Os planos da XP Inc. para se tornar uma grande empresa de tecnologia

Com um time de mais de 1.500 profissionais de tecnologia vindos de grandes empresas do setor, XP avança para também ser um banco digital

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11:32 am - 04 de fevereiro de 2021
Thiago Maffra XP Thiago Maffra. Foto: Divulgação

Nos últimos dois anos, a XP Inc., plataforma de investimentos e serviços financeiros, tem vivenciado uma intensa transformação para fazer da companhia uma empresa prioritariamente de tecnologia. Prova disso é que boa parte dos funcionários que antes se distribuíam entre dois andares de um edifício na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo, e hoje se mantêm em home office devido à pandemia, têm em seus currículos habilidades em disciplinas como Ciência de Dados, Desenvolvimento de Software e Inteligência Artificial. E a busca por esses profissionais se intensifica. Somente nos três primeiros meses de 2021, a empresa deve contratar 176 profissionais da área, com a maioria das vagas destinadas a desenvolvimento de software. Em 2020, foram mais de 500 contratações de talentos em tecnologia, muitos vindos de big techs, como Facebook, Google, Amazon e Mercado Livre. “Queremos ser reconhecidos como a melhor companhia de tecnologia brasileira e ser disruptivos em outros segmentos, como fizemos em investimentos”, justifica Thiago Maffra, diretor de Tecnologia da XP.

Maffra, à frente da transformação digital da XP, vem de uma carreira tradicional no mercado financeiro, com formação em Administração pelo Insper e MBA pela Columbia University. Mas a influência da tecnologia não é dos dias da XP, onde iniciou há seis anos. Ela começa em outras corretoras, que também buscavam aplicar tecnologias emergentes como machine learning e redes neurais em seus modelos estatísticos. Na XP Inc., chegou a criar uma exchange de criptomoedas e outras áreas que tinham a tecnologia no centro das ações. Em 2017, a epifania da XP, que a coloca na direção dos dias atuais, veio. “Fizemos diversos benchmarks de empresas de tecnologia, no Brasil e fora, e percebemos o quanto queríamos ser uma empresa de ponta, uma empresa digital e diretiva. E para isso, a gente precisaria realmente mudar nosso modelo de trabalho, de skills, de capacidades, e no início de 2018, começamos a fazer essa transformação e nasceu a primeira squad”, conta Maffra ao IT Forum.

Como a XP pensa transformação digital

São quatro pilares diferentes, conta Maffra, que compõem as estratégias de transformação digital como um todo da XP: tecnologia que suporta a infraestrutura e engenharia; um segundo de Produtos; um terceiro de Design e o quarto de Operações. “A gente vem reorganizando a empresa em jornadas. Montamos o time de forma matricial, e temos diversos capítulos. Marketing, CRM, jurídico, depende da jornada e produto e você vai criando esses pares e compondo os times multifuncionais”, explica o executivo.

Transformação digital também não é causa isolada. “É muito além de reorganizar time de tecnologia num canto. É sobre reorganizar a empresa, negócio e tecnologia não tem distinção. Estamos criando times multifuncionais e que atuam de forma autônoma”, complementa ao falar que os times de tecnologia, negócio e produto trabalham em parceria.

Se no início de 2018, a XP iniciava seu plano de transformação com um time já de 150 profissionais de tecnologia, mas nenhuma squad, hoje a companhia conta com mais de 80 delas e mais de 1.500 profissionais em tecnologia. “Tecnologia deve compor quase metade da empresa”, pontua Maffra.

Time to market

Com clientes com demandas e anseios prioritariamente digitais, velocidade é outro ponto fundamental na jornada de transformação. Em meados do ano passado, a XP fez um lançamento inicial de um cartão de crédito para clientes da corretora. “A criação de um produto complexo como cartões, entre a idealização do projeto até a entrega, foram seis meses. Apesar de um soft launch, temos dezenas de milhares de cartões nas mãos de clientes, vimos isso tudo acontecendo em um ano. Ter um produto escalado já, com parcerias, é realmente bem surpreendente”, destaca o executivo. Entregas de features que acrescentam melhorias ao aplicativo, por exemplo, segundo Maffra, acontecem com um intervalo de até 15 dias. “São centenas de deploys por dia, com novos códigos, subindo para clientes no final do dia”, acrescenta.

Grande salto no desenvolvimento interno de tecnologia foi a criação de um próprio Design System que, segundo a companhia, consegue economizar até 30% o tempo de implantação de novos produtos digitais. O sistema teve o envolvimento de mais de 70 profissionais da XP e proporcionou ganho de 15% de velocidade na concepção e produção do App XP.

Na prática, o design system é um ecossistema de componentes codados, que respeita princípios de design e de marca, com o objetivo de auxiliar a forma como os produtos são projetados e escalados, incluindo desde itens como cores e tipografia a pedaços de códigos. Além do app da XP, o cartão de crédito da corretora também se beneficiou do sistema que também garante consistência visual na criação de novos produtos.

Experiência como produto e próximos passos

A experiência do cliente (CX) foi amplamente discutida em um ano onde a urgência pelo digital foi condicionada à sobrevivência dos negócios. “A grande maioria das empresas no mundo, em algum momento, vai ter a experiência que oferece ao cliente como produto. E no mercado financeiro não vai ser diferente. E você só vai conseguir ter uma experiência diferenciada se entender muito o seu cliente”, sinaliza Maffra.

Para chegar a essa compreensão, a XP tem ampliado também o seu time de cientista de dados. “Capturamos dados para entender esse comportamental e atitudinal”, conta o executivo. Já o que não é capturável com dados, os times da XP constroem diferentes personas para complementar também a pesquisa do usuário. “Usamos dados, tecnologia e design para criar uma experiência personalizada para o cliente”, resume.

Depois de lançar o cartão de crédito, a XP agora trabalha para avançar sua estratégia de se tornar um grande banco digital. “Até o final do semestre, teremos uma conta robusta”, adianta Maffra. “Queremos ser o one stop shop para os clientes. Concentrando toda a vida financeira dentro da XP, cartão, conta, para que os clientes consigam fazer tudo dentro da XP e cortar de vez o cordão umbilical [com os grandes bancos]. Esse é o grande objetivo”, finaliza Maffra.

 

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