Relógios marcam um segundo a mais em 2015. Veja implicações e cuidados para a TI

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9:24 am - 13 de fevereiro de 2015
Em 2015, será acrescentado um segundo ao Tempo Universal Coordenado (UTC), correção necessária para ajustar o horário ao Tempo Atômico Internacional (TAI). Com isso, o ano marcará o “segundo intercalado“, conhecido como “leap second”.

O ajuste é necessário por causa da velocidade de rotação do planeta Terra, que registra variações, enquanto os relógios atômicos, que geram e mantêm a Hora Legal, possuem uma precisão que chega a um segundo em milhões de anos.

A correção será feita no dia 30 de junho, quando o relógio oficial irá registrar a sequência 23h59min59s – 23h59min60s, para só então passar a 1º de julho (0h00min00s). 

Como essa correção é feita no horário de Greenwich, no Brasil ela ocorrerá três horas antes – 21h, no horário de Brasília. O acréscimo pode parecer pequeno, mas afeta diretamente alguns sistemas de computadores e pode deixá-los lentos ou provocar erros.

O órgão responsável por gerar, manter e disseminar a Hora Legal no Brasil é o Observatório Nacional, que faz a metrologia de tempo e frequência. 

Além disso, a unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) contribui para a realização da Hora Mundial e está entre as 50 autoridades de disseminação de tempo reconhecidas pelo Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM, na sigla em francês), órgão máximo da metrologia mundial. Com 188 anos de história, o ON é um dos 16 laboratórios no mundo a possuir escala de Tempo Atômico Local, e há 102 anos responde pela Hora Legal Brasileira.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) conversou com o físico Daniel Quaresma, do Observatório Nacional (ON/MCTI), para entender as implicações e os cuidados necessários para evitar problemas técnicos em diversos sistemas na virada.

MCTI – Como o acréscimo desse segundo interfere no nosso dia a dia?
Quaresma – A adição do leap second pode gerar eventos pontuais e possivelmente serão solucionados em questões de minutos ou horas, no caso de alguma ocorrência, conforme aconteceu com a maioria dos eventos em 2012, sendo considerados efeitos indiretos de curto prazo. Os efeitos diretos no nosso dia a dia não serão perceptíveis, porque geralmente trabalhamos com uma margem de tolerância maior que 1 segundo em nossos compromissos diários.

No último leap second, em 31 de dezembro de 2012, sites como Foursquare e Linkedin tiveram problemas. Os sistemas de computadores, redes e internet são os mais afetados? Por quê?
Um sistema pode considerar o segundo intercalado como um segundo extra ou um dado de medição do tempo incorreto, e gerar possíveis erros na execução de um programa, um travamento de sistema, erros nos logs ou aumento da atividade da CPU, como exemplos.

MCTI – O que fazer para não ter problemas nesses sistemas?
Quaresma – A primeira medida é identificar as prioridades. No caso de plataformas de rede, sistemas integrados de gestão, programas dedicados e equivalentes, entrar em contato com o suporte do fornecedor do sistema e verificar se há algum planejamento estratégico em relação a esse evento e seguir as instruções e recomendações que serão passadas.

O gerente de projetos do NIC.br, Antônio Marcos Moreira,  define em quatro passos uma boa estratégia para se precaver de imprevistos: estudar a situação, entendendo o leap second; zelar para os seus sistemas estejam corretamente atualizados e configurados; realizar testes em ambiente apropriado, com antecedência; e programar um plantão para o dia e horário do evento. 

O último passo é muito importante para uma ação imediata em uma eventual falha. Para o usuário comum, uma boa dica é seguir as redes sociais e ver as dicas de soluções, no caso de algum evento não previsto.

MCTI – Essa correção acontece desde quando? Quantos segundos a mais já tiveram que ser acrescentados ao tempo?
Quaresma – A correção é realizada desde 1972, mas de 1958 àquele ano foi estimado um valor fixo de dez segundos como ponto de partida. Foram 25 segundos até 2014 e no ano de 2015 será adicionado o 26º segundo. O valor total será de 36 segundos em 2015. 
A instituição responsável pela monitoração da rotação da Terra é o Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra (IERS, na sigla em inglês) e a decisão de quando deve ser adicionado o segundo é tomada em conjunto com o BIPM. 

O leap second pode ser adicionado ou retirado, mas a série histórica mostra que até hoje só foram adicionados segundos intercalados, mostrando um comportamento de desaceleração da rotação da Terra em relação ao tempo gerado pelos padrões atômicos.

MCTI – Todos os laboratórios “medidores de tempo” terão de fazer essa correção? De que forma?
Quaresma – Sim. Todos os laboratórios que compõem a realização da escala de tempo UTC, que é coordenada pelo BIPM, deverão adicionar o segundo em seus sistemas, e disseminá-lo por meio de seus canais de comunicação, de forma a garantir o mesmo segundo a mais na Hora Mundial, respeitando as diferenças de fuso horário. A sequência de contagem no Brasil, que é UTC-3, será: 20:59:58, 20:59:59, 20:59:60, 21:00:00, 21:00:01… ou seja, 61 segundos [nesse minuto].

*Com informações do MCTI

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