Implantação do 5G no Brasil enfrenta desafios estruturais

Na visão de executivos setor, expectativas em relação à tecnologia também devem ser modulados no início

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9:00 am - 25 de agosto de 2022

A implementação do 5G tem avançado nas capitais brasileiras. Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), João Pessoa (PB), Porto Alegre (RS), São Paulo (SP), Curitiba (PR), Goiânia (GO) e Salvador (BA) são as 12 capitas que já contam com a nova geração de telefonia móvel. A previsão é que até o final de novembro, todas as capitais tenham o 5G em operação.

Nesta fase inicial, entretanto, o contexto é ambíguo, reforçam executivos do Grupo Prysmian, fornecedor do mercado de telecom. De um lado, é um momento oportuno para fornecedores de soluções em telecom; por outro, vai exigir um esforço coletivo entre governo, empresas e sociedade civil na superação de enormes desafios de tecnologia, infraestrutura e até políticos para acelerar e democratizar o acesso ao 5G.

Abaixo, Marcelo Andrade, vice-presidente de telecomunicações do Grupo Prysmian para América Latina, e Cleber Pettinelli, Head da Unidade de Negócios de Telecomunicações da Prysmian, comentam os principais desafios e oportunidades para o 5G nesta fase de implantação no país.

10x mais fibras

Para implantar a versão standalone, chamada de 5G ‘puro’, estima-se que serão necessárias 10 vezes mais cabos ópticos do que a tecnologia 4G necessitou. Além disso, pelas características da nova rede, ela será totalmente independente das atuais.

Soluções híbridas

Se mais antenas serão necessárias para viabilizar o 5G nas próximas décadas, isso significa maior demanda de energia elétrica. É preciso levar, em paralelo à rede de dados, todo o suporte de alimentação elétrica às antenas aonde elas estiverem, o que demandará um enorme investimento de pesquisa & desenvolvimento em soluções híbridas.

Mais fibras ópticas em diâmetros de cabos cada vez menores

A densificação é uma necessidade diante dos desafios impostos pelo 5G standalone. Com uma rede totalmente nova, será preciso compartilhar os dutos atuais ou instalar novos e menores em espaços já abarrotados, sobretudo nas grandes metrópoles. A solução é investir em Pesquisa & Desenvolvimento de cabos ópticos com o maior número possível fibras no menor diâmetro, além de também pesquisar e testar fibras cada vez menores e mais eficientes.

Gargalos de infraestrutura e até mesmo legislativos

Instalar todas as micro antenas que serão minimamente necessárias para espalhar a nova tecnologia para todas as regiões das cidades é por si só um grande desafio. Todas as cidades, sem exceção, precisarão aprovar projetos de Lei específicos para regular essa instalação, estabelecendo as regras, locais e outros parâmetros, bem como a outorga paga às prefeituras para liberar o uso.

“A aprovação está sujeita ao termômetro político de cada cidade, depende de uma consonância de ideias e valores entre os poderes executivos e legislativos, o que nem sempre acontece, além do risco de judicialização, pois estamos falando de uma tecnologia totalmente nova, com pouquíssima ou nenhuma jurisprudência no Brasil, no que tange às redes em si e as suas implicações e desdobramentos”, analisa Andrade.

5G será inconstante no início

Embora já esteja em operação em algumas das capitas brasileiras, isso não significa que a nova tecnologia já está disponível em 100% da área das cidades contempladas.

Em São Paulo, por exemplo, a Anatel estima neste início uma cobertura de 25% da área urbana. O órgão regulador anunciou que as vencedoras do leilão iniciaram a operação paulistana com cerca de 1.400 antenas, quase o triplo do mínimo estipulado (462) pelo edital, mas que correspondem a apenas 20% do total de células da cidade – a expectativa das autoridades é chegar a 30% do total (4.592) até o final do ano.

“Além do alcance da faixa 3,5 GHz ser naturalmente menor, o que estamos vivenciando agora, na prática, é uma experiência quase híbrida entre as gerações da tecnologia simulando as velocidades 5G por meio das antenas 4G, uma operação conhecida como Compartilhamento Dinâmico de Espectro ou DSS, na sigla em inglês”, explica Andrade. “Enquanto superamos os gargalos de infraestrutura para viabilizar redes e antenas exclusivas para o 5G ‘puro’, quem já pode desfrutar da rede enfrentará disponibilidade de sinal e velocidades inconstantes, além de uma latência maior”, completa.

Desigualdades ficarão latentes

A adoção da tecnologia pelas diferentes classes sociais e também a oferta dela nas regiões mais remotas do país pode reforçar ainda mais as desigualdades sociais. Isso porque, para desfrutar da nova rede, é preciso trocar o atual aparelho para dispositivos compatíveis com a tecnologia, e no caso dos smartphones, também pode ser preciso trocar o chip para modelos compatíveis em termos de frequência e protocolos de rede. Além disso, será preciso contratar planos específicos para consumir um volume maior de dados.

“Neste momento, tudo que é relacionado ao 5G será mais caro, o que não chega a ser uma surpresa, já que estamos falando de uma rede totalmente nova e segregada das demais, o que demanda investimentos volumosos das empresas envolvidas. Infelizmente, não deve ser algo acessível e popular até a metade da próxima década, mas o quanto antes conseguirmos levar a nova rede para ampliar e melhorar o atendimento dos serviços públicos, sobretudo em segurança pública, educação e saúde, estaremos mais próximos de cumprir o papel social do 5G”, analisa Cleber Pettinelli.

 

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