desencontro dos negócios digitais, então a modernização também é um fator que deve ser considerado e entendido quando estes negócios estão à frente da operação.

Migrar ou não migrar?

A solução ideal é aquela que cabe ao seu bolso e supera suas necessidades. Quando isso permite que o time de tecnologia possa assumir um papel mais estratégico nas operações, o ganho é eminente, torna-se um fator de redução de custos, amplia o crescimento, impacta pessoas e processos aumentando o potencial da comunicação e do controle.

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