Porto Digital conecta Recife ao futuro

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1:51 pm - 02 de outubro de 2017

Localizado no Recife, o Porto Digital (foto Leo Caldas) é considerado um dos principais parques tecnológicos do Brasil e representante da nova economia do Estado de Pernambuco. Esse dínamo de inovação abriga atualmente 298 empresas, organizações de fomento, órgãos de governo e emprega cerca de 9 mil trabalhadores.

O faturamento do complexo registrou R$ 1,5 bilhão em 2016, fruto de toda a movimentação das companhias de Economia Criativa, incubadoras e aceleradoras residentes, além das atuantes no segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que exibem nomes de peso como Stefanini, IBM, Indra, Tivit, Qualcomm e Locaweb.

Esse parque urbano, instalado no centro histórico do Bairro do Recife e no bairro de Santo Amaro, ocupa uma área de 149 hectares, onde borbulham inovações com significativa pluralidade de tecnologias como inteligência artificial, drones, redes neurais, machine learning e internet das coisas (IoT). A região, antes degradada e de pouca importância para a economia local, foi revitalizada desde a sua inauguração em 2000, na esteira da modernização urbana e imobiliária, incluindo a recuperação do patrimônio histórico.

Francisco Saboya, à frente do Porto Digital há dez anos, o define como uma janela aberta para o futuro de Pernambuco e que já contribui para o crescimento tecnológico no País. “Não somos mais um parque e sim a conexão com o futuro”, reforça.

Pelo porte significativo, movimentação de empresas, inovação e geração de empregos, o Porto Digital foi considerado pela Associação Nacional de Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em 2007 e 2011, o melhor parque tecnológico do Brasil.

Antes, em 2005, a consultoria internacional AT Kearney classificou o Porto Digital como o maior parque tecnológico do País, além de referência nacional de política pública de fomento à inovação e fortalecimento de um setor produtivo de base tecnológica.

Um dos atrativos para o empreendedorismo no Porto Digital é que as empresas de TIC e também as de Economia Criativa que se instalam, tanto no Bairro do Recife como em Santo Amaro, podem usufruir da redução de 60% do ISS e de outros benefícios oferecidos pelo parque.

O investimento inicial no empreendimento somou R$ 33 milhões, originados da privatização da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), e está sendo convertido em ganhos tangíveis e intangíveis para a região e para o País, de acordo com Saboya.

Segundo ele, nem tudo são flores. Um desafio constante é consolidar o Recife no contexto da economia digital. “Porque somos uma cidade periférica, que tem de lutar mais do que os grandes centros para se sobressair, atrair investimentos e vencer”, diz.

Por essa razão, ele prossegue, motivo de muito orgulho foi estar em Sevilha (Espanha), em julho deste ano, com apoio da União Europeia, integrando a lista de 25 importantes parques tecnológicos do mundo, representando o Brasil. “Estamos muito perto de sermos comparados aos mais avançados centros tecnológicos do mundo”, desafia.
Qual é o segredo da evolução do Porto Digital, apesar da crise econômica e de estar localizado em uma cidade periférica? Saboya responde que o sucesso mora no modelo de governança peculiar.

“Não somos uma instituição pública, empresarial ou acadêmica. Estamos apoiados em três frentes que, unidas, formam um forte pilar: universidade + governo + iniciativa privada”, revela. “Somos visitados anualmente por delegações de outros Estados do País para ver de perto nosso modelo de gestão, nossa estratégia. Também recebemos 36 missões estrangeiras de 24 países diferentes.”

Urbanismo em alta no Porto Digital

Desde a fundação do Porto Digital, mais de 50 mil metros quadrados de imóveis históricos foram restaurados em toda a extensão territorial do parque tecnológico. Uma experiência que, em 2015, levou o centro tecnológico a afinar sua tática e incluir no seu foco o setor de tecnologias urbanas. A estratégia reforçou a grade apoiada no desenvolvimento de software e serviços de TIC e Economia Criativa, em segmentos de games, multimídia, cine-vídeo-animação, música, fotografia e design.

Antes disso, em 2014, o parque havia expandido a operação, dando outro grande passo com o lançamento do Armazém da Criatividade de Caruaru, no Agreste pernambucano. Foi a primeira unidade avançada do parque tecnológico no interior do estado, que dá suporte à inovação e ao empreendedorismo, atuando integrada com as instâncias de ensino, ciência e tecnologia e articulada com setores produtivos e políticas públicas da região.
“O Armazém da Criatividade interage com os jovens de potencial empreendedor, vindos das universidades e escolas técnicas, além da cadeia produtiva local”, explica Saboya.

Ocupando área de 1.800 metros quadrados, abriga laboratórios, salas de treinamento, incubadora, estúdio de fotografia, showroom e coworking, além de um núcleo empresarial com salas comerciais para instalação de novos empreendimentos. O Porto Digital cuida da concepção, gestão e operação do ambiente, que atende às políticas de interiorização da economia do conhecimento do governo de Pernambuco.

O Agreste de Pernambuco se destaca como um dos principais polos de produção têxtil do País, além de ocupar também espaço de referência em diversos segmentos do mercado de moda. Entre as primeiras startups incubadas no Armazém estão a Arthemis – Moda Plus Size, plataforma de e-commerce com foco na moda plus size feminina. E a Phytoplankton – Estamparia Criativa, especializada em design de soluções e aplicações de estamparia têxtil para o mercado de moda e decoração.

Com base tecnológica avançada e equipamentos de alta performance o Armazém da Criatividade possibilita o desenvolvimento de protótipos em toda a cadeia, desde a criação, com laboratórios de design gráfico, de produto e de moda, até a modelagem em 3D e impressão 3D.

“Muitas vezes o mercado não absorve os jovens com qualificação e eles procuram outras cidades para trabalhar. Então essa estrutura oferece o ambiente necessário para que eles se desenvolvam”, diz Saboya.

Coleção de conquistas

O parque tecnológico prima pela alta qualificação, destaca o presidente. A equipe técnica do Núcleo de Gestão do Porto Digital (NGPD) possui formação acadêmica superior e pós-graduação (MBA, especialização e mestrado) em áreas como inovação, tecnologia da informação (TI), gestão de projetos, comunicação estratégica, urbanismo e cultura pernambucana. Cerca de 40 profissionais coordenam e executam projetos para a melhoria do ambiente de inovação do parque.

Esse ecossistema profissional do Porto Digital tem gerado bons frutos. Em 2016, o Armazém da Criatividade de Caruaru foi o único representante das Américas entre os dez melhores projetos inovadores de parques científicos e tecnológicos no prêmio Inspiring Solutions, promovido pela Associação Internacional de Parques Tecnológicos e Áreas de Inovação (IASP).

Mas muito antes, outras conquistas começaram a lapidar a trajetória do parque. Em 2008, a Associação Internacional de Parques Tecnológicos (IASP) publicou o primeiro volume da série Learning by Sharing, destacando como referência o caso do Porto Digital, ao lado de outros três parques tecnológicos do mundo: o de Málaga, na Espanha, o de Manchester, no Reino Unido e o de Hyderabad, na Índia.

No mesmo ano, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) reconheceu o Porto Digital como Arranjo Produtivo Local (APL) de Tecnologia da Informação e Comunicação de Pernambuco. Já em 2009, o Porto Digital, ganhou as páginas da revista norte-americana Business Week, na edição digital, quando foi apontado como um dos parques mais inovadores do planeta, além de considerá-lo como um dos dez locais do mundo onde o futuro está sendo criado.

Dois anos depois, em 2011, o Jornal britânico The Guardian, também se rendeu aos avanços do parque e destacou o Recife: The Playable City, promovido pelo Porto Digital, como uma das dez iniciativas que estão mudando a cultura no mundo

O L.O.U.Co

As evoluções não param. O primeiro makerspace do Porto Digital nasceu no ano passado (2016), o Laboratório de Objetos Urbanos Conectados, conhecido como L.O.U.Co. Voltado à criação de protótipos e teste de produtos e serviços em Internet das Coisas (IoT), tem foco no bem-estar das cidades e na geração de negócios inovadores. Ele fortaleceu a estratégia do parque de pensar os problemas e apresentar soluções para espaços urbanos.

“O laboratório posiciona-se como um locus de IoT, com todas as chancelas que o Porto Digital oferece”, explica Saboya. Segundo ele, uma delas é o programa de incentivo aos novos negócios, que oferece suporte a empresas em diferentes estágios e que poderá incorporar projetos descobertos no L.O.U.Co.

“Esse é um dos diferenciais do laboratório, comparado a outros makerspaces, que vai além da ideação criativa, e o posiciona como uma engrenagem de geração acelerada de negócios disruptivos”.

No L.O.U.Co, a fabricação digital conta com máquinas que permitem aos usuários do laboratório criar protótipos de alta complexidade. Entre elas, impressoras 3D, cortadora laser, fresa de precisão, impressora de circuitos elétricos, além de biblioteca de sensores.

A iniciativa, financiada pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), por meio da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe), atrai empreendedores, pesquisadores e estudantes, tanto do ramo de TIC quanto de engenharia eletrônica, além de profissionais criativos de áreas como design, arquitetura e urbanismo.

“O Porto Digital é uma referência para o País. Trabalhamos para criar o melhor ambiente para as pessoas, atrair talentos, torná-lo atrativo para os investidores e valorizar o nosso ecossistema”, finaliza o comandante da cidade tecnológica que sonha com a multiplicação desses centros por todo o Brasil.

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