Soberania e residência de dados ganham espaço no Oracle CloudWorld
Parceria com a Dataprev e cliente de IA brasileira soberana são exemplos de mercado que Oracle quer abraçar
Discussões sobre soberania e residência de dados ganharam destaque na edição deste ano do Oracle CloudWorld, o principal evento global para clientes e parceiros da companhia, que ocorre nesta semana em Las Vegas*, nos Estados Unidos.
Ao menos dois ângulos motivam esses debates. O primeiro vem da própria Oracle: a empresa tem observado um crescente interesse no Brasil e na América Latina por essas soluções e tem estruturado ofertas para atender a essa tendência.
“O tema da soberania é muito sério. Ter fronteiras bem definidas e manter os dados nos países já é uma preocupação. A demanda está aumentando”, afirmou Luiz Meisler, vice-presidente executivo da Oracle para a América Latina, em uma conversa com a imprensa durante a conferência.
Atualmente, a Oracle opera sete regiões da nuvem OCI na América Latina, sendo duas no Brasil (São Paulo e Vinhedo), duas no Chile (Santiago e Valparaíso), duas no México (Querétaro e Monterrey) e uma na Colômbia (Bogotá).
Além desse modelo tradicional, a empresa também tem apostado em ofertas alternativas para capturar oportunidades junto a organizações com necessidades de residência de dados. Uma dessas ofertas é chamada Dedicated Region Cloud@Customer (DRCC).
Nesta segunda-feira (9/9), a Oracle anunciou o primeiro caso de adoção do DRCC no Brasil com a Dataprev, a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social. “Há uma forte discussão e maior maturidade em relação ao tema da soberania dos dados no setor público brasileiro. A aquisição da nossa solução de data center DRCC pela Dataprev foi um importante primeiro passo”, destacou Alexandre Maioral, presidente da Oracle Brasil, ao IT Forum.
O modelo DRCC envolve a implantação da infraestrutura e dos serviços de nuvem da Oracle dentro do data center físico do cliente. Com isso, a Dataprev pode expandir sua capacidade ao mesmo tempo em que atende aos requisitos de conformidade com segurança, regulamentação, baixa latência e residência de dados.
“Vamos instalar toda a nossa nuvem em dois data centers deles, em São Paulo e no Rio de Janeiro. A previsão é que os dois data centers estejam operacionais entre nove e dez meses”, completou Maioral.
A parceria faz parte de um plano de expansão da capacidade e interoperabilidade de dados da Dataprev, que possui três data centers de Tier III, localizados em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O contrato com a Oracle é a segunda parceria na estratégia de nuvem da empresa; a primeira foi firmada com a Huawei, em junho. Negociações com outros fornecedores estão em andamento.
Durante o CloudWorld, a Oracle também revelou uma nova configuração da oferta, o OCI Dedicated Region25. A configuração estará disponível em um tamanho menor e mais escalável, a partir de apenas três racks, e poderá ser instalada no ambiente do cliente em “semanas”.
A Dedicated Region25 tem uma pegada de lançamento 75% menor e requisitos de data center simplificados, além de suportar mais de 150 serviços de IA e nuvem da OCI. A nova configuração estará disponível no próximo ano.
Além desse modelo, o Oracle Alloy é outra alternativa da companhia para atender à demanda por soberania e residência de dados. O modelo é semelhante ao DRCC, mas pode ser operado por um cliente da Oracle e revendido no modelo de white label.
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Ele é operado, por exemplo, na Colômbia: inaugurada em dezembro de 2023, a região da Oracle no país é gerida não pela própria empresa, mas dentro da estrutura da operadora de telecomunicações Claro.
“No contexto da soberania, muitas legislações exigem apenas que os dados permaneçam no país, não necessariamente que haja um data center próprio. Nós já garantimos isso”, explicou Leandro Vieira, vice-presidente de High Tech da Oracle para a América Latina.
Em paralelo à preocupação com programas de soberania de dados, o avanço da Inteligência Artificial (IA), assim como a possibilidade de novas regulamentações sobre o tema, também têm incentivado as ações da empresa.
Em junho, por exemplo, a Oracle trouxe a oferta de GPUs para o treinamento de modelos de IA em regiões de nuvem da América Latina, incluindo o Brasil.
“Já estamos instalando GPUs em todos os data centers que temos na América Latina, antecipando legislações para o treinamento de LLMs na região”, observou Vieira. A oferta de GPUs na região inclui os modelos Nvidia H100, o mais performático para o treinamento de IA, e os modelos A10 e L40S, para aplicações técnicas.
A Widelabs é uma das iniciativas que têm utilizado essa infraestrutura para trabalhar em um projeto de IA soberana para o Brasil. A empresa é responsável pelo AmazonIA, um modelo de LLM que foi treinado em dados multilíngues, com ênfase particular no português brasileiro e em conteúdos relacionados à história e à cultura do Brasil. O modelo é inteiramente sediado em infraestrutura localizada no Brasil.
“Nossos dados e processamento de informações não ultrapassarão as fronteiras. Respeitamos a legislação brasileira e as melhores práticas em relação à regulação de IA”, afirmou Nelson Leoni, CEO da Widelabs. “Isso garante a soberania.”
Com essa oferta, a empresa pretende atender a setores da economia brasileira que poderiam se beneficiar do processamento de IA inteiramente sediado no Brasil e treinado com conteúdos nativos ou sensíveis, como os setores de educação, justiça, saúde e até governamental.
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*O jornalista viajou a convite da Oracle