VP de TI dos Correios fala sobre inovação

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9:24 am - 14 de janeiro de 2015

Em uma conversa bem-humorada, Antonio Luiz Fuschino, vice-presidente de tecnologia e infraestrutura dos Correios, empresa que faturou o prêmio máximo de As 100+ Inovadoras no Uso de TI, falou à Revista IT Forum sobre os desafios de inovar no setor público, detalhou os processos que utiliza para tratar o tema inovação na TI e abordou algumas novidades que pretende incluir nos investimentos em mobilidade. 

Mostrando uma simplicidade pouco comum, Fuschino fez questão de que o texto fizesse menção ao analista de TI dos Correios, Jefferson Willian, responsável, como informou o próprio executivo, por analisar e montar protótipos e até insistir na execução do projeto.

A seguir, veja os principais trechos da conversa.

Revista IT Forum – Como é inovar no setor público? Pergunto pelas peculiaridades, como modelo de compra via licitação.

Antonio Luiz Fuschino – Mais que licitação, é o problema da aversão ao risco no setor público. Inovação está ligada ao risco e o setor púbico quer que o gestor da instituição pública não erre. Essa é a expectativa da sociedade e passa isso aos órgãos de controle como CGU. Tem uma espécie de incompatibilidade do setor com a inovação em geral. Para mitigar esse risco, procuramos desenvolver um processo cujo principal objetivo é reduzir essa exposição.

Em tempo de planejamento estratégico, que fazemos a cada dois anos, identificamos as tecnologias que vão trazer maior impacto para nosso setor, olhando relatórios do Gartner e conversando com as grandes fabricantes de TI. Fazemos uma compilação dessas tecnologias e selecionamos as que devem trazer maior impacto.

Montamos uma banca e separamos um grupo de pessoas que se propõe a estudar essas tecnologias nas horas vagas. Durante todo o planejamento, ouvimos essas apresentações. Esse ano tivemos até manipulação de Drones, buscamos fazer coisas concretas com quem avaliou e selecionamos uma quantidade de tecnologias onde procuraremos investir.

Esse estudo mais profundo é o segundo filtro, já com proposta de uso, e com isso em mãos, temos um laboratório de TI que funciona como laboratório de operação, onde testamos essas tecnologias. O projeto que inscrevemos foi de mobilidade. Olhamos as quatro grandes tendências e demos foco à mobilidade, por entender que nosso sobrenome seja mobilidade, há mais de trezentos anos ganhamos dinheiro assim. 

Fizemos diversos testes que começaram com smartphones para carteiros que entregam Sedex 10. Na primeira fase, era só para dar baixa na encomenda em tempo real, mas identificamos uma série de outros projetos que seria agregado a esse e retiraríamos mais benefícios, aí veio a segunda onda que é o Interatividade Postal que inscrevemos nas 100+.
Revista ITF – O foco então é minimizar os riscos?

Fuschino – Procuramos afastar a incompatibilidade de inovação do setor público, minimizando o risco de investimento. Primeiro aprendemos, participamos do que tem de mais atual e levamos para o laboratório. Essa segunda fase tem investimento baixo. Estamos olhando neste momento vestíveis, ano que vem teremos Google Glass, relógio, mas com investimento baixo por entender que no futuro isso trará impacto. Se percebemos que pode dar fruto, quando der para quantificar, investimos mais pesadamente.

Revista ITF – Quando surgem novas ideias na TI, principalmente as que impactam produtos ou processos globais da empresa, como elas são tratadas ou percebidas?

Fuschino – A empresa conta com um departamento de inovação empresarial que é fora da TI e quando tem proposta de mudança de qualquer coisa, são essas pessoas que conduzem a avaliação da ideia e a materializam. Obviamente que isso tem demanda de TI, mas existe um fluxo na companhia até com premiação das novas ideias. O caminho que te contei no início é da TI e a empresa espera inovação da TI, mesmo tendo uma área dedicada a isso.

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Revista ITF – A TI tem sido uma habilitadora de inovação?

Fuschino – Sempre que identificamos oportunidade, tentamos ganhar prontidão tecnológica, sei responder, sei quem usa, vende, e como se usa. O que tentamos fazer é encurtar o caminho de quando alguém aponta outra companhia que está usando para não sermos pegos de surpresa.

Revista ITF – Falando sobre o projeto Interatividade Postal, qual o maior desafio? Pergunto por ter envolvido redesenho de processos, desenvolvimento de sistema, entre outros pontos.

Fuschino – Redesenho de processo foi tocado pela área de distribuição e está sendo feito em etapas, essa parte dá muito trabalho, vai demorar, mas não fica com a TI. A parte do aplicativo, uma vez concebida a ideia e imaginado o processo, foi desenvolvimento como tantos outros que fazemos, mas com características móveis. Eles usam smartphones com sistema Android e temos uma equipe que desenvolve com desenvoltura. Com broker para transporte de SMS, fizemos licitação duas vezes, até por questões de ajustes tributários, mas o que dá mais trabalho é a licitação da própria linha do celular, para o Sedex 10 são 2,4 mil carteiros, e a segunda onda envolve quase 60 mil carteiros e são lotes regionais. No Sedex 10 estamos na segunda renovação e ainda não conseguimos fazer a dos 60 mil carteiros.

Revista ITF – E por que isso acontece?

Fuschino – Por fatores como a operadora questionando envio de fatura. Como o celular ainda é pessoal, ela quer mandar fatura uma a uma, tenho ERP, não posso receber faturas impressas, a própria operadora tem que rever processos para atender algo dessa magnitude. Deveríamos ter todos os celulares distribuídos agora em dezembro, mas ainda não contratamos e atrasou o projeto. A mudança de horário de entrega de Sedex 10 nas segunda e terceira tentativas, por exemplo, começará só em 2015 e depois virá nos demais produtos, como Sedex comum, carta registrada, tudo o que tiver rastreamento.

Revista ITF – A redução de custo era o principal objetivo do projeto?

Fuschino – Miramos diversos objetivos, desde tangíveis ou financeiros, como redução de despesas com segunda e terceira tentativas de entrega, isso tem custo muito alto. A pessoa compra algo que gosta e fica agendada a entrega para segunda-feira e ela não estará em casa. As segunda e terceira tentativas serão nos dias seguintes e no mesmo horário, trazendo um custo elevado. Queríamos reduzir custos com as segunda e terceira tentativas e também com devoluções, além de melhorar a percepção usuário, que não é tão tangível quanto dinheiro, mas é importante porque as pessoas reclamam. Estamos estimando a redução de custos com a segunda e terceira tentativas de entrega em torno de R$ 6 milhões/ano e de redução das despesas com a devolução em R$ 24 milhões/ano.

Revista ITF – No meio da conversa, tocou o seu telefone e era o presidente dos Correios, como é sua relação com o presidente e com as demais áreas?

Fuschino – Ele vê a TI como alavanca de novos negócios. Temos uma rede enorme, estamos em todos os municípios e em praticamente todos os distritos com mais de 500 habitantes e muitas das unidades são deficitárias, então, é preciso gerar negócios para suprir o custo dessas agências e parte disso vem com TI. Tudo que demanda atendimento presencial, como cadastro biométrico do TSE para eleições, queremos disponibilizar nossa rede para isso, ou recadastramento de INSS, venda de TV por assinatura, a ideia é vender nossa capacidade de atender presencialmente, mas temos outras iniciativas para fazer com que a TI impulsione novos negócios. Por isso, a relação é próxima, estamos numa sala onde as mesas dos vice-presidentes ficam juntas e a relação com as áreas é frequente. Estamos em todos os comitês, desde o de negócios ao de pessoas.

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