Games crescem em importância no Brasil para grandes fabricantes de tecnologia

Grandes players marcaram presença na Brasil Game Show de 2022. Estratégia combina avanços tecnológicos com identificação de marcas com comunidade

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5:59 pm - 13 de outubro de 2022
gamer, games, pc gamer Foto: Shutterstock

Para quem está habituado a frequentar eventos de tecnologia, caminhar pela Brasil Game Show – maior feira do setor de games da América Latina, que terminou na quarta (12) em São Paulo – é uma experiência no mínimo peculiar. Saem gravatas e saltos e entram legiões de jovens fantasiados de personagens de jogos e animações, transitando por entre estandes bem mais barulhentos que os das feiras B2B. Mas uma coisa é semelhante: a presença de grandes players da tecnologia da informação.

Se os maiores estandes eram os da Sony (dona da marca Playstation) e da Nintendo (e seu Switch), ambos fabricantes de consoles – a Microsoft não levou o Xbox dessa vez –, muito provavelmente em termos de número se destacaram os fabricantes de periféricos (mouses, teclados, fones de ouvido etc). Também apostaram em grandes espaços fabricantes de notebooks e desktops, que na BGS fizeram questão de destacar marcas específicas para o público gamer.

O objetivo, segundo Luiz Andre Sakuma, diretor de produtos de consumo da Lenovo, é criar proximidade com um público tão apaixonado pelo próprio hobbie que estar dentro da “comunidade” é quase mandatório. A estratégia para isso passa por oferecer equipamentos com a performance necessária para rodar os jogos mais modernos, criar uma identidade de marca específica – no caso da Lenovo o branding é a Legion -, e patrocinar campeonatos de games (os e-sports) e seus principais influenciadores.

“Não dá para vir aqui só vender PC”, diz Sakuma em conversa com o IT Forum durante a BGS. A Lenovo comercializa o portfólio Legion no Brasil desde 2018, data em que a empresa “trabalha de forma mais consistente” com o segmento por aqui. O percentual de faturamento obtido com os gamers brasileiros tem crescido substancialmente nos últimos anos, e não só para a Lenovo.

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Estande da Lenovo na BGS. Marca gamer Legion em destaque. Foto: Marcelo Gimenes Vieira, IT Forum

“Se o mercado de computadores experimentou uma queda depois da pandemia, o gamer segue crescendo dois dígitos”, disse, o que não significa pouca coisa considerando que são equipamentos de ticket médio mais elevado. A última geração do notebook Legion 5i, anunciado durante a BGS de 2022 e fabricado em Indaiatuba (SP), é comercializado com preço sugerido de R$ 10,5 mil.

O notebook tem configurações robustas para gamers, mas também alcança, segundo o diretor, profissionais do segmento corporativo, principalmente quem precisa rodar aplicações gráficas exigentes, como engenheiros, arquitetos e radiologistas, entre outros. Mas também outros profissionais que, por serem gamers, “sabem do potencial dessas máquinas também para trabalhos do dia a dia”.

É um cenário bastante semelhante ao identificado pela Dell – que na BGS montou um estande imenso para as marcas Alienware e Dell Gaming, também específicas para produtos desse segmento. No espaço, além de campeonatos de jogos como Fortnite, Free Fire e Valorant, reunindo público e influenciadores do Team Liquid (um dos mais populares dos e-sports no Brasil), estavam expostos, claro, equipamentos.

Um deles o primeiro desktop da marca Alienware totalmente fabricado no Brasil, o Aurora. Apesar da marca gamer existir nos EUA desde 1996, só no ano passado o primeiro notebook de altíssima performance foi fabricado e vendido por aqui. Desde então o portfólio tem aumentado, contando desde então com periféricos, monitores e, agora, um desktop.

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Estande da Dell: Dell Gaming e Alienware são as marcas da empresa para o segmento. Foto: Marcelo Gimenes Vieira, IT Forum

“Vamos comercializar o desktop [Aurora] a partir do início de 2023 [no Brasil]. É o produto que o Team Liquid usa para jogar, mas também [é voltado para] quem precisa de alta performance. Empresas de design e desenvolvimento de produtos usam”, assegurou João Duarte, diretor de marketing para o varejo da Dell, também durante a BGS.

Segundo ele, um cliente do segmento de design gráfico já reservou 50 dessas máquinas para uso profissional. “Gaming no Brasil deixou de ser um mercado que tem a ver só com diversão”, reflete. “A gente fica impressionado com o quanto as empresas compram produtos da linha gamer. É muito grande.”

Segundo ele, as linhas que dividem o mercado B2B do B2C se tornaram mais tênues, principalmente durante e após a pandemia de COVID-19. “Se o CEO da uma empresa também é gamer, ele quer um produto que permita trabalhar em alta performance, além de um design que identifique quem ele é”, ressalta Duarte.

Componentes em alta

Se fabricantes de computadores como Dell e Lenovo (entre tantas outras que estavam na BGS) tem encontrado espaço entre gamers ofertando máquinas prontas, outro filão bastante tradicional nesse público é o dos que preferem montar suas próprias máquinas. O mercado de componentes para PC, que já foi grande em diversos segmentos no Brasil, continua sendo forte entre os jogadores.

Não por acaso os dois maiores fabricantes de CPUs do mundo tinham estandes próprios na BGS, ou seja, Intel e AMD.

“É um segmento que vem crescendo demais. Exponencialmente. O de computadores no geral cresceu na pandemia, mas muito menos. O gamer cresceu muito mais, dois dígitos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro”, ressaltou Giovana Gaiolli, gerente de marketing para o Brasil da Intel no segmento de consumo e gaming. Ela diz que o mercado se tornou tão grande que a Intel não trata mais os gamers como nicho. “Todo mundo é gamer”, disse.

Segundo ela, o segmento de componentes para a Intel é muito forte no Brasil, e parte da estratégia passa por incentivar parceiros de canal a vender para esse segmento. Parcerias com os principais OEMs – Dell, Lenovo e Acer foram mencionados –, também são determinantes, e a marca tem no Brasil engenheiros e consultores trabalhando com eles na engenharia de produtos voltados para o mercado nacional.

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“Nossa venda é B2B2C, porque a gente vende através dos parceiros. E a gente trabalha muito junto com eles em todas as frentes, não só na visibilidade de marca”, ressalta Giovana. “Temos o cuidado em toda a cadeia.”

A importância do segmento gamer para a Intel é tamanha que a empresa recentemente entrou no mercado de placas gráficas, ou GPUs, desafiando players estabelecidos como Nvidia e a própria AMD. A linha Arc, quando completa, terá produtos tanto para usuários “leves” como os “heavy”, ou seja, os gamers. Segundo a executiva, a linha Intel Arc chegará totalmente ao Brasil concomitantemente ao resto do mundo.

Em setembro, a companhia também anunciou seus processadores Core de 13ª geração, que também tem forte apelo para o público gamer.

A importância do segmento não é menor para a AMD. Os chips gráficos da companhia estão atualmente nos consoles mais tecnologicamente avançados do mercado – o Playstation 5 da Sony e o Xbox Series X da Microsoft. E as CPUs tem crescido em importância em um mercado até pouco tempo atrás dominado pela principal concorrente, a Intel.

“A AMD tem um segmento aqui [no Brasil] totalmente focado no mercado gamer. Nessa feira [a BGS] estamos levando os lançamentos da série 7000, totalmente focada para gamers”, disse Daniela Nunes, gerente de marketing da AMD no Brasil, referindo-se a linha de processadores mais avançada – e recentemente lançada – da marca. “Caiu super bem ter a feira nesse momento. Nossa principal estrela é o lançamento desse produto para desktops.”

A executiva diz que os componentes são “carros-chefes” da AMD no Brasil, com market share significativo tanto entre usuários que compram CPUs como GPUs para montar computadores. Na pandemia, diz, o também cresceram aqueles que preferem máquinas prontas, o que levou a empresa a estreitar relações com os OEMs.

O estande da marca na feira, como tantos outros, também apostou em experimentações e campeonatos. O saldo da BGS, para ela, é positivo principalmente no que diz respeito a “retomar o contato com esse público” e permitir que os jogadores possam “experimentar os nossos lançamentos”.

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Marcelo Gimenes Vieira

Editor do IT Forum. Jornalista com 12 anos de experiência nos setores de TI, telecomunicações e saúde, sempre com um viés de negócios e inovação.

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