Qual a relação da renovação da política com os líderes de TI?
Como renovar a política brasileira no século 21? Foi com essa pergunta que o professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Fernando Abrucio, abriu o IT Forum+, realizado pela IT Mídia de 24 a 28 de agosto na Praia do Forte (BA). Usando o mote do tempo, Abrucio ressaltou que a palavra da vez é, de fato, renovação. Mas para olhar o futuro, é preciso entender tanto o passado quanto o presente. Indo mais além, ele propôs uma reflexão sobre qual a relação entre mudança política e os líderes de TI.
“A ágora que rege organização ações sociais, empresas, igrejas e famílias é a política. Assim, é fundamental entender o que significa renovar a política e a partir daí pensar como isso tem impacto na vida das pessoas”, pontuou.
Ele lembrou que o sentimento atual em relação à política nacional é de pessimismo. Contudo, provocou, o Brasil de hoje é melhor do que no passado. Abrucio usou uma série de referências para mostrar a veracidade da afirmação. “Nunca tivemos uma democracia tão longeva quanto a atual e nunca tivemos tanta participação política. Nunca tivemos tanta consciência da necessidade da mudança. Sabemos que devemos mudar, queremos, mas não sabemos muito bem como”, refletiu, completando que a sociedade precisa acordar do pessimismo e pensar que, sim, somos melhores hoje.
Outro exemplo apontado por ele foi sobre os anos dourados do País, que perduraram de 1993 a 2013. Nessa época, havia uma combinação virtuosa de estabilidade democrática, econômica e inclusão social. Fenômeno inédito na história. “Mas há três anos, o Brasil passa por uma crise desse modelo. Não se trata agora de político, partido, mas de como sair dessa fase.”
Citando o momento político, que caminha para o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, Abrucio comentou alguns desafios do modelo político atual. Agora, ele depende muito da liderança presidente, lembrou. Mas a verdade é que em países democráticos sempre haverá presidentes bons ou ruins. É assim em qualquer lugar do mundo e não se pode depender só disso, é mandatório encontrar lideranças sociais, reforçou.
Segundo o professor, o Brasil vive uma tripla crise: de pacto, modelo e na forma como se faz política. No item pacto político, ele citou a ineficiência do presidencialismo de coalizão. Para ele, um governo no qual diversos partidos disputam seus espaços, não tem mais como se sustentar. Ele acredita, ainda, que a reconstrução do pacto político somente vai acontecer em 2018, com as novas eleições presidenciais. “E a reconstrução não acontecerá só como cidadão, mas como líderes como vocês”, alertou.
Sobre o segundo pilar apontado por ele (modelo), Abrucio ressaltou a necessidade de embaralhar novamente as cartas e mexer em aspectos que organizam o modelo do estado. Um dos caminhos, diz, é estabelecer reformas. “O Brasil está na era do mainframe”, comparou, reforçando a urgência de uma reforma ampla da gestão pública, incluindo previdência, fiscal, trabalhista e da própria instituição política, que deve ser pautada pela transparência e meritocracia.
E qual o principal instrumento de um governo aberto, questionou? A TI. Em Londres, exemplificou, o cidadão inclui em um aplicativo informações sobre a qualidade da ciclovia que frequenta. “Parece difícil? Não. Temos uma multiplicidade de experiência de governo aberto. O Brasil tem? Tem, mas não é só usar TI, é vital ter uma estrutura para isso.”
Toda a reflexão volta para o ponto inicial da discussão de como, realmente, mudar a política nacional. “A política tem a ver com exemplos das lideranças de todos os setores da sociedade. Líderes têm de dar o exemplo. Lideranças sociais produzem melhores políticos. Temos de treinar lideranças para democracia”, ensina, acrescentando que educação é também peça-chave para mudar profundamente a política e esse é um exercício de décadas.
Estamos dispostos a alterar profundamente a sociedade brasileira?, provocou Abrucio. “Estamos dispostos a nos livrar do passado e pensar mais em nossos filhos e netos? Se não respondermos a essas perguntas, não vamos mudar profundamente a política.” E, você, está disposto a ser um profissional que lidera pelo exemplo, que quer provocar uma mudança na forma como vivemos. Escolha seu caminho.