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Kavak inaugura operação brasileira com R$ 2,5 bi em investimentos

A Kavak, primeira startup mexicana a atingir o status de “unicórnio”, anunciou em coletiva nesta terça (27) que pretende fazer um investimento inicial de R$ 2,5 bilhões (ou US$ 500 milhões) na recém-lançada operação brasileira. É o maior valor já aportado pela companhia, que tem operações também na Argentina, e que tem um plano global de expansão que começa pela América Latina.

A empresa espera que a operação brasileira seja a maior do mundo. Ela já conta com 300 mil m² em infraestrutura e espera ter 1 milhão de m² nos próximos meses. Isso inclui um centro de recondicionamento – atualmente em Barueri (SP) – maior do que o que a empresa tem no México, e há previsão de inaugurar um hub de inovação no futuro. Já são 500 funcionários contratados e expectativa de dobrar esse número até o fim de 2021.

“Temos planos de comprar mais de 100 mil carros e vender 50 mil até o fim de 2022”, reiterou em coletiva de imprensa o cofundador e CEO da operação brasileira da empresa, Roger Laughlin. Os R$ 2,5 bilhões deverão ser usados tanto na construção da infraestrutura física e contratação de pessoal como no financiamento de serviços agregados à plataforma de compra e venda de carros usados pela qual a empresa ficou conhecida.

O plano “demonstra a intenção da Kavak de transformar o Brasil em foco financeiro”, disse o executivo. Segundo ele, o mercado brasileiro só fica atrás de China e EUA em volume de negócios de usados – são 10 milhões de carros transacionados (60% usados) por ano e um potencial de R$ 600 bilhões.

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“E acreditamos que o potencial é ainda maior”, disse, justificando que a penetração média de carros entra a população brasileira ainda é baixa. Segundo ele, a “forma de vender carros na América Latina não evoluiu muito nos últimos anos, e tem ficado mais complexa”. O objetivo da Kavak é inovar no mercado de carros usados ao aumentar a transparência e reduzir inseguranças.

“O tempo que as pessoas gastam na experiência de tentar vender ou comprar é muito extenso, e o investimento de tempo muito longo”, analisa. “Não porque não existam lojistas que façam as coisas bem, mas porque é difícil construir uma evolução em escala para milhões de pessoas no mercado brasileiro.”

Modelo de negócios

Fundada em 2016 por Laughlin e pelos irmãos Carlos e Loreanne García Ottati, o modelo de negócio da Kavak nasceu de experiências ruins dos três ao negociar carros. Tornou-se unicórnio em 2020 e em abril deste ano quadruplicou de tamanho, para mais de US$ 4 bilhões, após a quarta rodada de investimento. Foram captado US$ 485 milhões, que colocaram o plano de expansão no Brasil em ação.

A empresa funciona como um “estacionamento” de veículos seminovos e usados por meio de uma plataforma digital. A Kavak compra o carro diretamente do proprietário após um orçamento feito primeiro pelo site. Depois uma vistoria analisa aspectos mecânicos, estéticos e burocráticos do carro e formaliza uma proposta. O negócio pode ser fechado online e o cliente recebe o pagamento. Os carros são então recondicionados em centros automotivos da própria empresa e postos à venda no aplicativo ou site da empresa.

O site também serve de vitrine para compra de carros por pessoas físicas, que recebem garantia de dois anos e podem devolver o veículo por arrependimento em até sete dias (ou 200 km rodados) sem custos. A grande maioria dos carros da Kavak são comprados diretamente de pessoas físicas. O catálogo é certificado de acordo com um processo de qualidade antes de serem vendidos – seja no site ou aplicativo ou em uma das seis lojas físicas que a empresa tem em São Paulo, capital.

A startup também intermedia financiamentos por meio de parceiros bancários, e facilita a documentação.

Laughlin, que é venezuelano e trabalhou no Brasil (no Groupon) entre 2011 e 2014, diz que a empresa tem como objetivo abarcar “qualquer coisa relacionada a ter um carro”, o que inclui a jornada do dono “oferecendo manutenção e outros serviços relacionados à propriedade”.

Mercado e concorrência

A Kavak não é a primeira empresa que tenta sacudir o mercado brasileiro de carros usados. A Volanty, por exemplo, fundada em 2017 no Brasil, faz trabalho semelhante – o que a levou a ser comprada esta semana pela fintech Creditas, que desde 2019 buscava entrar no segmento. Há outros players na mesma linha.

Segundo Laughlin, “o mercado [brasileiro] é grande o suficiente”, mesmo considerando que os jovens brasileiros tiram cada vez menos a carteira de habilitação e, por consequência, compram menos carros. Diz também que a proposta de valor da Kavak “não existe no mercado” pois ela iria de “princípio ao fim” na jornada do consumidor de possuir um carro.

O executivo também diz que a empresa não ameaça concessionárias e lojas de veículos usados pois quer “trabalhar com eles”. “Temos vários players e um mercado que já está tentando fazer as coisas bem. Acreditamos que conseguimos acelerar isso”, disse.

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Apesar de a maior parte dos veículos da Kavak serem comprados de pessoas físicas, Laughlin diz que conversa com players do mercado de usados para aquisição de inventários e parcerias ao longo da cadeia. “Somos um negócio com vários negócios dentro. Precificação, logística, recondicionamento, funilaria, pintura, autopeças, financiamento, gestão de frotas”, disse. “Chegar ao Brasil com humildade e respeito e estreitar laços para trabalhar com o mercado é um dos ossos focos.”

Perguntado pelo IT Forum sobre a mudança cultural que a compra e a venda de carros usados para o consumidor – já que a figura do vendedor de confiança sai de cena –, o executivo diz a empresa se esforça para construir uma experiência empática com os consumidores, “como se estivemos vendendo e comprando os carros das nossas mães”. Parte desse esforço passa pelas lojas físicas, que devem ganhar novas unidades no país no futuro.

“É um ponto importante. Muitos dos consumidores começam a jornada de forma mais física, e precisamos ganhar essa confiança”, diz.

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