Mentoria de Negócios, Caos e Complexidade

Neste novo ensaio, retomo a questão da utilização de termos voltados ao empreendedorismo inovador sem o necessário respaldo

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8:00 pm - 04 de março de 2020
Photo de Darius Bashar em Unsplash Mentoria de Negócios, Caos Complexidade

Neste novo ensaio, retomo a questão da utilização de termos voltados ao empreendedorismo inovador sem o necessário respaldo, e suas consequências para os ecossistemas de negócios, abordada no artigo “O Brasil precisa mais de soluções inovadoras ou de inovações disruptivas?”.

Um dos neologismos atualmente consagrados é o propósito, que muitas vezes é utilizado como uma versão atual dos objetivos. É como a permuta da expressão “muito obrigado” por “gratidão”, que vem se dissimulando tanto em colóquios científicos como em conversas informais. No entanto, certamente poucas pessoas responderão com o mínimo respaldo porque trocaram uma expressão pela outra. Minha conclusão é de que esses neologismos são resultantes de um processo acrítico de assimilação e utilização de palavras consagradas pelos estratos sociais, como significado de importância dentro do grupo.

Ao final de uma das minhas recentes atuações como palestrante, um colega argumentou sobre o fato de eu ter utilizado palavras não usuais para definir aspectos relacionados ao empreendedorismo inovador, como caos, complexidade e atratores. Respondi-lhe que esses termos estão muito mais próximos do Conceito de Inovação, e certamente tive de me estender nos esclarecimentos.

Inovação

Em primeiro lugar, todas as definições de Inovação convergem para a não-linearidade, ou seja, não existe um processo encadeador que leva uma ótima ideia a ser uma inovação. Embora na gênese da inovação sempre exista uma boa ideia, muitas vezes aquela ideia só é reconhecida como boa quando o produto ou serviço resultante encontre reconhecimento e seja incorporado pela sociedade em suas rotinas.

Em segundo lugar, a Inovação é um conceito interativo, centrado nas empresas, mas que depende de vários entes para ocorrer, que compõem o que atualmente conhecemos como Ecossistema Empreendedor. Obviamente todo ecossistema é derivado de um sistema, portanto, de um conjunto de partes interdependentes, que se caracterizam pela evolução do sistema como um todo. No entanto, vemos uma profusão de eventos voltados à Inovação ocorrerem, sem qualquer dependência entre eles, em prol da promoção da Inovação como motor do desenvolvimento econômico.

Obviamente essas ações contribuem para a evolução dos ecossistemas, mas não com os resultados que seriam obtidos com uma concatenação e interação dos eventos. Essa quantidade de eventos, todos com bons propósitos, na verdade vão além da gestão ecossistêmica, mas adentram as estruturas dinâmicas complexas, em razão da similitude de seus propósitos.

Essa constatação nos leva de volta à  literatura pertinente, que classifica a Inovação como um fenômeno complexo, logo diretamente relacionado à Teoria da Complexidade. Então o ambiente em que ocorre a Inovação, em uma visão macro, é um conjunto de ecossistemas abertos, que se conectam e se modificam de forma intensa e permanente, ou seja, em um ambiente caótico, mas em que se pode perceber os direcionamentos para a evolução.

Conexão

Esse breve mergulho na literatura sobre inovação nos evidencia que a gestão ecossistêmica deve ser centrada na empresa, mas em conexão com os vários atores com que interage, que obviamente não são os mesmos para diferentes produtos ou serviços de uma mesma empresa, tampouco para os mesmos produtos em diferentes estágios da trajetória empresarial.

A gestão ecossistêmica deve ser constante, e por isso centrada em mecanismos de inteligência que percebam os efeitos ecossistêmicos de uma ou mais iniciativas inovadoras, identificando conexões faltantes ou que devam ser fortalecidas para elevar os impactos sobre o desenvolvimento.

O papel de conduzir as estruturas dinâmicas a um propósito tem relação direta sobre o comportamento, coletivo e individual, na medida em que quanto mais tivermos interações individuais em uma rede complexa, mais efeitos positivos teremos sobre a própria rede. Esse papel é desempenhado por especialistas midiáticos e figuras carismáticas, que a Teoria da Complexidade define como “atratores caóticos”.

Neste prisma, os mentores de negócios são exemplos claros de atratores, na medida em que induzem os comportamentos dos mentorados. É necessário, no entanto, que os atratores tenham propósitos alinhados, entre si, com o ecossistema em que atuam, e com os mentorados, o que se consolida na construção dos “cursos de ação”.

* Por Laercio de Matos, Doutor em Economia e Mestre em Administração, Mentor de Negócios e consultor. É autor do livro “A Inovação Tecnológica e as Dinâmicas Locais”. É atualmente Diretor de Relações Internacionais da ABMEN. Foi avaliador para o BID no Programa Integrado de Políticas para Juventude de Fortaleza.

Comentários e opiniões contidos neste texto são de responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião da ABMEN – Associação Brasileira dos Mentores de Negócios

 

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