XP Educação lança graduações gratuitas em TI e quer competir com faculdades públicas

Investimentos chegarão a R$ 100 milhões. Segundo o CEO da divisão, Paulo de Tarso, objetivo é atrair talentos e formar com base na prática

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7:30 am - 27 de junho de 2022
Paulo de Tarso, CEO da XP Educação. Foto: Divulgação

A XP Educação, divisão educacional da XP Inc., anunciou nessa segunda (27) que está se tornando uma faculdade de graduação em tecnologia com cursos gratuitos. A Faculdade XP, como está sendo chamada, deriva de um investimento de R$ 100 milhões feito ao longo dos últimos anos, e que tem como um dos componentes a aquisição do Instituto de Gestão em Tecnologia da Informação (IGTI), feita em novembro do ano passado.

O instituto de educação à distância com foco em pós-graduação em TI foi o primeiro do setor educacional adquirido pela companhia. Além de fornecer as bases tecnológicas para a oferta de cursos de graduação, também acelerou a obtenção de reconhecimento por parte do Ministério da Educação (MEC) – processo que pode ser moroso para instituições recém-fundadas e levar até três anos para cursos já em oferta.

“É a realização de uma ideia de 20 anos”, contou em entrevistada ao IT Forum o CEO da XP Educação, Paulo de Tarso. “Quando o Guilherme [Benchimol, presidente executivo da XP Investimentos] criou a XP, também criou a [divisão de] educação. Ele achava que ia criar uma faculdade quando viu que explicar renda variável, produtos de investimento e administração de patrimônio funcionou muito bem e poderia ser a vocação dele.”

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Segundo Tarso, o que muda agora com a Faculdade XP é que se amplia a atuação da divisão educacional para formar não só investidores, mas também profissionais de tecnologia, ou “talentos digitais”. Esse movimento é reconhecidamente movido pela imensa lacuna atual de profissionais de TI no mercado. Dados da McKinsey citados pelo CEO estimam essa lacuna em um milhão de profissionais até 2030 só no Brasil.

“A motivação tem muito a ver com duas dores. A primeira é que tem sido cada vez mais difícil contratar profissionais de tecnologia. Isso tem colocado pressão muito grande nas empresas e o mercado fica desiquilibrado”, pondera o executivo. “E para piorar a equação os poucos que se formam não chegam [ao mercado] em um patamar mínimo e satisfatório. Temos um problema de quantidade e qualidade.”

Serão inicialmente cinco cursos – Sistemas de Informação, Ciência de Dados, Análise de Desenvolvimento de Sistemas, Banco de Dados, e Defesa Cibernética – com 80 vagas cada, somando 400 alunos convocados no primeiro edital (o plano é ter dois editais por ano). A Faculdade XP também oferecerá cursos livres, além de 20 de pós-graduação, esses sim pagos e em parte já oferecidos anteriormente pelo IGTI.

A meta da XP Educação com os MBAs é saltar de três mil alunos atuais para cerca de 10 mil até o fim de 2022. Afinal, essa unidade de negócios, assim como a “empresa mãe”, tem fins lucrativos. A ideia é que a receita dos cursos pagos forneça bases para a oferta gratuita das graduações.

Competição ousada

“Para a graduação decidimos que precisamos atrair pessoas de alto potencial, e o [modelo] anywhere vai permitir trazer talentos de qualquer lugar do Brasil”, explica Tarso, referindo-se ao ensino totalmente online ofertado pela faculdade. “Para os alunos não vai ter mensalidade, quero ser competitivo na tomada de decisão [do estudante]. Nossa ousadia é que se ele passar no vestibular de uma universidade pública e no nosso processo seletivo, que ele escolha a XP.”

Para o CEO, o que permite tamanha confiança é a escolha de uma metodologia “inovadora” e “diferente do padrão de mercado”, muito baseada em projetos de cunho prático e na conexão com o negócio e o ecossistema da própria XP. O ensino também será baseado majoritariamente em aulas síncronas, ou seja, assistidas “ao vivo”. E em um corpo de professores capacitados e muitas vezes recrutados entre os profissionais da própria empresa.

“É um modelo que tem muita interatividade. A grande inovação é que ele bebe desse conceito do trabalho anywhere. Aprende como se já estivesse trabalhando”, explica Tarso.

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A criação da faculdade é inspirada no conceito de “employer university”, mais comum nos EUA e criado por grandes empresas de tecnologia como Google e Amazon – muito embora nesses exemplos não sejam ofertados cursos de graduação, e sim pós-graduação. O CEO considera o exemplo brasileiro “mais ousado” na medida em que apresenta a profissionais ainda em formação “exemplos de sucesso” para criar um “espírito empreendedor”.

O CEO da XP Educação espera contratar, ao fim do curso, entre 50 e 80% dos alunos formados. No entanto, assegura, não haverá qualquer impedimento por parte dos alunos que queiram buscar vaga em outras companhias ou empreender, por exemplo. Nem devolver valores caso haja desistência.

Seleção de talentos

O desafio agora com a publicação do primeiro edital é selecionar os primeiros 400 talentos, diz Tarso. “A gente acha que vai ser muito concorrido”, ponderou. “Nosso cenário base é ter cerca de 200 candidatos por vaga. Tivemos que nos reinventar para achar um processo [seletivo] adequado.”

Serão várias etapas que “fogem da lógica de conteudismo”, explicou Tarso. O processo é bastante inspirado naquele das universidades americanas, e passa por um questionário discursivo sobre “valores e lições aprendidas”, testes de capacidade de aprendizado (medida por meio de bootcamps) e adaptação ao modelo remoto, até finalmente provas com questões de múltipla escolha e avaliações de perfil pessoal feitas por uma empresa especialista.

Tarso assegura que não é necessário ter conhecimento prévio em programação ou tecnologia. Para garantir diversidade nos alunos escolhidos – uma vez que um processo tão oneroso provavelmente privilegiaria alunos formados em escolas de elite –, a XP estabeleceu que metade das vagas serão para concorrência ampla, e a outra metade serão afirmativas.

A gratuidade do curso exime a empresa de considerar fatores socioeconômicos, diz o CEO da XP Educação. “Queremos escolher [alunos] pela melhor performance, sem excluir quem não pode pagar”, explica.

“Meu sonho é criar um modelo que dita um novo padrão de educação profissional”, diz Tarso, dizendo que a união do modelo de ensino simbiótico à XP com o processo seletivo permite esse objetivo. Apesar disso, admite que é preciso “ter a humildade de dizer que ao longo do caminho vamos aprender muito”.

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Marcelo Gimenes Vieira

Jornalista com mais de 13 anos de experiência nos setores de TI, inovação, games, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios.

É fundador do The Gaming Era, primeiro portal brasileiro de notícias de negócios com foco no mercado de jogos eletrônicos, os games.

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