Telemedicina na BP: desafio para a medicina de qualidade
Para Lilian Hoffmann, CIO e COO do hospital, desafio foi estabelecer protocolos capazes de mudar cultura de desconfiança com modalidade
Um efeito importante da pandemia sobre o setor da saúde – além, claro, do socorro prestado aos doentes de COVID-19 – foi a consolidação da telemedicina como alternativa assistencial. Antes vista com temor, a modalidade foi capaz não só de reduzir o número de pessoas em hospitais e clínicas, evitando contaminações, como também manteve os atendimento, principalmente para pacientes recorrendo à atenção básica, ou primária.
Na BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, a tarefa de implantar o recurso ficou a carga de Lilian Quintal Hoffmann, CIO e COO do tradicional hospital paulistano. A executiva, que acumula mais de 20 anos de experiência no setor, incluindo passagens pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Hospital São Luiz, ao liderar o projeto Digital Care Delivery – Começando pela Telemedicina, foi premiada como Executiva de TI de 2021 na categoria Mundo Híbrido.
“O sentimento é de felicidade e orgulho porque, principalmente no ano passado, trabalhar em meio a uma pandemia foi novo para todo mundo”, diz a executiva, lembrando das dificuldades enfrentadas. “Mesmo nós de tecnologia precisamos lidar com uma doença nova, um comportamento novo. Como pessoas estávamos suscetíveis a contrair essa doença.”
A implantação do projeto começou em maio de 2020, e contemplou uma plataforma digital de atendimento e a elaboração de protocolos e de uma estratégia de práticas médicas na nova modalidade. Não se tratou de um processo culturalmente simples, já que houve resistência entre os profissionais e gestores.
“Existiu um primeiro momento de grande resistência, porque o hábito não era esse. Existia uma ideia de que a telemedicina entregaria uma saúde ‘menor’ do que [a medicina com] o paciente presente”, conta a CIO. Ao menos a falta de uma regulação específica para a modalidade foi resolvida em abril de 2020, com a publicação da lei 13.989/2020, que permitiu o uso da telemedicina durante a crise causada pelo coronavírus.
Tecnologia e protocolos
Um terceiro desafio elencado por Lilian foi o tecnológico, mas “não pela tecnologia em si”. Para ela a grande dificuldade foi que os envolvidos entendessem que a plataforma não é barreira, mas sim o entendimento de que a tela é só um meio para se praticar medicina de qualidade. “Fazer videoconferência é simples, telemedicina é mais complicado”, resume.
Esse desafio foi vencido por meio da implantação de um comitê de implantação e práticas médicas. O grupo multidisciplinar, do qual participaram médicos, farmacêuticos, enfermeiros e gestores, definiu critérios para o uso da telemedicina, além de protocolos e treinamentos para estabelecer um padrão de atendimento. Foi responsável por delimitar que pacientes poderiam ou não ser atendidos na modalidade.
“Por exemplo, não estamos fazendo [telemedicina] com crianças”, explica ela. Também foram definidas coisas como “o endereço do paciente, se ele acompanhado, o que é primordial se ele desmaiar. Todas essas coisas foram pensadas.”
Foi implementada a plataforma argentina DOC24, segundo Lilian pelas características técnicas, incluindo a aberta para integrações com os sistemas de gestão da BP. O comitê optou por um modelo em que os médicos estariam no hospital, munidos de equipamentos pensados para uso em telemedicina, de modo a facilitar o acesso do médico aos sistemas necessários – muito embora atendimentos emergenciais por um smartphone, por exemplo, sejam possíveis.
O pronto-atendimento (PA) foi a primeira área do hospital digitalizada. O atendimento foi iniciado pelos colaboradores (cerca de 10 mil pessoas) e seus familiares, e depois para os cerca de 3.700 associados do hospital – um grupo majoritariamente idoso, que precisava de cuidado, mas cuja exposição deveria ser evitada.
Ganhos e satisfação
Os resultados foram positivos. Atualmente cerca de 10% de todos os atendimentos do PA são feitos digitalmente. Entre os colaboradores, no entanto, essa porcentagem já chega a 60%. A modalidade também é usada para consultas em algumas especialidades, como oncologia, por exemplo. E há tendência de ampliação.
“Queremos ampliar para o monitoramento”, diz a CIO. “E temos outro projeto, ainda em MVP, para pensar em capilaridade. Estamos em São Paulo, mas a telemedicina consegue expandir os pontos de atendimento.”
Lilian menciona estudos que tornam possível captar informações de pacientes por meio de sensores capazes de medir níveis de oxigênio sanguíneo, ritmo cardíaco e até exames laboratoriais não invasivos. Os projetos de inovação miram modelos em que um profissional não-médico possa ir até o paciente e ampliar o uso da telemedicina por meio de dispositivos.
“A tecnologia saiu do suporte e pode fazer entregas para o negócio. A telemedicina mostrou isso muito claramente”, diz a executiva, que também diz ter extraído do projeto lições de trabalho em equipe. “Com o advento da telemedicina ficou muito claro que tínhamos uma dor que foi resolvida quando todas as cabeças se sentaram juntas, inclusive a regulação do país.”
Finalistas Executivo de TI do Ano 2021 – CIOs
Categoria: Mundo Híbrido
Vencedora – Lilian Quintal Hoffmann – Diretora de tecnologia , BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo
Finalista – Luciano Lopes Pereira – Diretor de TI, Uniube
Finalista – Raúl Rentería – CTO, OLX Brasil